Leitura e família: como os técnicos lidam com a quarentena

Treinadores têm feito planejamento de como elencos ficarão após paralisação por causa do coronavírus

13 abr 2020 - 04h40
(atualizado às 09h44)

O futebol parou pelo novo coronavírus, mas os treinadores continuam a trabalhar. Agora distantes do gramado e afastados do convívio com os jogadores, os técnicos brasileiros mantêm a rotina de atividades na quarentena concentrados no celular. Mensagens e videoconferência fazem parte das rotinas de reuniões com colegas da comissão e membros da diretoria. O objetivo é planejar o que será feito nos elencos após o calendário ser retomado.

O Estado conversou com treinadores e pessoas próximas a eles para entender como tem sido a rotina de trabalho neste período. Todos revelam uma apreensão com o momento, principalmente pela dificuldade de prever um prazo para o retorno do trabalho. Acostumados com uma rotina cheia de compromissos, vários treinadores buscam usar o tempo livre para ler.

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Fernando Diniz está lendo livros para passar tempo durante quarentena
Fernando Diniz está lendo livros para passar tempo durante quarentena
Foto: Divulgação / São Paulo FC / Estadão Conteúdo

O técnico Fernando Diniz, do São Paulo, tem recorrido aos livros para ajudar a passar o tempo. O perfil do clube no Twitter até chegou a divulgar uma foto do treinador sentado no sofá enquanto se dedicava à leitura. Apesar do futebol brasileiro estar em férias coletivas até 20 de abril, os treinadores continuam a pensar no futebol e a se preocupar com as equipes.

No Palmeiras, o técnico Vanderlei Luxemburgo segue em contato frequente com auxiliares e outros membros da comissão técnica. Reuniões por videoconferência e mensagens por WhatsApp são bem comuns. Todos também têm analisado vídeos de jogos anteriores e conversado sobre possíveis mudanças no time para quando o calendário for retomado.

Quando é terminada a hora de pensar na equipe, alguns treinadores querem ficar junto dos filhos. A rotina do futebol, com viagens e concentrações, muitas vezes impede esse momento. Por isso, Thiago Carpini, do Guarani, não desgruda de Hugo, de um ano, e Caio, de sete. "A vida do profissional de futebol é muito corrida com jogos, concentrações, treinos e viagens. Temos que abdicar de algumas coisas. Por isso, neste período, além de estudar bastante venho aproveitando ao máximo os meus filhos e minha família. Apesar desse momento de incerteza que vivemos, procuro tirar as coisas boas", disse.

DEPOIMENTOS

Daniel Paulista, técnico do Sport: 'A grande dificuldade é não saber prazos'

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Foto: Divulgação / Sport / Estadão Conteúdo

Eu tenho tido tempo para descansar e trabalhar, visando quem sabe o retorno próximo. No meu caso, como estou há pouco tempo na equipe (chegou no meio de fevereiro), analiso os jogos que fizemos, as características dos atletas e penso nas peças que tenho e na possibilidade de melhorar o padrão de jogo.

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Saí do Recife e vim para Ribeirão Preto, onde estou com a família. Tenho contato diário com meus auxiliares por WhatsApp e telefone. Trabalhamos juntos. Cada um observa uma área da equipe e faz um avaliação sobre o que achou. Tenho conversado com profissionais da parte administrativa para dar todo o suporte. Os atletas têm um protocolo de treinamento para executarem e manter a condição física.

A grande dificuldade é que ninguém passou por uma situação como essa. Geralmente você tem paralisação de férias em dezembro, mas sabe que vai ter uma preparação para começar o Estadual. Agora é inédito. Não sabemos nem o prazo de paralisação nem o retorno. Na cabeça dos jogadores também passa essa indefinição. Quando o elenco está de férias em condições normais, eles fazem atividades físicas em parques, academias e jogam nas peladas de fim de ano. Agora é uma situação atípica. A dificuldade será grande para todos.

Marcelo Cabo, técnico do CRB: 'Sinto falta até da pressão da torcida'

Estou em Maceió e tenho feito reunião por vídeo com os integrantes da comissão técnica para elaborar um cronograma de intertemporada. Meu filho, Gabriel, é meu auxiliar e mora ao meu lado, vem sempre na minha casa para conversarmos. Precisamos criar uma rotina nova: três vezes por semanas temos reunião da comissão técnica. Tenho passado mais tempo com meu neto, o Bernardo.

Nas conversas a gente procura elaborar o planejamento para os atletas, ver nos jogos, avaliar possíveis adversários. Também estou focado na leitura e nos estudos. Meu filho edita alguns vídeos das nossas partidas e mandamos para os jogadores um material com conceitos de jogo, saída de bola, posicionamento. É uma forma deles continuarem focados e possam ver a qualquer momento.

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Todos nós estamos sentindo falta da rotina. Eu brinco que faz falta o cheiro da grama. E até a pressão da torcida, da adrenalina do jogo e das vaias. No clube eu costumo chegar cedo, faço reuniões, preparo treinos e vou embora à noite. Agora, minha rotina está bem diferente.

Tudo neste momento é uma grande interrogação. Não tem nada para retorno e não tem data para reinício das competições. Está tudo muito vago. O que nos resta é tentar se preparar.

Ricardo Catalá, técnico do Mirassol: 'Preciso me preparar para vários cenários'

A suspensão do Campeonato Paulista me obriga a se preparar para vários cenários. Um deles é se o torneio acabar e não for retomado. Nesse sentido, tenho observado jogadores para montagem de um possível elenco para a Série D, que seria o próximo passo. Temos olhado esse perfil de reforço, porque é um campeonato com características diferentes, com estilo de jogo mais brigado do que o Estadual.

O outro cenário que preciso estudar durante a quarentena é se o Campeonato Paulista voltar. Teremos duas rodadas e a possibilidade de jogar contra o São Paulo em uma das quartas de final. Nossa análise de desempenho tem trabalhado em cima desses próximos jogos possíveis, para termos informações e dissecar aniversários.

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Como alguns jogadores nossos têm contratos perto de terminar neste mês e não sabemos ainda o que pode ser feito, preciso olhar um mapa muito grande de opções por posição para buscar reforços. Daqui 20 dias, um reforço pretendido por nós pode não vir mais ou porque ficou muito caro ou por ter arrumado outro clube. A situação está bem difícil

Estamos trabalhando em Mirassol, mas só por telefone e WhatsApp, para evitar aglomerações. Cada membro da comissão técnica tem trabalhado em uma frente. Nós nos falamos todos os dias tanto para uma preparação para o Campeonato Paulista, como também no cenário para ter para jogar só a Série D.

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