A primeira edição dos Jogos Olímpicos (Atenas 1896) foi realizada apenas com atletas do sexo masculino. Eles somavam 311 participantes. A presença das mulheres só ocorreu quatro anos depois, nos Jogos Olímpicos de Paris em 1900, quando elas representaram 2,2% do total de atletas: eram 975 homens e apenas 22 mulheres.
Paris volta a testemunhar um feito inédito nesta edição, em que veremos 5.250 homens e 5.250 mulheres nas competições. Essa é uma conquista coletiva, construída no decorrer das 46.789 participações femininas* em Jogos Olímpicos, desde 1900 até 2020.
A trajetória da inclusão feminina nas Olimpíadas é fruto de avanços gradativos e ainda há barreiras a serem superadas para que a equidade de gênero seja alcançada, algo que vai além do número equivalente de participantes. Mas o equilíbrio nas vagas destinadas a homens e mulheres é uma conquista a ser valorizada.
Comemorar esse feito inédito é reconhecer o papel fundamental de cada mulher que superou desafios e barreiras para disputar uma medalha. São atletas que ampliaram as possibilidades para outras tantas que viriam depois e que colocaram em prática todos os valores olímpicos que consagram os jogos: amizade, compreensão mútua, igualdade, solidariedade e fair play.
Para celebrar essa grande conquista, a Vivo está lançando, neste Dia Internacional das Mulheres, a campanha #JáEraTempo. O objetivo é dar visibilidade e apoiar a luta feminina por mais espaço nas diferentes modalidades esportivas.
Mais do que celebrar a paridade em número de participantes nesta edição dos Jogos Olímpicos, a campanha reflete o compromisso da Vivo com a inclusão feminina na sociedade. A companhia é signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU) e investe em programas de desenvolvimento de lideranças femininas.
Hoje, as mulheres são 44,8% da força de trabalho e 37,7% das lideranças executivas da Vivo. Mas o objetivo é ir além e, assim como nos Jogos Olímpicos, bater novos recordes em busca da igualdade de gênero.
Quebrando a desigualdade desde os Jogos Olímpicos Antigos
Os Jogos Olímpicos de Atenas, de 1896, marcam o início da era moderna das Olimpíadas. Desde então, busca-se manter a regularidade de realização a cada quatro anos, seguindo uma tradição instituída pela Grécia Antiga.
Ao longo de 12 séculos (entre 776 A.C. e 393 D.C.), os Jogos Olímpicos ocorreram a cada quatro anos na Grécia Antiga, tendo sido marcados pela discriminação de gênero, entre outras formas de desigualdade. Somente homens gregos livres eram autorizados a participar e a maioria dos atletas olímpicos era composta por soldados. As mulheres nem sequer podiam comparecer ao evento, muito menos competir.
A proibição, no entanto, não foi suficiente para impedir uma mulher de conquistar a vitória nos Jogos Olímpicos sem comprometer o fair play, já que ela não violou nenhuma regra. Nas corridas de carruagem, as normas estabeleciam que a modalidade teria como vencedores os proprietários das carruagens, e não os cavaleiros – e qualquer pessoa podia ter uma carruagem.
Kyniska (ou Cinisca), filha de um rei espartano, aproveitou-se dessa lacuna e cedeu a melhor de suas carruagens para que um cavaleiro disputasse e conquistasse a prova. Assim, a princesa se consagrou como campeã, reivindicando coroas de vitória em 396 A.C. e 392 A.C.
Modalidades: pelo direito de participar dos mesmos esportes
Antes de atingir a igualdade de gênero no número de atletas, as mulheres já tinham alcançado o equilíbrio na participação em diferentes modalidades olímpicas.
A conquista também reflete avanços nos espaços de poder, com o aumento progressivo da participação de mulheres em esferas decisivas, como o Comitê Olímpico Mundial, que só incluiu integrantes femininas a partir dos anos 1980.
Início da trajetória feminina (1900)
As mulheres fizeram sua primeira aparição nos Jogos Olímpicos de Paris em 1900, competindo em duas das 13 modalidades esportivas daquela edição. As atletas tiveram permissão apenas para participar dos jogos de golfe e tênis.
