Entre os mais de 30 milhões de descendentes de italianos que vivem no País, as famílias do zagueiro Rafael Toloi, do lateral Emerson Palmieri e do volante Jorginho têm razões especiais para torcer pela Azzurra na final da Eurocopa. Os três atletas são brasileiros, mas se naturalizaram italianos e podem ajudar a na conquista do título neste domingo. Os familiares vivem a expectativa do título como se fosse com a seleção brasileira, mas adotam o azul como a cor da torcida. A mãe de Jorginho teme que o filho seja vaiado por enfrentar a Inglaterra, país onde foi campeão da Liga dos Campeões pelo Chelsea.
Eliana Palmieri, mãe do lateral Emerson, até comprou uma bandeira italiana e pretende exibi-la na sacada do apartamento onde mora, na Ponta da Praia, em Santos. "A gente torce pelo time do filho não importa qual seja. Ganhar pela Itália é como ganhar com o Brasil. Foi a escolha que ele fez e ele não se arrepende. Eu acho que ele fez a coisa certa", diz a dona de casa.
Revelado nas categorias de base do Santos, Emerson Palmieri conseguiu a cidadania italiana há seis anos por conta do tataravô materno, Affonso Palmieiri, que imigrou da região de Nápoles. Depois de atuar pelo Palermo e pela Roma, ele foi contratado pelo Chelsea na temporada 2017/2018. Neste ano, o atleta de 26 anos ajudou na conquista da Liga dos Campeões. "É a chance de escrever o nome na história do futebol", orgulha-se o pai, Reginaldo.
O irmão Giovanni Palmieri, que também é jogador e atua no Santo André, depois de passagens pelo Fluminense e Cruzeiro, conta que o lado profissional pesou na decisão da naturalização de Emerson. "Foi uma decisão difícil, mas na seleção italiana, os jogadores mais experientes são valorizados e podem atuar por muito tempo. Basta olhar a zaga com Chiellini e Bonucci", diz o lateral. Aos 32 anos, o irmão mais velho também projeta atuar no futebol europeu. Ele deve conseguir a dupla cidadania neste ano.
A ligação entre os dois Palmieri é tão forte que cada um deles fez uma tatuagem com o rosto do irmão. "Eu procuro fortalecer a parte mental dele. Eu venho falando que o autor do gol do título costuma ser alguém que a gente menos espera", prevê Giovanni.Na casa de Jorginho, os conselhos futebolísticos sempre foram dados pela mãe. Aos 57 anos, Maria Tereza Freitas acompanha o auge da carreira do filho com o sentimento de dever cumprido. Apaixonada por futebol, foi ela quem ensinou os primeiros fundamentos ao volante do Chelsea. "Quando o Jorginho tinha 4 anos, eu o levava para a praia para ensinar alguns fundamentos, como domínio e controle de bola pelo alto", diz. Com modéstia, ela acredita que o talento já nasceu dentro do filho. "Eu só ajudei um pouco".
Quando mais jovem, Maria jogou futebol amador pelas equipes catarinenses de Capivari, Laguna, Garopaba e Imbituba, onde mora atualmente. Ela conta que, desde cedo, Jorginho gostava de acompanhá-la nos jogos, mas não para torcer exatamente pela arquibancada. "Ele queria ficar atrás do gol pegando a bola", relembra aos risos.
Hoje, ela destaca a leitura de jogo e a inteligência de Jorginho e elege o técnico italiano Maurizio Sarri, que treinou o brasileiro no Napoli, como um dos responsáveis pelo crescimento do jogo do filho. "O Jorginho rouba muita bola. Está sempre no lugar certo, na hora certa. Você pode perceber que geralmente ele passa de primeira, é difícil ele segurar uma bola", diz a ex-jogadora.
Mesmo assim, o filho não está isento de ainda levar uns puxões de orelha da mãe, principalmente quando o volante se atreve a fazer passes longos. "Às vezes ele dá alguns passes arriscados, que eu fico apreensiva. Acho que ele não devia fazer aquilo. Eu falo pra ele: 'Jorginho, meu filho…'. Ele fala: "Calma, mãe. Calma", conta com bom humor.
Maria mostra preocupação com o fato de o filho enfrentar os ingleses em Wembley. Depois de também conquistar a Liga dos Campeões com o Chelsea e se tornar um dos protagonistas do Campeonato Inglês, Jorginho será adversário. Ela teme que o filho seja vaiado em campo. "Provavelmente no estádio vão ter mais ingleses que italianos", afirma.