Secretário-geral da Fifa desde 2007 e braço direito de Joseph Blatter no comando da organização, Jérôme Valcke pode estar envolvido no escândalo de corrupção investigado pelos Estados Unidos que abalou a entidade na última semana. De acordo com o jornal New York Times, que antecipou na última quarta as prisões realizadas na Suíça, oficiais do país americano dizem que Valcke é o até então não identificado "membro da Fifa de alto escalão" envolvido no caso.
Valcke, que ganhou fama no Brasil pelas várias visitas para checar os estádios "padrão Fifa" e pelas críticas feitas na preparação da Copa do Mundo de 2014, teria feito transações de US$ 10 milhões (R$ 31 milhões) em um banco que são as peças centrais do quebra-cabeça que levou à deflagração do esquema de corrupção na entidade que comanda o futebol mundial.
As revelações dos oficiais americanos, que falaram sob condição de anonimato, colocam o governo americano mais perto do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Procuradores dizem que o dinheiro da transação com a autorização de Valcke em 2008 foi transferido para outro membro da Fifa, no caso o detido Jack Warner. O pagamento seria a chave que levou ao indiciamento de Warner na última semana, acusado de receber propina para votar pela África do Sul na eleição para a Copa de 2010.
O indiciamento propriamente não significa que o funcionário de alto escalão da Fifa sabia o motivo do uso do dinheiro. Ao contrário de diversos outros dirigentes da entidade, Valcke ainda não é acusado como cúmplice no escândalo de corrupção. Chefe da organização da Copa da África e atualmente presidente da federação local, Danny Jordaan alega que o montante não foi uma propina, mas um pagamento legítimo para o desenvolvimento do futebol no Caribe.
De acordo com a acusação, o acordo com Warner e outros eleitores para o recebimento de propina ocorreu em 2004, ano da eleição, mas o país africano não conseguiu pagar os eleitores nos anos seguintes. Sendo assim, a própria Fifa teria pago Warner com dinheiro que seria destinado para apoiar a Copa do Mundo na África.
Em um breve comunicado, Valcke afirmou que não autorizou o pagamento, que não tinha autorização para fazer isso e que não foi notificado de nenhuma acusação. A defesa do secretário-geral, contudo, não diz diretamente se ele estava envolvido.
Porta-voz da Fifa, Delia Fischer alega que o chefe financeiro à época era Julio Grondona, ex-presidente da Federação Argentina que morreu no ano passado. O argentino seria quem autorizou o pagamento, que para a Fifa foi "executado de acordo com as normas da organização". Uma das normas, contudo, é que o secretário-geral é responsável por manter as contas da entidade e tem o poder para realizar transações.
Anteriormente, Valcke já se envolveu em uma polêmica na Fifa. O francês entrou para a entidade em 2003 como diretor de marketing, mas foi demitido em dezembro de 2006 após um juiz americano considerar que ele e outros membros da Fifa mentiram repetidamente em negociações de patrocínio. Em maio seguinte, Valcke ganhou uma apelação do caso e foi alçado à segunda maior posição dentro da Fifa um mês depois por Blatter.
Nesta segunda-feira, a Fifa afirmou que, por causa do escândalo estourado na última semana, Jérôme Valcke não participará da abertura do Mundial feminino, que será realizada na próxima semana no Canadá, para ficar na sede da entidade.
O escândalo culminou no indiciamento de 14 executivos ligados à Fifa e na prisão de sete membros de alto escalão da entidade na última semana, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Autoridades americanas dizem que mais indiciamentos são esperados.
Fifa nega
Em comunicado divulgado nesta terça-feira, a Fifa esclareceu que "em 2007, como parte da Copa do Mundo de 2010, o governo da África do Sul aprovou um projeto de US$ 10 milhões para apoiar a diáspora africana em países do Caribe como legado do Mundial".
Por parte do governo da África do Sul, e de acordo com a Federação de Futebol deste país (SAFA, sigla em inglês), foi solicitado que a Fifa retivesse os US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador e os utilizasse para financiar o "Programa Legado Diáspora".
"A SAFA instruiu a Fifa que o Programa Legado Diáspora deveria ser administrado e aplicado diretamente pelo presidente da Concacaf, que naquele momento era presidente adjunto do Comitê de Finanças, e era quem deveria atuar como fiduciário dos recursos do programa", acrescentou a Fifa.
A entidade máxima do futebol afirmou também que "os pagamentos foram autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo com o regulamento da Fifa".
"A Fifa não incorreu em nenhum custo como resultado do pedido da África do Sul, pois os fundos pertenciam ao Comitê Organizador. Tanto a Federação da África do Sul como o Comitê Organizador, cumpriram com as formalidades necessárias para a emenda orçamentária", acrescentou a Fifa.
Com informações da Agência EFE