Inclusão gradual
Com o passar do tempo, mais esportes foram incluídos para as mulheres. Apenas em 1928, nos Jogos de Amsterdã, é que as mulheres puderam participar de provas de atletismo, consagrado como o principal esporte olímpico.
Esportes coletivos
A expansão de modalidades continuou. O vôlei foi o primeiro esporte coletivo que as mulheres tiveram direito de disputar em Jogos Olímpicos, a partir de 1964 (Tóquio). O basquete feminino só iria estrear nas Olimpíadas de Montreal, em 1976.
Espaço ampliado
Alguns dos esportes compreendidos como “masculinos” só passaram a fazer parte do programa olímpico feminino a partir dos anos 1980, como o futebol feminino, disputado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1986. O judô feminino também estreou nessa mesma edição.
Todas as modalidades
Em 2012, durante os Jogos Olímpicos de Londres, as atletas femininas conseguiram participar de todas as modalidades pela primeira vez na história. Essa edição também entrou para a história como a primeira em que as mulheres estavam presentes em todas as delegações.
O legado das grandes conquistas femininas em Jogos Olímpicos
Para as atletas femininas, participar dos Jogos Olímpicos sem sofrer discriminação em função do gênero ainda é um objetivo a ser alcançado em sua plenitude.
No decorrer do tempo, sucessivas gerações de atletas têm atuado para transpor as mais diversas barreiras impostas às mulheres, desde a origem dos jogos olímpicos, na Grécia Antiga, quando não eram aceitas nesse universo. As coisas começaram a mudar já na era moderna, mas a passos lentos.
Paris 1900: a largada feminina
Vinte e duas mulheres inauguraram a participação feminina nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900. Aquelas seriam as primeiras atletas do sexo feminino admitidas nas olimpíadas, derrubando uma limitação que perpetuou por séculos, desde a antiguidade. Apesar do salto que a conquista representava, isso não quer dizer que houve uma recepção amigável à presença feminina.
Representando 2,2% do total de atletas, elas só puderam disputar duas das 13 modalidades esportivas, ficando limitadas ao tênis e ao golfe. Naquela edição, Charlotte Cooper entrou para a história ao se tornar a primeira atleta feminina a ganhar o ouro olímpico em uma prova individual de tênis.
No livro “Os Arquivos das Olimpíadas”, o jornalista esportivo Maurício Cardoso descreve o que foi uma participação tímida e bastante combatida por homens do Comitê Olímpico Internacional (COI), em especial o presidente da entidade à época, Pierre de Coubertin.
Em 1925, quando Coubertin renunciou à presidência do COI, ele chegou a denunciar que a permissão para que as mulheres participassem dos jogos seria uma “traição do ideal olímpico”.
Como registra Cardoso, as restrições e preconceitos de gênero não ficaram no passado e seguem até os dias atuais. Independentemente dessas bravatas, depois de 1900, as mulheres nunca mais ficaram de fora dos jogos.
Maria Lenk: a pioneira brasileira nas Olimpíadas
A primeira atleta brasileira a marcar presença nos Jogos Olímpicos foi Maria Lenk, em Los Angeles (1932). Naquele ano, a delegação do Brasil era composta por cerca de 60 membros e, entre eles, havia apenas uma mulher. Era Maria Lenk, uma jovem nadadora de 17 anos.
Foi naquele mesmo ano que as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, que estava limitado apenas às que tivessem aval do marido ou para viúvas e solteiras com renda própria. A participação de Maria Lenk nos Jogos Olímpicos se deu em um contexto de restrições femininas e serviu para abrir caminhos. Na edição seguinte, nos Jogos Olímpicos de Berlim (1936), a delegação brasileira levou seis atletas do sexo feminino.
