Dono do contrato mais caro da história da NBA, atual campeão da liga, diferenciado fora de quadra e fã de Harry Potter.
Sim, estamos falando de Jaylen Brown.
E não, ele não estará nos Jogos Olímpicos de Paris.
Mas por que um dos jogadores mais completos [e sem papas na língua!] da NBA simplesmente parece não existir para a comissão técnica da "questionada" seleção norte-americana de basquete?
Ok, foram cinco jogos e cinco vitórias nos amistosos de preparação. Mas com jogos apertados e com bem menos espetáculo do que esperávamos - fato esse que fez o nome do astro dos Celtics voltar às manchetes.
Por que Jaylen Brown não foi a Paris?
Bem, a personalidade vista como "forte demais" por alguns pode até ser parte da resposta, mas ao observarmos a escolha [ou a falta dela] - apenas pelo aspecto tático e técnico - a ausência pode não ter sido tão absurda assim.
Para esse que vos escreve, definitivamente não foi - e olha que sou fã, hein...
Mas isso eu explico já já.
Um Jaylen não boleiro
Nascido em Marietta, subúrbio de Atlanta, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, Jaylen Brown sempre se destacou como um dos melhores atletas do estado durante o ensino médio. Antes de completar 18 anos foi campeão continental com a seleção Sub-18 dos Estados Unidos.
A carreira universitária de Jaylen foi curta. Brown atuou somente uma temporada na Universidade da Califórnia em Berkeley. Mas o jogador dos Celtics era um aluno dedicado ao programa de Estudos Culturais e Esportivos, que integrava a faculdade de educação da instituição. Depois de se mudar para Boston, JB se engajou com as universidades locais. O astro já foi palestrante em Harvard e atua como consultor do Laboratório de Mídia do MIT, o Massachussetts Institute of Technology.
Brown também faz questão de salientar o amor que tem por tecnologia, filosofia, finanças e história. O atleta também é fluente em espanhol e estuda árabe. No tempo livre, os holofotes vão para os livros, instrumentos musicais [piano e guitarra] e jogos xadrez. O atleta de 27 anos sempre ressalta que a concentração mental que o jogo exige é fundamental para atuações na NBA.
A cereja do bolo é a devoção pelos filmes da saga Harry Potter.
"A maior parte dos caras provavelmente fica om a família, mas eu não tenho uma família. Sou solteiro. Então eu maratono os filmes de Harry Potter", contou o camisa 7 ao programa de TV Good Morning America.
Jaylen disse, inclusive, que Albus Dumbledore é um dos personagens preferidos por ele. Mas que é com a bruxa Hermione Granger que mais se identifica.
"A Hermione é a pessoa que garante que todos estejam na linha. Ela é quem faz as coisas acontecerem. Eu sou assim. Se temos que fazer alguma coisa, eu não vou esperar até o último minuto. Nós temos uma tarefa? Então vamos fazê-la no primeiro dia" , completou Brown.
Ativismo e luta contra o racismo
Em 2023, em entrevista ao New York Times, Jaylen admitiu a existência de uma ala racista dentro da torcida dos Celtics.
"Nem todo fã dos Celtics é racista, mas existe uma parte da torcida que é problemática. Se você tem um jogo ruim, eles atrelam ao seu pessoal. Tem uma parcela de pessoas dentro da nação Celtics que é extremamente tóxica e não quer ver os atletas se posicionando sobre as coisas. Eles querem que a gente só jogue basquete, os entretenha e vá para casa. E isso é problemático para mim”, afirmou.
Jaylen também é apoiador da causa vegana e foi voz ativa nos protestos do Black Lives Matter. Em 2020, participou dos protestos pela morte de George Floyd, um afro-americano assassinado por estrangulamento pelo policial branco Derek Chauvin, em Minneapolis.
Em 2021, criou a 7uice Foundation, instituição educacional e esportiva para comunidades carentes nos Estados Unidos. O projeto é dedicado à comunidade negra do país como forma de enfrentamento ao racismo e na busca por oportunidades igualitárias.
Brilho, mudança de prateleira e Paris...
Fazer acontecer é rotina de vida para Jaylen Brown. Nos Celtics desde 2016, quando foi selecionado como a terceira escolha do Draft, o ala-armador superou críticas e desconfianças até deslanchar na última temporada.
Brown teve média de 26,6 pontos e 49% de arremessos na campanha campeã dos Celtics. Ele ainda ganhará US$ 31,8 milhões (R$ 151 milhões) no último ano com os valores do contrato vigente.
Já na temporada 2024/2025 ganhará US$ 52,3 milhões (R$ 248 milhões), e US$ 69,1 milhões (R$ 328 milhões) em 2028/29, o último ano do acordo. Jaylen não é elegível para uma cláusula de proibição de negociação, uma vez que assinou uma extensão.
Com tamanha evolução e ascensão, Brown era considerado nome quase certo para os Jogos de Paris.
Era.
Preterido já na primeira convocação, o astro não foi chamado por Steve Kerr nem mesmo após a lesão de Kawhi Leonard, cortado do Dream Team por questões físicas e pessoais. Ao invés do "Homem Mau", o colega de franquia Derrick White foi o substituto.
Foi a gota d'água para Jaylen.
Nike e Grant Hill
Após ficar mais uma vez de fora da lista, JB não mediu palavras e usou as redes sociais para demonstrar a insatisfação com o fato.
