O descumprimento dos protocolos sanitários por parte dos jogadores de futebol em meio à pandemia do novo coronavírus está sendo monitorado pelos torcedores. Casos de quebra de quarentena, como o de Ramires, ex-Palmeiras, e Sassá, ex-Coritiba, mostram que esse tipo de comportamento não será tolerado. Ambos foram flagrados em festas e a pressão dos adeptos de seus respectivos clubes influenciou para que os dois tivessem contratos rompidos.
Segundo Rodrigo Monteiro, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF), a covid-19 fez o comportamento vigilante das torcidas aumentar. "Essa atitude não é necessariamente nova. Jogadores com histórico e características de serem mais 'festeiros' já passavam por esse tipo de cobrança no passado. A novidade é que com a pandemia esses atletas podem prejudicar o elenco a partir do contágio da covid-19", explica Monteiro.
No Atlético-MG, os jogadores Marrony e Dylan Borrero foram flagrados em uma balada por membros de uma torcida organizada do clube, a Galoucura. Os atletas foram repreendidos no local e a torcida afirmou que continuará monitorando aqueles que descumprirem o protocolo sanitário do clube. Eles estavam sem máscara.
"Em plena pandemia, estes irresponsáveis estão em balada, com sério risco de se contaminar pelo covid e ainda passar para os demais jogadores", escreveu a torcida, em nota, e ainda acrescentou: "Que irresponsabilidade! A fiscalização continua, independentemente de qual jogador for, nós iremos cobrar. Nós não aceitaremos isso jamais! Nenhum jogador é maior que a instituição Clube Atlético Mineiro".
No último domingo, o zagueiro Airton, do Avaí, foi agredido com socos por um torcedor no meio da rua, em Florianópolis. Ele estava acompanhado do volante Ralf, ex-Corinthians, e dos atacantes Jonathan e Ronaldo. A confusão aconteceu na saída de uma casa noturna da cidade. O clube repudiou a agressão, mas afastou os atletas por tempo indeterminado por terem descumprido os protocolos sanitários.
"Essa postura dos torcedores é parecida com as de policiais. Eles imaginam estar prestando proteção ao clube, policiando a conduta desses jogadores. Isso tem a ver com uma lógica mecânica, que entende que a presença do jogador em um espaço de lazer compromete seu desempenho dentro de campo. Agora, esse pensamento se intensificou, pois a conduta de exposição também compromete os outros atletas do time em decorrência do risco da disseminação do vírus", avalia Monteiro.
COMO FICAM OS ATLETAS
De acordo com Rodrigo Falcão, psicólogo e mestre em Psicologia do Esporte, esse tipo de cobrança pode trazer consequências negativas para os jogadores. "A intimidação fora dos gramados com certeza afeta o psicológico do jogador. Eu, no caso, prefiro chamar esse tipo de intimidação de coerção. A cobrança que acontece fora do ambiente de trabalho e passa para a esfera pessoal, pública, trará consequências negativas", afirma. Isso pode afetar o seu rendimento.
O psicólogo explica que a ameaça é carregada para dentro de campo pelo jogador. "Dificilmente, o atleta consegue se blindar, porque quando a ameaça é pessoal, é mais difícil criar mecanismos de blindagem. Ele vai ficar ansioso, agitado e estressado, o que acarreta na perda de foco e concentração. De alguma maneira, seu desempenho será afetado", avalia Falcão.
Clubes inteiros tiveram surtos de covid-19, comprometendo a escalação da maioria dos jogadores. Já ocorreu com Flamengo, Goiás, Santos, Palmeiras, Atlético-MG. Além do risco da doença, que chega para cada um de forma diferente, embora os sintomas sejam os mesmos, os torcedores não querem ver seus times enfraquecidos porque um desses atletas quebrou a quarentena. Os campeonatos não vão parar até fevereiro e a necessidade de se proteger é grande. Clubes que estão seguindo os protocolos de saúde, estão tendo menos problemas para escalar seus jogadores em relação à covid.