Briga no skate brasileiro fica perto de resolução com criação de nova entidade; entenda

CBSk deve se unir à Confederação de Hóquei e Patinação (CBHP), mas continuará com autonomia para gerir a modalidade que já deu cinco medalhas olímpicas ao Brasil

8 nov 2024 - 17h35
(atualizado às 17h47)

Um imbróglio no esporte brasileiro está perto de ser resolvido. Após atritos, intervenções e uma decisão liminar da Corte Arbitral do Esporte (CAS), a Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk) se aproximou da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) para que, juntas, possam formar uma nova entidade incluindo as três modalidades. A proposta, uma exigência da World Skate, conta com o apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Ministério do Esporte.

A solução começou a ser negociada após a Olimpíada de Paris-2024, finalizada em agosto. A CBSk procurou a CBHP visando uma convivência pacífica sob um novo "guarda-chuva", que uniria as duas entidades, mas respeitando a autonomia de ambas para gerirem suas modalidades. A nova confederação deve se chamar Skate Brasil e deve ter sede em São Paulo, uma vez que tanto a CBSk quanto a CBHP funcionam na capital paulista.

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A solução, já proposta anteriormente pela CBHP, ainda em 2017, atenderia à exigência da World Skate, a federação internacional de skate, que pediu a fusão de todas as modalidades de patins e skate numa mesma confederação. Inicialmente, a demanda gerou críticas por parte da CBSk, que temia perder sua autonomia, além do possível risco de dividir os recursos do COB com a CBHP. Por ser uma confederação de um esporte que consta no programa olímpico, a CBSk recebe mais dinheiro do comitê brasileiro em comparação às confederações que não disputam os Jogos Olímpicos, caso da CBHP.

Pelo acordo que vem sendo costurado nas últimas semanas, a nova entidade respeitaria a divisão de recursos e a autonomia das modalidades. "Independentemente de quem atuará como representante dentro da organização e assembleias da WS, o controle e a gestão da disciplina de skateboarding e dos orçamentos correspondentes devem permanecer com a CBSK. Isso é crucial para servir adequadamente ao nosso esporte, nossos atletas e a participação do Brasil no próximo Ciclo Olímpico. A transferência da gestão das disciplinas de skateboarding para outra entidade sem qualquer envolvimento prévio ativo no skateboarding colocaria em questão o significativo desenvolvimento deste esporte alcançado em nosso país, e isso sem razão", diz ofício do COB assinado pelo presidente Paulo Wanderley.

O documento foi enviado ao presidente da World Skate no dia 28 de outubro, pouco mais de dois meses de o Brasil faturar duas medalhas olímpicas nos Jogos de Paris-2024. Rayssa Leal levou o bronze no Street enquanto Augusto Akio subiu ao pódio pela primeira vez numa Olimpíada com o terceiro lugar no Park.

A posição do COB ganhou o apoio do Ministério do Esporte na quinta-feira. "Sobre a autonomia das entidades nacionais e ciente de expediente emitido pelo Comitê Olímpico do Brasil - COB, confirmo que a solução de uma terceira entidade, voltada exclusivamente à representatividade internacional perante a WS, atende à organização do desporto no Brasil, permanecendo cada uma delas gozando de ampla autonomia em território nacional, com a preservação da atribuição privativa da Confederação Brasileira de Skateboarding - CBSK na condução, gerenciamento e organização do skateboarding no Brasil, bem como com a preservação da atribuição privativa da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação - CDHP na condução, gerenciamento e organização dos desportos relacionados a hóquei e patinação no Brasil", escreveu o ministro André Fufuca, também em ofício.

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As manifestações do COB e do Ministério do Esporte foram celebradas pelo presidente da CBSk, Eduardo Musa. "O posicionamento do Ministério do Esporte, somado ao ofício do COB, resolve a questão. De maneira muito clara, as autoridades desportivas brasileiras já se posicionaram no sentido de que, internamente, cada modalidade seja representada pela sua própria entidade. No caso do Skateboarding, a CBSk é essa entidade e nunca tivemos dúvida sobre isso", disse o dirigente.

