Entenda tudo sobre o escândalo de corrupção na Fifa

27 mai 2015 - 11h44
(atualizado às 15h11)

Sete dirigentes da Fifa foram presos na Suíça na manhã desta quarta-feira após serem acusados por suspeitas de corrupção envolvendo um montante de até US$ 150 milhões.

Horas depois, autoridades suíças anunciaram que fariam sua própria investigação sobre o processo de escolha dos países-sede das Copas de 2018 (Catar) e 2022 (Rússia). A polícia suíça entrou na sede da Fifa, em Zurique, e apreenderam provas eletrônicas.

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Operação prende Marin e mais seis executivos da Fifa
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Por que isso é importante?

A Fifa é o órgão responsável pelo futebol mundial. Nos últimos anos, sofreu acusações de corrupção, particularmente no processo de escolha da sede do Mundial de 2022 - o vencedor foi o Catar.

Em dezembro de 2014, a Fifa decidiu não divulgar sua própria investigação de corrupção - que, segundo a entidade, disse que o processo de escolha foi isento. O autor do relatório, o americano Michael Garcia, renunciou ao cargo.

A Copa do Mundo gera bilhões de dólares em receita. As prisões e a investigação lançam dúvida sobre a transparência e honestidade do processo de escolha nos últimos torneios.

Como o Brasil aparece na investigação?

Três brasileiros estão implicados no esquema de corrupção, de acordo com o departamento de Justiça dos EUA.

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Um dele é o ex-presidente da CBF José Maria Marin - a nota do Departamento de Justiça não detalha as suspeitas contra ele.

José Maria Marin foi preso nesta quarta-feira, na Suíça
José Maria Marin foi preso nesta quarta-feira, na Suíça
Foto: Mauro Pimentel / Terra

A Justiça americana diz que José Hawilla, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, confessou os crimes. A Traffic é dona de direitos de transmissão, patrocínio e promoção de eventos esportivos e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil.

O terceiro brasileiro investigado pelo FBI é José Lazaro Margulies, proprietário das empresas Valente Corp. e Somerton Ltd., ambas ligadas a transmissões esportivas.

A nota divulgada pela justiça norte-americana afirma ainda que investiga suposto pagamento e recebimento de suborno em um patrocínio "da CBF para uma grande empresa de roupas esportivas dos EUA".

Ex-presidente da CBF, Marin foi preso nesta quarta-feira na Suíça

A Justiça americana também cita a Copa do Brasil, organizada pela CBF, como uma das competições em que poderia ter havido corrupção na negociação de direitos de transmissão e marketing.

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A Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, não é citada especificamente no documento.

J. Hawilla se envolveu no escândalo de corrupção na Fifa
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press

Como funcionaria o esquema?

A denúncia afirma que, de 1991 até o momento, autoridades da Fifa se envolveram em vários crimes, incluindo fraude, subornos e lavagem de dinheiro. A Justiça afirma que duas gerações de dirigentes usaram suas posições para fazer parcerias com executivos de marketing esportivo que impediam outros de ter acesso a contratos e mantinham os negócios para eles por meio do pagamento de propinas.

A maior parte dos esquemas, de acordo com o departamento de Justiça, envolve recebimento de propina de executivos de marketing para comercialização de direitos de mídia e marketing de diversas competições esportivas - entre eles Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.

Quem são os acusados?

Foram presas figuras-chave do futebol na América Latina, América do Norte e Caribe.

Além dos brasileiros implicados, foi preso o presidente da Concacaf, Jeffrey Webb, visto com um provável sucessor do presidente da entidade, Joseph Blatter.

Dirigentes envolvidos no escândalo da Fifa (da esquerda para a direita, de cima para baixo): Rafael Esquivel, Nicolas Leoz, Jeffrey Webb, Jack Warner, Eduardo Li, Eugenio Figueredo e José Maria Marin
Foto: AFP

Uma outra figura-chave é Charles "Chuck" Blazer, ex-representante da Fifa nos EUA, que aparentemente se tornou informante do FBI. Ele confessou ser culpado e já devolveu US$ 1,9 milhão.

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Lista dos 14 acusados na investigação de corrupção na Fifa
Alejandro Burzaco 50 anos argentino executivo
Aaron Davidson  44 anos americano executivo
Rafael Esquivel 68 anos venezuelano presidente da Federação Venezuelana de Futebol
Eugenio Figueredo 83 anos uruguaio ex-presidente da Conmebol
Hugo Jinkis 70 anos argentino executivo
Mariano Jinkis 40 anos argentino executivo
Nicolás Leoz 86 anos paraguaio ex-presidente da Conmebol
Eduardo Li 56 anos costarriquenho presidente da Federação de Futebol da Costa Rica
José Margulies 75 anos brasileiro executivo
José Maria Marin 83 anos brasileiro ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol
Julio Rocha 64 anos nicaraguense presidente da Federação Nicaraguense de Futebol
Costas Takkas 58 anos caimanês braço-direito do presidente da Conmebol
Jack Warner 72 anos trintino ex-presidente da Concacaf
Jeffrey Web 50 anos caimanês vice-presidente da Fifa

Blatter foi preso?