Aída dos Santos aproxima as mulheres do pódio
O primeiro desempenho de destaque de uma atleta brasileira nas Olimpíadas aconteceu em 1964, nos Jogos de Tóquio. A única brasileira da delegação do Brasil, naquela ocasião, foi Aída dos Santos, atleta negra de 27 anos. Ela, que vinha do Morro do Arroz, em Niterói (RJ), figurava como a única mulher negra entre 11 atletas do mundo todo que disputariam a final do salto em altura para mulheres.
Ao final dos saltos, Aída se consagrava como a quarta melhor saltadora daqueles jogos, alcançando o melhor desempenho feminino em uma olimpíada até então. De acordo com apuração de Cardoso, apesar da emoção e da conquista, a passagem da atleta pelos jogos daquela edição também foi marcada pelo sentimento de solidão – ela estava sempre só e, nas ocasiões em que precisou de apoio, contou com a solidariedade olímpica de participantes de outras delegações.
Medalhas femininas para o Brasil
As primeiras medalhas olímpicas conquistadas por atletas brasileiras vieram em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta. E foi memorável. No vôlei feminino de praia, duas duplas se enfrentavam e ambas eram do Brasil. De um lado, Jaqueline Silva e Sandra Pires levaram a medalha de ouro e, do outro, Adriana Samuel e Mônica Rodrigues, encerraram a partida com a prata.
Na mesma edição olímpica, mas em outra quadra, Hortência e Paula garantiram a primeira conquista do basquete feminino em um Jogo Olímpico, com a medalha de prata. A vitória coroava a trajetória de duas grandes esportistas do Brasil.
Nova geração de atletas brasileiras
Mais de 90 anos depois que a primeira brasileira participou dos Jogos Olímpicos, o Brasil chega à Olimpíada de Paris 2024 com uma delegação que tem mais mulheres do que homens. Até o momento, considerando as vagas já garantidas serão, pelo menos, 94 atletas femininas e 41 atletas masculinos.
Entre os nomes que se destacam na nova geração de brasileiras, estão a ginasta Rebeca Andrade (já confirmada) e a skatista Rayssa Leal (que ainda depende de pontuação para garantir a vaga). Essas já entraram para a história.
Rebeca foi a primeira brasileira a conquistar duas medalhas numa mesma edição dos Jogos Olímpicos (Tóquio 2021). Rayssa, ou a “fadinha”, foi a atleta brasileira mais jovem a conquistar uma medalha, também nos Jogos de Tóquio, quando tinha apenas 13 anos. Elas também estão inspirando e abrindo oportunidades para que outras garotas possam sonhar com a carreira esportiva.
Para além das competições
A igualdade numérica entre gêneros nos Jogos Olímpicos é uma grande conquista e deve ser um fato marcante nesta que já está sendo considerada a “Olimpíada das mulheres”. Isso não significa que a equidade tenha sido alcançada ou que todas as barreiras estejam eliminadas.
De acordo com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, as comissões técnicas do país contavam com apenas 10% de mulheres entre treinadores e 20% entre chefes de equipes. Buscando ampliar a inclusão das mulheres nessas esferas, a entidade lançou o Programa Mulher do Esporte.
Outras situações demonstram que as condições femininas também exigem um olhar mais empático, que se conecta com os valores de amizade, compreensão mútua, igualdade, solidariedade e fair play. É o caso das atletas que são mães.
Apenas na última edição dos Jogos Olímpicos (Tóquio, 2021), que ocorreu em meio à pandemia e foi repleta de restrições, foi necessário fazer muita pressão para que as atletas lactantes tivessem autorização para levar os filhos junto.
Aspectos que envolvem esferas de liderança e poder, condições compatíveis com as necessidades femininas, direitos de acesso relacionados às questões de gênero e comportamentos sociais ainda fazem parte da luta olímpica das mulheres. Nem todas as barreiras dessa longa maratona foram derrubadas, mas elas já percorreram um longo caminho até aqui. E, claro, não vão parar.
*O número representa as inscrições de participação e pode abranger atletas que competiram em diferentes edições dos Jogos Olímpicos. Para fazer esse levantamento, as principais fontes utilizadas foram o livro “Os arquivos das Olimpíadas”, de Maurício Cardoso (Editora Panda, 2000), e o site Olympics.com (COI).