Quem apostou, ganhou!
No fim das contas, Draymond Green não estava tão enganado sobre qual seria o desfecho entre o Dream Team e o selecionado brasileiro, em partida válida pelas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Aliás, zero engano.
O sempre "carismático" ala do Golden State Warriors polemizou ao afirmar que os Estados Unidos venceriam o Brasil por 40 pontos de diferença. Teve até quem achasse ofensivo os comentários do jogador da NBA, mas o que se viu no duelo, de fato, foi um atropelamento que não demandou muita velocidade...
O time brasileiro lutou muito, com alguns bons momentos no jogo, mas foi dominado o tempo todo pelas estrelas da melhor liga de basquete do mundo.
Os Estados Unidos venceram por 122 a 87. Não chegaram aos 40 pontos de diferença, como tinha "profetizado" Green, mas os 35 podem facilmente entrar na margem de erro, ainda mais se levarmos em conta que os EUA nitidamente tiraram o pé do acelerador.
Tamanho domínio foi evidenciado pelo uso com "moderação" das superestrelas LeBron James e Steph Curry.
King James fechou a partida com 12 pontos, nove assistências, três rebotes e três roubos de bola, enquanto o armador do Golden State Warriors contabilizou apenas sente pontos para os norte-americanos.
O maior pontuador da partida, no entanto, estava do outro lado da quadra. O pivô brasileiro Bruno Caboclo anotou 30 pontos, seis rebotes e uma assistência. Para infelicidade do Brasil, faltaram mais Caboclos com a camisa verde e amarela.
Curiosamente, o jogo com o pivô brasileiro demorou a acontecer. Mas cá entre nós, seriam necessários ao menos mais uns dois Brunos para termos um jogo...
Uma pena. Imaginem a frustração do Caboclo...
O Brasil chegou para o confronto como o time com maior aproveitamento da linha dos três pontos dos Jogos Olímpicos, mas se precipitou no início da partida. Faltou à equipe rodar a bola com mais paciência para encontrar os melhores arremessos. Não foram poucas as vezes que o time brasileiro buscou a bola tripla com a marcação encaixada e com os “chutadores” desequilibrados.
Pelo outro lado, os Estados Unidos castigaram o Brasil na transição rápida e, sobretudo, com um LeBron James "garçom" encontrando bons passes para os companheiros. A transição norte-americana após erros brasileiros era, desde o início, o maior temor do técnico Aleksandar Petrovic.
Não de graça.
Tudo que o Brasil não precisava fazer era entrar no ritmo acelerado do adversário. E se a estratégia era gastar o relógio e tirar a velocidade americana, como foi dito pela comissão técnica antes da partida, os atletas em quadra não executaram o plano estabelecido.
Ainda assim, o primeiro quarto terminou com o Dream Team liderando por 33 a 21 - vantagem que ainda mantinha o Brasil na disputa. As bolas triplas brasileiras começaram a cair e a equipe canarinha teve o melhor momento do jogo no segundo quarto, descontando desvantagem de 20 pontos e com Marcelinho Huertas organizando a equipe em quadra.
Não demorou muito e os Estados Unidos logo desgarraram novamente no placar, com o brilho de quem vinha do banco de reservas. Foi uma corrida de 21 a 2 para os norte-americanos e o cenário que muitos esperavam: o Dream Team com um pé na próxima fase das Olimpíadas.
A rotação do banco americano prevaleceu e o ala Anthony Edwards brilhou no segundo tempo com 17 pontos, cinco rebotes e duas assistências. Já o pivô Joel Embiid teve a melhor performance nos Jogos Olímpicos, foi mais envolvido no plano de jogo e terminou a partida com 14 pontos, sete rebotes e uma assistência.
O jogador do Philadelphia 76ers foi perfeito do perímetro[como marcar isso?!] com 100% de aproveitamento na bola tripla, e contribuiu para o jogo de garrafão da equipe, a exemplo de Anthony Davis que somou 13 pontos, oito rebotes, um toco e outros dois roubos de bola.
Além da diferença técnica entre as duas equipes, o que saltou aos olhos foi a disparidade física em quadra. Enquanto o Brasil tentava soluções diferentes com Georginho e Yago, jogadores de mais mobilidade e intensidade defensiva, os norte-americanos apostavam na fisicalidade de James aliado à estatura de Embiid e Anthony Davis.
O Brasil ainda pode olhar para trás e se “orgulhar” por ter vencido o Dream Team no terceiro período. O time brasileiro venceu a parcial por 35 a 31, mas ainda muito distante de provocar qualquer ameaça à vitória iminente americana.
No quarto derradeiro, Steve Kerr, treinador dos Estados Unidos, mandou os reservas à quadra - quinteto que contou com Jayson Tatum; Bam Adebayo; Anthony Davis; Anthony Edwards e Kevin Durant.
O roteiro final foi de um treino de luxo para os comandados de Kerr, que venceram sem nenhuma dificuldade. A partida ainda marcou a despedida do armador brasileiro Marcelinho Huertas que, aos 41 anos, foi ovacionado pelo público presente da Arena Bercy, em Paris.
Green estava certo e o discurso dele, mesmo não sendo dos mais humildes, flerta com a obviedade.
Mas aqui temos que tomar cuidado com as críticas.
O abismo que marca a diferença entre os times talvez nunca seja encurtado por questões que vão muito além do "dentro de quadra", começando pelo processo educacional que aqui, diferentemente de lá, nem sonha em envolver universidades como forma de peneirar talentos e criar, de maneira simultânea, atletas letrados.
A oferta, que é assustadoramente superior nos EUA, ainda conta com uma gestão esportiva centenas de vezes mais profissional do que a nossa.
O que o Brasil fez no Pré-Olímpico e nos Jogos de Paris transcende a realidade esperada quando levamos em conta o que é oferecido por um país que pouco se importa com a riquíssima história da nossa camisa com a bola laranja.
Imagine quando começarem a tratar o nosso jogo com o carinho e respeito merecido...
Talvez um dia, quando e se isso acontecer, Draymond Green não tenha mais como debochar [com fundamento] das nossas limitações.
Parabéns ao time brasileiro pela classificação e pelo honrosa campanha olímpica. Mas só talento, infelizmente, não basta mais no esporte de alto nível atual.
O futebol, na fila há mais de duas décadas, está aí para provar...
O Terra Cestou segue em Paris.