Antes mesmo dos portões serem abertos no estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro, para o velório de Pelé nesta segunda-feira, 2, a fila já reunia centenas de pessoas que viram o ex-jogador em ação, e até quem não teve a mesma sorte, mas todos com algo em comum: a profunda admiração pelo rei do futebol.
Idosos, famílias inteiras e até crianças estavam ansiosos e emocionados na fila para prestar suas últimas homenagens a Pelé. O velório foi marcado para iniciar às 10 horas, e irá até às 10 horas da manhã de terça-feira, 3, quando o corpo seguirá para o sepultamento, em Santos (SP).
Por volta das 9 horas desta manhã, a fila já contornava o estádio, e chegava até a Avenida Bernardino de Campos, o Canal 2.
Severino Borges dos Santos, de 64 anos, conta que viu Pelé jogar ao vivo, no Maracanã, e ficou muito comovido com a morte do rei. "Sou nascido na década em que o homem se consagrou na Vila. Fiz questão de ver ele jogar bola no Maracanã, ao lado do Garrincha, foi um clássico. Igual a ele não vai nascer outro, nunca no mundo. Posso durar 200 anos e não vou ver um igual a ele".
Severino é morador de Guarujá (SP), e conta que, em 1997, chegou a encontrar Pelé, que tinha casa no mesmo bairro, na Praia de Pernambuco. "Nós moramos próximo dele, e de manhã sempre o via correndo ou fazendo caminhada. Eu só falei com ele uma vez, em 1997, no final de ano, quando vimos ele de carro. Eu falei 'olha quem está ali. É o rei da bola'", contou.
José Martins Rossetto, de Maringá, passava o ano novo em Praia Grande, na Baixada Santista, quando soube da morte de Pelé e chegou em Santos para o velório. "A gente iria embora hoje, mas tive que adiar a volta para não perder a oportunidade", disse.
"Com 7 anos de idade, meu tio me dava dinheiro para eu comprar figurinhas, e através do meu tio eu preenchi o álbum inteirinho, só ficou faltando o Pelé. Meu tio, santista, ficou sabendo que em Londrina tinha uma pessoa com a figurinha do Pelé, e ele foi até lá e comprou. Então nós ganhamos uma TV. Sou santista desde aquela época. Em 1965, a gente morava em Cianorte, e o Santos foi jogar em Maringá, foi a primeira vez que vi o Pelé em vida jogando", relembrou o torcedor do Santos.
Frederico Toledo, de 50 anos, foi ao velório acompanhado do filho, Lourenço, de 9 anos. Os dois são moradores de Santos, e madrugaram na fila para se despedir de Pelé. "A gente chegou aqui 4 horas da manhã. Eu tive a oportunidade, o privilégio, de conhecê-lo pessoalmente, ter uma camisa autografada por ele. Ele teve muito carinho com a gente na ocasião. A gente está se despedindo de um cidadão do mundo. O Pelé não é só do Santos. É muito emocionante, porque não vai haver outro Pelé", disse sem conter as lágrimas.
"É até bonito de ver o meu filho, de 9 anos, que não teve oportunidade de vê-lo jogar, mas foi pesquisar, conhece a história dele, sabe até mais detalhes do que eu, e insistiu pra gente estar aqui agora", completou emocionado.
Dormiram na fila
Alguns fãs de Pelé chegaram a dormir na fila do velório, ao redor da Vila Belmiro, para garantir que seriam os primeiros a se despedir do rei. Sérgio Antolini viajou 8 horas, de Monte Azul Paulista (SP) até a Vila Belmiro, só para prestar suas homenagens ao ídolo. A única vez em que esteve no estádio foi em 1980, e a oportunidade de retornar em um momento histórico também o comoveu.
"Eu vim só para isso, e parece que nem cansado eu estou, de tanta emoção. Cheguei aqui às 18 horas de domingo, fiquei sem dormir, fiquei aqui no chão, mas estar aqui transmite uma energia positiva, estar aqui convivendo com o pessoal na fila. Não sei como vai ser minha reação na hora que eu entrar lá dentro. Sou santista fanático, nunca vi um jogo do Pelé, só no final da carreira, mas o que ele fez para a gente, para todo o mundo, mesmo quem não é santista, é impagável o que ele fez. É um pequeno sacrifício que a gente está fazendo para retribuir as várias alegrias que ele nos deu", disse.
A paulistana Andréia da Silva Leite, de 31 anos, levou a família toda para o velório de Pelé. Junto do marido, torcedor fanático, e das filhas, Mirella, de 11 anos, e Melinda, de apenas um ano, ela esteve na fila durante toda a madrugada. "É um marco na história. Chegamos 2h30 da manhã e estamos aqui desde então. O coração está em êxtase, porque minhas filhas vão poder contar essa história, não puderam ver ele jogar, mas vieram aqui prestigiar de alguma maneira, fazer parte de um pouco da história dele", contou.
*Com colaboração de Marcela Ferreira.