Foto com Pelé fez jornalista viajar na 1ª classe

Uma viagem de trem inesquecível antes de um jogo da Seleção

30 dez 2022 - 10h24

Oldemário Touguinhó trabalhou por décadas no Jornal do Brasil (JB) e no Estado de S. Paulo, o Estadão. Era um repórter-raiz, fuçador, sem hora para dormir ou acordar. Farejava a notícia o tempo todo. Fez carreira brilhante na imprensa esportiva, cobriu 10 Copas do Mundo e cultivou até sua morte, em janeiro de 2003, amizade profunda com Pelé.

Pelé serviu como passaporte para muitos brasileiros mundo afora
Pelé serviu como passaporte para muitos brasileiros mundo afora
Foto: ( Divulgação/Corinthians) / Gazeta Esportiva

Eram compadres, pois Pelé batizara a filha do jornalista. Por causa de tanto envolvimento pessoal, com respeito e admiração mútuos, Oldemário sempre levava em sua maleta fotos impressas e ampliadas – o mundo digital engatinhava - em que surgia abraçado com Pelé, os dois sorrindo, fazendo poses, divertindo-se.

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No final dos anos 60, com Pelé já consagrado pelo bicampeonato mundial da Seleção, Oldemário foi credenciado pelo JB para a cobertura de um jogo do Brasil, um amistoso contra a então Thecolosváquia, naquele país, em que os europeus venceriam por 3 a 2. Dois dias depois da partida, curtindo algumas horas de folga, Oldemário se aventurou numa viagem de trem de Bratislava a Budapeste.

Comprou seu bilhete e, por engano, ocupou uma cabine de primeira classe, com assentos acolchoados, bebidas e petiscos. De repente, os passageiros que pagaram por aquele espaço e conforto se depararam com aquele homem grandalhão à vontade, esparramado no banco corrido, e ali começou um rebuliço danado no trem.

Com rispidez, trataram de expulsá-lo. Gritavam para dizer que ele estava no lugar errado, que era um intruso. O jornalista brasileiro se assustou, não conseguiu identificar o idioma daqueles três senhores, de meia idade, vestidos de terno e gravata, mas acabou entendendo que havia se alojado sem querer numa área vip.

Desculpando-se e temendo que uma daquelas seis mãos sedentas e geladas atingisse seu rosto, Oldemário se levantou e tropeçou. Naquele instante, sua maleta abriu e várias fotos se espalharam pelo chão da cabine.

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Num estalar de dedos, o semblante do trio mudou. Aquele ar sisudo, intimidador mesmo, agora dava vez a olhares fixos e sob efeitos aparentes de uma hipnose. Os três se agacharam e foram mais rápidos que o repórter. Pegaram as fotos e ficaram estáticos diante daquelas imagens. “Pelé! Pelé”, repetiram, já com outro tom de voz, apontando para Oldemário, identificado por eles ao lado do rei.

Essa história foi contada por Oldemário várias vezes em encontros com amigos e o relato chegou a Pelé, então curioso para saber como teria terminado a viagem do amigo até Budapeste. “Fui convidado a permanecer na cabine, cercado de todos os mimos. Mandaram me servir lanches, bebidas, trouxeram-me um travesseiro, e no final tive que autografar uma daquelas fotos e presenteá-los.”

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