New York Times critica Bolsonaro por aceitar Copa América com covid em alta: 'Insanidade completa'

Jornal dos Estados Unidos aborda pontos como número de casos e vítimas da doença no Brasil neste momento e ainda traz declarações de cientistas e do senador Omar Aziz, à frente da CPI da covid

3 jun 2021 - 14h14

A decisão em sediar a edição 2021 da Copa América está trazendo repercussões negativas para o Brasil no cenário mundial. O jornal americano The New York Times, um dos mais influentes do mundo, por exemplo, dedicou uma publicação exclusivamente para criticar a decisão do presidente Jair Bolsonaro em abraçar o torneio de seleções no momento em que o País vive um dos piores cenários da pandemia de covid-19, em alta em vários Estados brasileiros e com as UTIs dos hospitais com ocupação de mais de 80%, inclusive nos locais credenciados paras as partidas: Mato Grosso, Goiás, Brasília, Cuiabá e Rio.

Logo de início no texto do NYT, é possível identificar qual será o tom da reportagem. O título diz muito: "Insanidade completa: Infestado pelo vírus, Brasil concorda em sediar competição de futebol". Logo abaixo, na linha fina da matéria, o veículo traz a comparação informativa que justifica o tom duro da publicação. Nela diz que: "O Brasil perdeu 207 mil vidas nos últimos três meses sozinho, mas o presidente Jair Bolsonaro decidiu receber a Copa América argumentando que 'Nós temos de viver'".

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O jornal explica que Colômbia e Argentina eram então as duas primeiras nações que receberiam a competição sul-americana, mas que acabaram por desistir da ideia. A justificativa foi de que é impossível atender a demanda e receber de forma apropriada centenas de jogadores e comissões técnicas enquanto a pandemia de coronavírus está tomando conta do continente. A Argentina tem batido recordes de pessoas contaminadas, na casa de 35 mil por dia. O país tem 45 milhões de habitantes.

A Conmebol, então, ficou em uma situação complicada. Até que Alejandro Domínguez, presidente da entidade que organiza a Copa América, anunciou na segunda-feira que o torneio seria transferido para o Brasil, e ainda agradeceu Bolsonaro por 'salvar o dia'. Na internet, o ato foi bastante criticado em razão da demora das autoridades brasileiras em adquirir vacinas para a covid-19, mas por ser ágil em responder a um pedido para sediar um torneio esportivo.

O The New York Times segue a sua publicação dizendo que o Brasil falhou em controlar a pandemia, fornecendo dados alarmantes sobre a situação, citando inclusive a CPI da Covid, em andamento no DF. Em sequência, traz uma declaração de Miguel Nicolelis, neurocientista da Universidade de Duke, que demonstra como o País está mal visto mundialmente.

"Isto é uma insanidade completa", analisou o cientista. "É como se Roma estivesse em chamas e Nero quisesse uma partida de futebol no Coliseu para celebrar", comparou. Outra declaração usada pelo veículo norte-americano é do senador Omar Aziz. "É ilógico receber um evento internacional. Não temos nada a celebrar."

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Diversas publicações foram então feitas a respeito da imprudência em se receber a Copa América. O Estadão mostrou que os Estados que vão receber partida do torneio têm 85% de ocupação dos leitos de UTI com pacientes infectados pelo coronavírus. Em contrapartida, na madrugada desta quinta-feira, foi divulgado pela Conmebol o calendário oficial dos jogos da Copa América. Ao todo, quatro cidades e cinco estádios receberão os duelos ao longo do torneio de seleções, que terá Messi entre os atletas. A seleção brasileira fará a abertura da competição e terá sua estreia em Brasília, no Estádio Mané Garrincha, no dia 13 de junho, às 18h, contra a seleção da Venezuela.

O NYT ouviu personagens importantes do Brasil na luta contra a pandemia, como o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. "O túmulo das Américas está chegando muito mais rápido do que as vacinas ou o bom senso", disse o ex-ministro da Saúde, que foi demitido em abril de 2020 depois de discutir com Bolsonaro sobre medidas para conter o vírus. "É um gol contra a vida. Só o vírus está comemorando".

O anúncio da Copa foi feito dois dias depois que dezenas de milhares de manifestantes antigovernamentais tomaram as ruas em cidades de todo o Brasil. O torneio oferece aos líderes da oposição uma nova linha de ataque contra Bolsonaro, cuja popularidade sofreu um golpe nos últimos meses, à medida que a raiva sobre o estado da pandemia e a economia se aprofundaram, diz a reportagem do jornal dos EUA. Ao explicar sua decisão de sediar o campeonato de futebol, Bolsonaro não sinalizou nenhuma preocupação com o risco político que isso representa pouco mais de um ano antes de ele se candidatar à reeleição. Mais de 465.000 pessoas morreram no Brasil com o vírus, o maior número de vítimas do mundo, atrás apenas dos EUA.

"Desde o início da pandemia, tenho dito: lamento as mortes, mas temos de viver", disse Bolsonaro na terça-feira. "Este é um assunto resolvido", foi a palavra do presidente do Brasil sobre seu acerto com CBF e Conmebol para trazer o futebol ao País. Luiz Eduardo Ramos, membro do gabinete que atua como chefe-de-gabinete de Bolsonaro, argumentou na segunda-feira que o torneio não se transformaria em um evento superdimensionado. Ele disse que o governo havia solicitado que cada uma das dez equipes participantes limitasse seu séquito a 65 pessoas, todas vacinadas. "Não haverá espectadores", disse ele.

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