De acordo com Musa, a federação internacional já indicou que aceitará a decisão. "A World Skate já afirmou por escrito e confirmou em audiência que respeitaria a decisão tomada pelas autoridades esportivas do nosso País. Então, já entramos em contato e estamos esperando uma resposta da CBHP sobre um encontro para tratar a criação e o formato dessa terceira entidade de representação", revelou.

O Estadão apurou que Eduardo Musa e o presidente da CBHP, Moacyr Neuenschwander Júnior, devem se reunir nas próximas semanas para definir os próximos passos para a criação da nova entidade.

Entenda o caso

A disputa entre CBSk e CBHP é antiga e se consolidou em 2017, quando, após o skate se tornar esporte olímpico, a Federação Internacional de Esportes sobre Patins se fundiu à Federação Internacional de Skate, culminando na criação da WS. Então, o COB teve de indicar uma entidade para representar os skatistas junto à nova entidade e chegou a escolher a CBHP, mas mudou de ideia e optou pela CBSk, na época presidida por Bob Burnquist, um dos maiores skatistas da história e fundamental nesse processo de convencimento.

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A "novela" ganhou novos capítulos em 2019, antes mesmo da Olimpíada de Tóquio, marcada inicialmente para 2020, mas que foi realizada somente no ano seguinte. Em assembleia realizada em 2019, a World Skate decidiu que cada país poderia ter apenas uma entidade filiada ao seu quadro, e o Brasil tinha a CBSk e a CBHP. Entre alguns adiamentos, a regra só foi aplicada após 31 de dezembro de 2023. Antes disso, travou-se uma disputa nos bastidores, pois a WS queria a fusão das duas entidades, sugestão refutada pela CBSk, que sentiu sua autonomia ameaçada e adotou o discurso de manter o "skate nas mãos dos skatistas".

Em um panorama mais amplo, a CBSk aliou-se a federações de outros países em um movimento que chamaram de "no merge" (sem fusão, em tradução livre do inglês). Ao fim do prazo para a resolução dos conflitos entre as instituições nacionais, cinco países não tiveram acordos entre suas entidades: Brasil, Estados Unidos, Geórgia, Eslovênia e Turquia. A escolha da representação, então, foi feita pela WS, conforme determinado pelo estatuto da organização.

Diante da resistência da entidade brasileira, a federação internacional desfiliou a CBSk no fim de janeiro, a poucos meses da Olimpíada, o que gerou preocupação no esporte brasileiro. A WS criticou a CBSk por ter "recusado qualquer diálogo com a CBHP" e realizado uma "campanha difamatória na mídia contra a World Skate e suas regras". O texto também disse que a proposta apresentada pela CBSk "não estava de acordo com as determinações, uma vez que previa manter duas entidades separadas sem criar uma organização guarda-chuva". Por outro lado, a CBHP aceitou se transformar na "organização guarda-chuva", unindo todas as modalidades.

Diante da proximidade da Olimpíada de Paris, o COB assumiu a gestão do skate brasileiro ao intervir na CBSk e definir uma estrutura administrativa para auxiliar os atletas. Na prática, não houve mudanças drásticas uma vez que um dos cargos criados pelo COB para gerir a entidade foi ocupado por Tatiana Lobo, que exerceu diversos cargos diretivos dentro da própria CBSk e tinha trânsito com dirigentes e atletas.

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A cinco meses da Olimpíada, a confederação obteve uma vitória parcial ao obter uma liminar junto à Corte Arbitral do Esporte, pedindo a refiliação na World Skate. Uma audiência envolvendo as partes aconteceu no dia 26 de setembro, mas a decisão, definitiva sobre o assunto, será feita somente no dia 13 de dezembro.

O resultado da ação, contudo, poderá ficar em segundo plano caso a união entre CBSk e CBHP se confirme nas próximas semanas. Atendendo à exigência da World Skate, o skate brasileiro não teria maiores preocupações em sua gestão em solo nacional.

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