Denilson é show e não apenas no apelido. O ex-jogador campeão do mundo em 2002 sempre tem uma resposta para falar de futebol. Não a toa já são 14 anos como comentarista e apresentador na Band. Nem sempre foi assim. Em 1998, quando saiu do São Paulo para o Real Betis, da Espanha, no que foi a maior venda do futebol até 2013, ele viveu em baixa.
A situação é semelhante com o que vivem Endrick, no Real Madrid, e Vitor Roque, no próprio Betis. O futebol vistoso e driblador que apresentou no Brasil não se repetiu nos campos espanhóis. Foi quando o jogador precisou colocar os pés no chão e pensar. O amadurecimento do passado é visto na desenvoltura apresentada no decorrer dos anos.
Sobre seleção, temos jogadores da elite do futebol europeu, os melhores do Brasileirão, o que falta para o time do Brasil deslanchar?
Eu acho que funcionar um pouco mais coletivamente. Por ironia, não funcionou. Eu acho que o Neymar é o nosso principal jogador, continua sendo nosso principal jogador. Era muito criticado quando jogava na seleção. Na ausência, a gente sentia falta do Neymar. Então é meio contraditório.
Esse momento sem Neymar, eu achei que coletivamente a seleção ia dar uma resposta positiva, até para a volta do Neymar ser mais tranquila para ele, individualmente falando, apesar de eu achar que ele lida bem com a pressão. Eu esperava que o coletivo funcionasse. Mas tem uma série de situações que a gente pode falar. Primeiro: a tomada de decisão da CBF em demorar e escolher um treinador. Ancelotti, depois escolhe o Diniz, o Ramon (Menezes) vem antes.
A escolha para um amistoso contra Marrocos, que tinha então uma p*** Copa, os caras estavam voando, e aí vai jogar contra Marrocos logo no primeiro jogo? Os caras engoliram a seleção brasileira com o Ramon. Nada contra o Ramón, mas enfim era o treinador da seleção sub-20.
Então, teve várias escolhas que o Brasil perdeu tempo. Porque o cenário ideal é o Tite anuncia a sua saída, o Ednaldo tinha que chamar o Tite falar assim: 'Me dá três nomes' ou 'Me dá quatro nomes'. Você trabalha em cima desses quatro nomes. Teve negativa do primeiro, mas você tem quatro nomes para trabalhar.
Quem do atual grupo é capaz de fazer isso?
Eu fui de uma geração que tinha referências dentro da seleção brasileira. Essa seleção de agora não tem referência. Então, na transição dessa geração, faltou. A gente tinha o Neymar e não tinha mais ninguém. Eu tinha Roberto Carlos, Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo.
Essa geração você tem o Bruno Guimarães, que é jovem. Você tem o Paquetá, que é jovem... É a geração que a gente tem aqui, que está jogando. E são esses jogadores que vão disputar a Copa do Mundo. Essa seleção que está sendo convocada agora, já há um bom tempo. Marquinhos, Militão, Danilo, o Bruno Guimarães, Raphinha, Vini Júnior, o Neymar, que vai voltar... São esses jogadores.
É a nossa seleção, aceitem que essa vai ser a nossa seleção na próxima Copa do Mundo. São esses jogadores, independentemente do treinador que vai estar lá no cargo. O Dorival, para mim, errou quando ele fala que pode cobrar que 2026 ele esteja na final.
Foi um grande erro do Dorival, porque qualquer leigo sabe que não dá para você controlar resultado. Você não controla resultado. Muitas vezes, o time pior ganha do melhor. Isso é fato. Eu acho que o Dorival errou. Ele trouxe uma responsabilidade desnecessária para ele num começo de trabalho.
Então às vezes o jogador precisa assumir essa responsabilidade. Dorival fez um sistema, mas não está dando certo? Chama o Dorival: 'Acho que não tá dando certo. Acho que não dá para o Rodrygo jogar como meia, o Rodrygo tem que jogar pelos lados'; 'Ah, mas o Raphinha tá jogando pelos lados e está jogando bem'. O Rodrygo espera. Você tem que mostrar a personalidade. Vamos fazer com que o coletivo funcione, porque individualmente a gente tem bons jogadores. Eu acho que se coletivamente funcionar, essa individualidade vai ficar mais aflorada.
O Vini Jr. pode ser esse líder na seleção brasileira?
O Raphinha tem um pouquinho mais de protagonismo, mostra mais personalidade que o Vini na seleção brasileira. Olha que ironia. O Vini Junior teve uma grande chance de se tornar referência da seleção brasileira, protagonista, na ausência do Neymar. E ele não se tornou. Isso aqui não é uma crítica, é uma realidade. Ele não se tornou referência da seleção brasileira na ausência do nosso principal jogador, que é o Neymar.
Eu canso de ouvir isso sobre o que ele faz no Real Madrid. Ele faz chover no Real Madrid, aí ele vem para seleção brasileira, parece que ele fica acuado, parece que ele sente o peso da amarelinha. E pesa né, pai? A danada pesa.
Então, ele teve essa chance de ser protagonista, ele não aproveitou. A hora que o Neymar voltar, pode ser que essa divisão de atenção faça com que ele jogue um pouquinho mais solto, mais leve, porque (antes) todo foco ficou nele. Acho que ele sentiu um pouco desse golpe.
Mas volta a falar: coletivamente quando a seleção começar a jogar bem, a gente vai ver o Luiz Henrique, do Botafogo, que está jogando para caramba, ficar mais aflorado. A gente vai ver Raphinha, Rodrygo, o próprio Vini... aí você tem Savinho, que de repente pode entrar no segundo tempo. A gente tem muitas opções do meio de campo para a frente. Eu acho que o principal desafio do Dorival é fazer com que coletivamente esse time comece a funcionar.
Será que o Vini Jr. não terá mais chances de assumir esse protagonismo?
Na hora em que o Neymar sair, o Vini vai ter pelo menos mais duas copas, no mínimo. E aí ele vai ter essa segunda chance de ser o protagonista, muito mais amadurecido. E essa questão de amadurecimento conta para o jogador. Apesar de eu achar que jogador de futebol amadurece muito rápido por causa dessa pressão que é resultado. Então, o cara acaba amadurecendo muito rápido. Ele (Vini) já é um cara mais do que bem-sucedido com a camisa do Real Madrid, mas para ele se tornar um jogador completo, (precisa) se destacar com a seleção brasileira e ser protagonista.