Teixeira exclusivo: J. Hawilla mente e age por vingança

24 jul 2015 - 08h54
(atualizado em 26/7/2015 às 14h58)

Trinta quilos mais magro em decorrência de problemas renais, hoje sob controle, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira está convicto de que é um dos alvos da operação deflagrada recentemente pelo FBI e polícia suíça contra a corrupção no futebol. O motivo? Uma suposta "deslealdade" de um dos seus mais antigos parceiros no mundo do esporte: José Hawilla, dono da Traffic do Brasil.

Teixeira é acusado de ter recebido propina em acordos comerciais para a exploração da Copa do Brasil. A denúncia partiu de J. Hawilla e atinge também o atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, e um de seus vices, José Maria Marin, preso na Suíça desde 27 de maio. Em entrevista exclusiva ao Terra concedida no Leblon, zona sul do Rio, Teixeira desqualificou as acusações.

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"O dono da Traffic do Brasil mentiu deslavadamente (para a justiça americana). Disse, por exemplo, que eu fui aos Estados Unidos negociar um novo contrato para a Copa do Brasil em 2011. Basta consultar meu passaporte, para ver se existe essa viagem. Ele disse que eu recebi propina por essa transação. Mentira. Cadê o dinheiro? Foi depositado em que banco, em que agência? Ele age por pura vingança", afirmou Ricardo Teixeira.

J. Hawilla denunciou seu ex-aliado Ricardo Teixeira
J. Hawilla denunciou seu ex-aliado Ricardo Teixeira
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press

De acordo com o ex-presidente da CBF, J. Hawilla passou a atirar para todos os lados por não ter se conformado com a exclusão de sua empresa, a maior de marketing esportivo do País, nos contratos da Copa América, Copa do Brasil e parte das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo. A ruptura teria começado em fevereiro de 2011, quando o comitê executivo da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) começou a questionar os valores pagos pela Traffic para comercializar a Copa América - naquele ano, cerca de US$ 18 milhões por edição do evento.

"Com medo de perder aquela competição, a Traffic então ofereceu US$ 40 milhões. Isso despertou ainda mais a ira do comitê. O sentimento foi o seguinte: se a empresa propõe subir de 18 para 40 é porque está lucrando em exorbitância e estamos todos sendo enganados por muito tempo. Então todos ali decidiram não mais fechar contrato com a Traffic", revelou Teixeira. Naquele ano, a Conmebol substituiu a Traffic pela uruguaia Datisa e por valores bem mais atraentes pela Copa América: US$ 80 milhões. A Datisa é formada pelas argentinas Full Play, Torneos y Competencias e, curiosamente, pela própria Traffic.

Teixeira é acusado de ter recebido propina para a exploração da Copa do Brasil
Foto: Lars Baron / Getty Images

J. Hawilla, de 71 anos, é ex-jornalista e fez um acordo de colaboração com a Justiça americana para as investigações de corrupção na Fifa. Ele confessou os crimes de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro, obstrução da justiça e concordou com a devolução (ou pagamento de multas) de US$ 151 milhões (R$ 473 milhões).

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J. Hawilla é o dono da Traffic e teve seu nome envolvido em escândalo na Fifa
Foto: Fernando Pilatos / Gazeta Press

O advogado de Hawilla, José Luis Oliveira Lima, se manifestou nesta quinta-feira sobre a entrevista de Teixeira ao Terra. “J. Hawilla afirma que as declarações do Sr. Ricardo Teixeira não correspondem à verdade. Hawilla, porém, apoia as investigações em curso nos Estados Unidos e, por conta de tal processo, está impedido de se manifestar publicamente neste momento", declarou, por meio de sua assessoria de imprensa.

Teixeira e Hawilla sempre mantiveram relação muito próxima. O empresário explorava os direitos comerciais da Copa do Brasil desde 1990, um ano após o dirigente assumir a presidência da CBF. Foi Hawilla também quem intermediou o primeiro grande contrato milionário da confederação com um patrocinador, a Nike, em 1996 – um feito que Teixeira gostava de ressaltar citando o nome do então aliado.

Por uma parceria de dez anos, a empresa americana se dispôs a pagar US$ 160 milhões à entidade. Em 1998, a Conmebol criou a Copa Mercosul, também "gerida" por Hawilla. Para que houvesse times brasileiros na competição, o que a tornaria mais rentável, houve consentimento da CBF.

Ricardo Teixeira foi presidente da CBF de 1989 a 2012
Foto: AP

Um salto no tempo

Em 2011, Ricardo Teixeira e o então presidente da Associação de Futebol da Argentina (AFA), Julio Grondona, que já morreu, eram os únicos mandatários das dez principais entidades nacionais do futebol da América do Sul que não dispunham de assento no comitê executivo da Conmebol. Marco Polo Del Nero representava o Brasil, e Eduardo Deluca, o país do sul do continente. No final daquele ano, a Conmebol obteve informações de que a Traffic teve um faturamento próximo a US$ 90 milhões pelos direitos da Copa América disputada meses antes, na Argentina.

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Após o rompimento, a empresa processou a confederação sul-americana e todas as dez federações nacionais, incluindo a CBF, por quebra de contrato. Como resposta, contou Teixeira, a Conmebol emitiu uma nota em 24 de novembro de 2011 considerando J. Hawilla "persona non grata" e tornando pública sua decisão de não mais se associar à Traffic do Brasil.

Grondona (terno cinza), Nicolás Leoz (centro) e Ricardo Teixeira em 2010
Foto: Luis Vera / Getty Images

Sem a Copa América, Hawilla viu também ruir outra fonte bem lucrativa: a Copa do Brasil. No rastro da Conmebol, Teixeira resolveu tomar a mesma medida. Consultou o diretor jurídico da CBF, Carlos Eugenio Lopes, sobre a viabilidade de desfazer o contrato com a Traffic. Mas o parecer dele, datado de 1 de dezembro de 2011, foi favorável à manutenção do vínculo até o fim (2015).

“O Carlos Eugenio, resumindo aqui, disse que eu não tinha um argumento referente à Copa do Brasil para romper com a Traffic. Que eu estava baseado num problema relacionado à Copa América. Pois bem, mantivemos em vigor o acordo até 2015, mas em 8 de dezembro de 2011 eu firmei contrato com a outra empresa nacional de referência no marketing esportivo, a Klefer (para explorar comercialmente a Copa do Brasil de 2015 a 2022)", disse Teixeira, que explica: "a proposta era vantajosa para a CBF, com US$ 18,5 milhões a mais do que o contrato da Traffic".

Hawilla confessou crimes de extorsão, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"Do parecer jurídico até a assinatura do contrato com a Klefer se passaram apenas sete dias, um prazo exíguo, e ele (Hawilla) ainda disse que eu negociei isso nos Estados Unidos. Como, se o visto americano no meu passaporte foi concedido apenas em 13 de dezembro de 2011? Além disso, eu deixei a CBF em março de 2012. Não tem cabimento dizer que houve um acerto para eu receber uma comissão especial de um negócio que só começaria em 2015. De onde ele (J. Hawilla) tirou isso?”, acrescentou.

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A Klefer, cujo dono é o ex-radialista e ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, e a Traffic formalizaram parceria em agosto de 2012 para dividir os direitos da Copa do Brasil de 2013 a 2022. 

 
 
 
Fonte: Silvio Alves Barsetti
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