Pelé convivia com dois sentimentos ao longo da vida. Por um lado, dizia ser um escolhido por Deus em razão de sua trajetória pessoal e profissional. Considerava-se agraciado, protagonista de um acontecimento fabuloso, de um milagre. Mas, intimamente, também reclamava do peso da fama.
No livro Pelé, os 10 corações do rei, lançado pela Ediouro em 2004, o jornalista e escritor José Castello relatou uma confidência que lhe foi feita pelo maior jogador de futebol de todos os tempos, durante uma longa entrevista que serviu como suporte para a elaboração da obra.
“Ele me falou que “ser Pelé” era algo mágico, extraordinário, mas que havia um porém; que era o de ele não ter a liberdade de ir a uma padaria, a um café, a um shopping não só no Brasil, como no mundo todo; que sentia um peso por isso”, contou Castello ao Terra.
Para tentar driblar o assédio, Pelé passou a usar bigode artificial e uma boina que encobria o seu penteado clássico. Com essa estratégia, obteve algum êxito, pois o disfarce não foi suficiente para que o reconhecessem em algumas situações.
“O Pelé por décadas continua sendo o grande embaixador do Brasil mundo afora. Ele funciona como passaporte em fronteiras mais remotas. Um de seus principais atributos foi a coragem, o que o tornou herói. Não é um cidadão do Brasil. É mais, muito mais do que isso. É um rei, encarnou essa figura como nenhum outro no País.”