Para o MVP das finais, a Nike, patrocinadora da equipe norte-americana, tem influência na decisão. A história começa quando o contrato de Jaylen Brown com a Adidas, marca que o patrocinou assim que o atleta chegou à NBA, se encerra em 2020 e Brown começa a usar os modelos em homenagem a Kobe Bryant produzidos pela Nike, mas escondendo o logotipo da marca.
Apesar da atitude, não existia nenhum tipo de conflito direto entre jogador e marca. Até que, em 2022, a Nike cancelou o contrato de Kyrie Irving devido a questões políticas.
Jaylen Brown repercutiu a situação em no antigo Twitter, onde publicou uma crítica sarcástica contra a marca:
"A Nike querer falar de ética é muito engraçado”.
Agora, após não ser chamado para o Dream Team, Brown voltou a atacar:
“Nike, é isso que fazemos? Não tenho medo de vocês e dos seus recursos”
O dirigente da seleção dos EUA, Grant Hill, por outro lado, descarta que a relação de Brown com a Nike tenha pesado na decisão.
“Durante uma boa parte da minha carreira usei Fila. Então isso deveria ser uma piada. Estamos orgulhosos de nossos parceiros, obviamente. E isso é sobre formar uma equipe”, ressaltou o dirigente.
Responsável direto pela troca, Hill explicou que a preferência por White se dá pela prioridade em formar uma equipe mais sólida.
“Uma das coisas mais difíceis é deixar de fora pessoas que sou fã. Jogadores que foram MVP das finais, que já fizeram parte do programa e ganharam medalhas de ouro. Jogadores que respeito, admiro e gosto de assistir. Mas você tem que formar uma equipe, uma equipe que se complemente”, explicou Hill.
Escolha justa?
Teorias da conspiração a parte, não tem como classificarmos como absurda a opção do sereno e diplomático Grant Hill, e do treinador Steve Kerr, pela não ida de Jaylen.
Tenho certeza absoluta que boa parte dos leitores deste texto assistiam o seriado "The Fresh Prince of Bel-air", no Brasil batizado de "Um Maluco no Pedaço". Nele, o espetacular Will Smith era o "Will", "dono" do time do colégio. Ali, a ordem do treinador para os outros atletas [bem menos talentosos] da elitizada escola era uma só e vinha no grito de guerra do time: "Um, dois, três... Passem para o Will!".
Tal filosofia talvez explique a ausência de Jaylen Brown.
Mesmo sendo um jogador mais técnico com a bola laranja na mão, e um ótimo marcador sem ela, Jaylen provavelmente teria mais dificuldade na hora de ser menos protagonista na transição ofensiva. Ficar menos com a bola no clutch time poderia não ser visto com tanta tranquilidade por Brown, mas com certeza não será um problema para o solícito Derrick White. Prestativo e muito eficiente no setor defensivo [provavelmente de maneira ainda mais efetiva que Jaylen Brown], White não daria menos força no momento da retomada da posse, e ainda facilitaria a chegada dela às mãos das principais estrelas do Dream Team.
Mesmo carregando bastante a bola, como faz em Boston, Derrick White não hesitaria em passar para os protagonistas no estouro do relógio. Além disso, a alta intensidade de movimentação de White facilitaria para James, Curry e cia. encontrarem espaços da mesma forma que facilitou para Tatum e Jaylen Brown [que ironia!] jogarem com mais liberdade.
Nessa história, infelizmente para Jaylen Brown, os "Wills" são LeBron James, Curry, Embiid e Kevin Durant.
A mídia opinando
Para o jornalista Diego Bonetti, figurinha carimbada no Terra Cestou e convidado especial na nossa cobertura das Finais, na NBA House, a escolha de White é bastante compreensível.
"É inevitável olharmos para o aspecto ofensivo quando falamos da seleção norte-americana de basquete. Afinal, o Dream Team sempre se notabilizou pelas vitórias esmagadoras contra seus adversários, lances plásticos e ótimo aproveitamento contra a cesta. Mas talvez a escolha por Derrick White em detrimento de Jaylen Brown esteja explicada justamente do outro lado da quadra. White era quase um patinho feio no quinteto dos campeões da NBA, Boston Celtics. O trabalho “sujo” do jogador foi fundamental para o sucesso dos Celtas, e o treinador dos Estados Unidos, Steve Kerr, reconhece isso.", destacou Bonetti.
"White nunca será visto como peça preponderante da rotação. Nem dos Celtics, tampouco do Dream Team, mas não chega ser um absurdo o jogador ocupar a vaga do MVP das finais da NBA com a camisa dos Estados Unidos em Paris.", completou o jornalista.
Informações sobre Derrick White
- 30 anos
- Armador / ala armador
- Na liga desde 2017
- Passagem pelo San Antonio Spurs
- Média de 15,2 pontos; 5,2 assistências e 4,2 rebotes por jogo na temporada
Não há dúvidas que Jaylen Brown é um jogador mais completo que Derrick White, mas às vezes, principalmente no esporte de alto rendimento, o atleta especialista em uma função específica seja mais interessante para equipe. Brown é não é nota 8; 8,5 em tudo como é Jaylen, mas talvez seja nota 9 na defesa de transição e por isso [somente por isso] tenha sido o escolhido.
A cor da medalha dirá quem estava certo. Ou seja, a aposta é ingrata para Jaylen Brown.
Melhor, ao menos por enquanto, para Hill, Kerr, White e até para a Nike...