Após recorde pessoal em Paris, Balotelli fala em medalha em LA

4 ago 2024 - 19h10

Paris - José Fernando Ferreira Santana é um dos principais nomes do atletismo brasileiro nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 até aqui. Não sabe quem é? Talvez o conheça por Balotelli, atleta do decatlo, que ficou em 14º lugar no megaevento, com 8.213 pontos, a maior pontuação de sua vida. Depois do grande desempenho realizado no último sábado (03), ele já sonha em fazer história no próximo ciclo para tentar uma medalha em Los Angeles-2028.

"Juro pra você que cheguei aqui com esse pensamento, mas achando muito difícil. Só que depois que eu competi a Olimpíada, sei que pode se sonhar com isso (medalha). Quero trabalhar agora pra brigar por uma medalha. Não que eu não tenha vindo pra brigar, mas quero trabalhar pra brigar. Na próxima Olimpíada, quero estar na cabeça ali, sentindo aquela pressão de 'ah, você pode, você vai conseguir'. Isso é meu próximo objetivo", falou o decatleta.

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Dez disciplinas em dez dias

O decatlo é a prova combinada do atletismo, que reúne dez disciplinas disputadas ao longo de dois dias: 100m, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura, 400m, 110m com barreiras, lançamento de disco, salto com vara, lançamento do dardo e 1500m. Em sua participação em Paris, Balotelli bateu dois recordes pessoais nas provas individuais: nos 100m, quando correu para 10s66, e nos 400m, em que fez 48s78.

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Foto: Wagner Carmo/CBAt / Olimpíada Todo Dia

"Acho que não tem um palco melhor pra você fazer a sua melhor apresentação. Eu imaginei que o Brasil inteiro ia estar assistindo isso. E o tempo inteiro eu pensei, olhando ao redor do estádio, eu vi que tinha muita gente aqui, mas tinha mais gente ainda assistindo lá no Brasil. E entregar o meu melhor hoje seria a realização de todo o trabalho que eu fiz durante esses quatro anos", disse Balotelli, que se sentiu gratificado por ter participado dos Jogos Olímpicos pela primeira vez.

Sonho que era distante

O vencedor do decatlo em Paris-2024 foi o norueguês Markus Rooth, com 8.796 pontos. O alemão Leo Neugebauer foi o segundo colocado com 8.748 pontos, enquanto o granadino Lindon Victor completou o pódio, com 8.711. Com seus 8.213 pontos, Balotelli ficou a menos de 500 pontos de um lugar no pódio. Ele espera se aproximar ainda mais das medalhas nas próximas competições até Paris-2024. A primeira delas já é o Mundial de Tóquio, no ano que vem.

"Acredito que, com um trabalho certo, sendo bem apoiado, eu posso chegar a um nível bem acima do 8.500 pontos. Eu acredito muito. Quando eu comecei, falaram pra mim que eu era um decatleta de 8.600 pontos e eu continuo acreditando nisso", falou Balotelli, que foi apenas o sexto decatleta brasileiro da história a participar dos Jogos Olímpicos, sendo o terceiro a completar as dez provas. O melhor resultado do país veio com Luiz Alberto de Araújo, décimo na Rio-2016.

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Foto: Wagner Carmo/CBAt / Olimpíada Todo Dia

Se hoje Balotelli pode competir com os melhores do mundo e almejar o pódio nas principais competições de atletismo do mundo, até seis anos esse cenário era "impossível" para ele. O pernambucano de Pesquisa, que hoje tem 25 anos, teve uma trajetória longa até se tornar um "superatleta". Ele começou no lançamento de dardo, chegou a treinar em campo de vaquejada e jogou futebol nas categorias de base, onde foi campeão catarinense sub-17 pelo Tubarão. A junção das duas coisas o ajudou a chegar no decatlo.

"Eu era zagueiro, só que eu gostava de correr. Quando abria a lateral pra mim, eu ia embora. O treinador ficava maluco. E daí quando eu comecei no dardo eu já gostava de correr, comecei a entrar em revezamento e desafiava os meninos. Em um festival, um treinador me colocou nas provas, acabei saltando bem a altura, corri os 100m e a barreira. Isso impressionou, porque tinha um atleta no estado que já era muito bom, e eu fiz marcas muito próximas dele dentro do decatlo. Na semana seguinte, eu já tinha uma planilha de treinos pra meu entrar no decatlo e eu gostei muito", lembrou Balotelli.

Inspiração

Balotelli começou a ser chamado assim pela aparência com o italiano Mário Balotelli, jogador de futebol. Tal qual o "xará", o decatleta brasileiro tem uma comemoração especial: gosta de mostrar os músculos. O nosso Balotelli o exibe também porque gosta de mostrar uma tatuagem que tem no bíceps do braço direito, que faz referência às suas origens, com Luiz Gonzaga, Lampião e à expressão "Oxe", muito utilizadas no vocabulário nordestino.

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Foto: Wagner Carmo/CBAt / Olimpíada Todo Dia

Balotelli hoje mora em Guarulhos (SP) e também treina na capital paulista, mas carrega consigo suas inspirações que vieram de casa, lá da pequena Pesqueira. "Eu vivi numa casa com três irmãos, minhas duas irmãs e meu irmão. Eu dedico muito isso aqui a ele. Em 2019, ele acabou falecendo em um acidente e pra nossa família isso foi uma coisa muito dura porque nós sofríamos muito durante a nossa infância. A minha mãe era conhecida como uma mulher que sempre passava com uma sacola na rua porque era comida pra gente. O que eu trago das minhas raízes é a perseverança e a luta da minha mãe, da minha família, que a gente vem conseguindo vencer", disse.

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"Converso sempre com ela e nós falamos que essa coisa pra gente nunca é fácil, e eu acho que é por isso que é bom a gente estar realizando as coisas. Acho que é por isso que é gostoso essa sensação de estarmos conquistando tudo. Essa luta toda que eu tive até aqui hoje é o que mais me motiva, eu tenho muita referência, eu sou fã de muita gente, mas eu sou muito fã de mim mesmo. Eu agradeço muito por não desistir, por ter passado por muita coisa e chegar aqui e não desistir. Então, agradeço ao José Fernando, que sou eu, o Balotelli", finalizou.

*Com André Rossi

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