Os jogadores da seleção brasileira afirmaram na madrugada desta quarta-feira que consideram a realização da Copa América deste ano inadequada, ao mesmo tempo que confirmaram que disputarão o torneio, colocando fim a rumores de um possível boicote da equipe à competição.
Em comunicado divulgado em redes sociais, os atletas disseram estar insatisfeitos com a condução do torneio pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), "fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil", citando razões humanitárias e profissionais, sem citar especificamente a pandemia de Covid-19, que já matou mais de 476 mil pessoas no Brasil.
Os jogadores acrescentaram, porém, que têm uma missão a cumprir com a seleção e que, mesmo sendo contrários à realização do torneio, jamais se negariam a atuar pela equipe brasileira.
"Somos trabalhadores, profissionais do futebol... Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira", escreveram os atletas.
A Copa América está marcada para ocorrer no Brasil entre os dias 13 de junho e 10 de julho. O país aceitou receber o evento após desistências da Colômbia, que enfrenta grandes protestos antigoverno, e da Argentina, que desistiu do torneio por causa da pandemia de Covid-19.
O movimento para que a competição ocorresse no Brasil gerou uma onda de críticas, especialmente devido à crise sanitária representada pelo coronavírus. O país é o segundo com maior número de mortos por Covid-19, atrás somente dos Estados Unidos.
A definição do Brasil como sede ocorreu ainda em momento turbulento no comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cuja comissão de ética afastou Rogério Caboclo do cargo de presidente no último domingo, após o mandatário ser acusado de assédio sexual contra uma funcionária da entidade.
Antes disso, Caboclo havia ajudado a costurar a realização do torneio no país.
"Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização", disseram os jogadores a respeito da Copa América.
No manifesto, eles também buscaram se distanciar de posições políticas, em linha com o que o treinador Tite já havia feito na segunda-feira, quando disse em entrevista coletiva que "técnico de futebol tem que estar alinhado com futebol".
"Em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política", afirmaram os atletas. A posição é tomada após o governo do presidente Jair Bolsonaro ter endossado a realização da Copa América no país.
Em campo, o Brasil venceu o Paraguai fora de casa por 2 x 0 na noite de terça-feira, com gols de Neymar e Lucas Paquetá, e manteve 100% de aproveitamento nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022 após seis partidas.
A seleção brasileira estreia na Copa América no próximo domingo, em Brasília, contra a Venezuela. Além da "Vinotinto", o Brasil também divide o grupo B do torneio com Colômbia, Equador e Peru.
(Edição de Eduardo Simões)