Para além dos saques, ataques e bloqueios nos jogos de vôlei, um personagem que não pode ser visto, mas ouvido, tem chamado a atenção de quem assiste às partidas das seleções brasileira masculina e feminina na Olimpíada de Tóquio. É o austríaco Michael Staribacher, cujo nome artístico é DJ Stari. Ele tem feito sucesso com as músicas que escolhe para tocar entre os intervalos dos pontos e ganhou milhares de fãs brasileiros.
Natural de Viena, DJ Stari se tornou viral nas redes sociais depois que ele agradou os torcedores brasileiros com sua longa e eclética playlist que engloba artistas como Raça Negra, Pabllo Vittar, Barões da Pisadinha, Legião Urbana, Chitãozinho e Xororó, Marília Mendonça, Anitta, Ivete Sangalo e Tihuanna.
"Tudo começou na Liga das Nações, em que reconheci que os fãs de todo o mundo podem ouvir a música de forma muito clara na TV porque não há público nas arenas. E as reações foram insanas. Mesmo que estivéssemos sozinhos em uma arena vazia, sabíamos que há milhões conosco assistindo aos jogos e ouvindo as músicas", diz o DJ, em entrevista ao Estadão.
Envolvido com o vôlei há quase 20 anos, Stari aproveitou a intimidade que possui com jogadores de várias seleções, incluindo a brasileira, para entender quais hits poderiam embalar as equipes em quadra.
"Eu converso com eles e tento descobrir o que eles querem ouvir. Estou fazendo isso pelos atletas e pela torcida, que assistem pela TV em casa", conta. "Eu pesquiso muito detalhadamente. Eu conheço os artistas e sua formação. Tento saber as letras e o significado das canções. Assim, posso saber qual é o momento mais adequado para uma música", acrescenta o artista, que é fã de Raça Negra, cujas músicas são "muitos bonitas", segundo ele. E uma das mais famosas do grupo, "Cheia de Manias", foi tocada pelo DJ em mais de um jogo da seleção brasileira masculina. A banda gostou e fez menção ao austríaco nas redes sociais.
Stari usou parte do tempo livre, sem eventos, durante a quarentena provocada pela pandemia de covid-19 no ano passado para pesquisar músicas de outros países que não conhecia e ampliar seu repertório. "Não só música brasileira, mas também música italiana, turca, persa, chinesa, coreana, japonesa, tailandesa", detalha o profissional.
Mas foram os hits do Brasil que mais lhe renderam elogios e uma fama inesperada. "Recebo milhares de mensagens todos os dias, a maioria delas do Brasil. Acho que a razão para isso é que o voleibol é muito grande no Brasil e a música é mais importante do que em qualquer outro país do mundo", argumenta.
O "DJ do vôlei", como tem sido chamado nas redes sociais, tem a sensibilidade de saber qual música certa deve invadir o ginásio em Tóquio entre um ponto e outro. Quando o ponteiro Douglas Souza marca, ele toca "Zap Zum", da cantora Pabllo Vittar, pois sabe que o atleta é fã da artista, que chamou Stari de o "MC Olimpíada".
"Isso é parte importante do meu trabalho. Eu sei que Douglas é um grande fã de Pabllo Vittar. E também toco a música de reggae 'Isaac' para Isac. Ou 'Leal' para Leal", relata. "Mas também faço algo semelhante para vários jogadores de outras equipes".
O austríaco foi descoberto em etapas do circuito de vôlei de praia de seu país e seu trabalho agradou a Federação Internacional de Vôlei (FIVB), que lhe chamou para tocar também nas quadras. Ele trabalha em eventos esportivos há cerca de 20 anos e já orgulha-se de pode dizer que está em sua quarta Olimpíada. Começou em Atenas, em 2004, esteve em Pequim-2008 e no Rio, em 2016, já estava tocando em partidas no Maracanãzinho.
E, como as músicas têm significados particulares, Stari tomou conhecimento da importância de "Sweet Caroline", de Neil Diamond, para o técnico Renan Dal Zotto, e o homenageou com a canção que ajudou o treinador brasileiro em sua longa recuperação da covid-19 antes da Olimpíada.
"Acompanhei a luta dele contra a covid-19. E quando o Brasil foi campeão da Liga das Nações, a comissão técnica fez uma videochamada ao vivo com ele. E toquei Sweet Caroline como uma espécie de saudação a ele. Foi um momento emocionante", descreve o DJ, que faz todo o ginásio ouvir a música preferida de Renan após cada vitória do Brasil em Tóquio.
"Todos estão felizes com a volta do Renan com a equipe na Olimpíada. Eu decidi tocá-la como uma música de celebração", define. A versão de Sweet Caroline que ele toca é a eletrônica, produzida pelo filho do treinador, Enzo, que também é DJ e produtor musical.
Com o time feminino, a relação também é de proximidade. "Conheço toda a seleção feminina brasileira há muito tempo. Elas têm um lugar especial em meu coração". O seu sucesso por aqui o faz querer retornar ao Brasil. "Definitivamente vou voltar", promete, seja pra tomar caipirinha ou para levar entretenimento aos fãs do vôlei.