Não. O presidente da Fifa - e homem mais poderoso do futebol mundial - não está entre os citados nos indiciamentos dos Estados Unidos. Mas a justiça americana afirma que os envolvidos estavam a serviço da Fifa - da qual ele é presidente. Até agora, ele não se pronunciou. Blatter tem grandes chances de ser reeleito à presidência da entidade na sexta-feira.

Recentemente, ele foi forçado a negar rumores de que estaria evitando viajar para os EUA porque temia ser preso.

Joseph Blatter não foi preso
Foto: Arnd Wiegmann / Reuters

Por que eles foram presos?

O FBI está investigando a Fifa há três anos. As investigações tiveram início por causa do processo de escolha dos países sedes das Copas de 2018 e 2022 (Rússia e Catar), mas foi expandida para analisar os acordos da Fifa nos últimos 20 anos.

A acusação do Departamento de Justiça dos EUA diz que a corrupção era planejada nos EUA, mesmo quando era efetuada em outros locais. O uso de bancos americanos para transferir dinheiro é uma peça-chave da investigação.

Por que a Suíça?

É a sede da Fifa - o registro da entidade como instituição de caridade faz com que pague taxas pequenas.

A Suíça é conhecida como um país onde empresas pouco transparentes são bem-vindas, principalmente em relação a taxas. Mas seu acordo de extradição com os EUA é claro: pessoas envolvidas em crimes podem ser enviadas aos EUA.

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Seda da Fifa é na Suíça
Foto: Ruben Sprich / Reuters

Aparentemente, autoridades americanas aproveitaram o que o congresso anual da Fifa fez com que todos se reunissem em um país que não colocaria obstáculos à extradição.

Os suíços também parecem estar indo atrás da Fifa, com três investigações em curso - incluindo uma anunciada horas após as prisões, sobre a escolha das cidades-sede das próximas Copas.

Quanto dinheiro está envolvido?

Muito, supostamente.

A denúncia dos EUA alega a corrupção envolveu US$ 150 milhões, e isso não inclui outras transações pelo mundo. Um relatório anterior sobre corrupção no Caribe, que vazou, afirma que propinas de US$ 40 mil foram pagas a autoridades em envelopes cheios de dinheiro.

Quase toda a renda da Fifa vem da Copa do Mundo, o evento esportivo mais lucrativo do mundo - superando as Olimpíadas. A Copa do ano passado custou ao Brasil cerca de US$ 4 bilhões, e a Fifa lucrou mais de US$ 2 bilhões.

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Blatter está tranquilo, diz porta-voz da Fifa após prisões
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O custo das duas próximas Copas deve ser superior: a Copa do Catar deve custar mais que US$ 6 bilhões.

Só concorrer a sediar a Copa já tem um custo enorme: a federação inglesa gastou 21 milhões de libras para concorrer a Copa de 2018.

As Copas da Rússia e do Catar serão feitas em outros países?

Isso é improvável, mas não impossível.

A denúncia dos EUA aborda casos de corrupção no passado - a Copa de 2010 na África do Sul, por exemplo, é mencionada - mas não futuros. As investigações da Suíça devem ser mais frutíferas em relação a isso, mas seria preciso ter provas contundentes para fazer a eleição outra vez.

Mudar a Copa da Rússia seria difícil. Poucos países têm estádios, infraestrutura e dinheiro para sediar o evento com um prazo tão curto. A melhor opção seria a Alemanha, que sediou a Copa de 2006.

Copa do Mundo de 2022, inicialmente, está mantida para o Catar
Foto: Laurence Griffiths / Getty Images

O Catar é bem mais vulnerável e foi inundado com denúncias e alegações de corrupção desde que foi escolhido como sede. Mas, mesmo depois de ter visto vários escândalos de corrupção, uma mudança inédita de um torneio de verão para inverno e um escândalo sobre mortes de trabalhadores migrantes, há chances de que eles ainda sediem a competição de futebol mais importante do mundo.

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Mas, segundo a procuradora americana Kelly T. Currie, a investigação não vai parar por aí.

"Após décadas, segundo a denúncia, de corrupção descarada, o futebol internacional organizado precisa de um novo começo - uma nova chance para suas instituições fazerem uma vigilância honesta e apoiarem um esporte amado pelo mundo. Deixe-me ser clara: essa denúncia não é o último capítulo da nossa investigação", afirmou.

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