O Brasil abre sua participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio na quarta-feira, às 5h da manhã, com a seleção feminina de futebol, que enfrenta a China, no estádio Miyagi. E a grande atração é a técnica sueca Pia Sundhage, que aceitou o convite para comandar a equipe dois anos atrás e agora tem seu maior desafio.
A treinadora bicampeã olímpica vê o Brasil mais competitivo e atuando com muito mais intensidade em comparação a quando chegou. "Vamos fazer tudo que pudermos para ganhar uma medalha", afirmou.
Carismática, Pia costuma pegar seu violão e cantar músicas brasileiras, como Anunciação, de Alceu Valença, entre outras. A vitoriosa comandante da seleção está se sentindo cada vez mais em casa no Brasil. "Mudei para o Rio de mente aberta, não queria perder a oportunidade de aprender algo", disse. Confira a entrevista da técnica ao Estadão.
O que te motivou a aceitar o convite para treinar a seleção feminina do Brasil?
Quando recebi o convite, pensei um pouco e no dia seguinte disse OK. Sabia que era isso que eu queria fazer. Quando se fala em futebol na Suécia, se fala em Brasil. Achei que era o momento e foi a melhor decisão que eu deveria tomar. Muito se fala da Marta, que é uma das mais famosas jogadoras no mundo, mas é muito mais do que isso, o Brasil tem ótimas atletas.
Você quebrou dois tabus, sendo a primeira mulher na seleção feminina, e a primeira técnica estrangeira. Como vê isso?
A CBF tentou fazer algo diferente do que fazia antes, e precisa ter muita coragem para isso. Sou a primeira técnica de outro país, e isso me deixa muito orgulhosa. Estou feliz por esses dois anos e posso sentir que algo está mudando. Eu quero fazer parte dessas mudanças, principalmente na atitude e em como olham para o jogo das mulheres.
O que mudou desde que você assumiu?
Do meu primeiro jogo em comparação com o último, fica evidente que o time é mais competitivo, é melhor e atua com mais intensidade. Claro que não é só o time nacional que precisa ir bem, é necessário ter jogadoras em grandes ligas para que exista uma mudança de atitude.
Muito se falava da dependência da Marta na equipe e hoje parece que o Brasil consegue ter outros destaques. Foi um trabalho que você fez?
Em 2019, na Copa do Mundo, na derrota para a França, a performance da seleção foi boa e o time teve um pouco de azar. Mas acho que a questão é como o jogo é disputado atualmente. São poucas atletas que carregam o time nas costas, ainda mais no futebol disputado hoje. Você precisa de um time e não apenas de uma estrela. Então, é importante encontrar grandes jogadoras e dar apoio a elas. Por isso acho que o Brasil tem um grande futuro, pois tem muitas jovens que precisam de direção.
E o que dá para falar da Formiga, uma veterana de 43 anos que ainda é muito importante?
Ela é importante por duas razões: histórica, pois pode compartilhar várias histórias, mas também pelo jeito que ela atua com solidez no meio de campo. A questão é se pode atuar em todas as partidas. Mas para isso existem outras atletas. Como falei da Marta e agora da Formiga, quero dizer que as duas são fantásticas. É um privilégio estar perto delas, ser técnica delas e ser parte da jornada delas na Olimpíada. Eu realmente estou apreciando isso.
Qual a expectativa para os Jogos de Tóquio?
Os treinamentos foram bons e falamos sobre chegar às quartas de final. Claro que não será fácil, teremos grandes adversários, como a China na estreia, a Holanda que é um dos melhores times do mundo, e a Zâmbia. Se passarmos, vamos para as quartas e qualquer time que chega nesta fase tem condições de vencer. Eu estive nesta situação em algumas oportunidades e sei que é uma diferença muito pequena entre o sucesso e o fracasso. Vamos fazer tudo que pudermos para ganhar uma medalha.
Quais são os principais adversários do Brasil?
Os Estados Unidos, que são os atuais campeões mundiais, e em com apenas uma exceção fizeram ótimas campanhas olímpicas. Se olhar a Copa do Mundo, sete times europeus chegaram nas quartas. Então coloco Suécia, Grã-Bretanha e Holanda com boas chances. E não podemos descartar o Japão, que joga em casa e tem uma equipe que é muito difícil enfrentar.
Como é sua rotina aqui no Brasil? Você imaginava que se adaptaria tão facilmente?
Mudei para o Rio de mente aberta, não queria perder a oportunidade de aprender algo. De futebol e também de cultura. A primeira coisa é que a língua me deixa maluca, mas apesar disso existem pessoas gentis que são diferentes de mim. Minha jornada nesses dois anos tem sido incrível. Aproveito todos os dias e vou continuar assim.
Você está se tornando mais brasileira?
(Risos) Eu realmente adoro as frutas, são muito saborosas, os vegetais também. Eu adoro música, tenho dificuldade de encontrar o ritmo, mas gosto de cantar, é um desafio para mim. É o jeito que eu vivo. É um caminho longo de aprendizado.