Acabou.
Calma! Os Jogos de Paris ainda nem começaram, mas a preparação do badaladíssimo time de Stephen Curry, LeBron James, Kevin Durant [que ainda não jogou por conta de uma lesão na panturrilha] e cia. chegou ao fim.
Foram cinco jogos e cinco vitórias.
Mas a pergunta sobre quem é melhor, que antecedeu o início da preparação do Dream Team III em uma suposta "rivalidade" com o Dream Team original de Jordan e Magic, em 1992, nos Jogos de Barcelona, parece não fazer mais tanto sentido - ao menos por enquanto.
Para se ter uma ideia, quando somamos a diferença nos placares dos cinco amistosos vencidos pelos Estados Unidos nessas partidas iniciais o saldo chega a 51 pontos. O Dream Team de Michael Jordan teve média, por jogo[!], de quase 45 de vantagem.
Nos últimos dias, os comandados de Steve Kerr venceram Canadá; Austrália, Sérvia; Sudão do Sul e Alemanha. Os sérvios, de Nikola Jokic, estão no grupo C, bem como o Sudão do Sul (e Porto Rico). O Canadá é outro que carrega história junto aos americanos, depois de vencê-los na disputa de terceiro lugar do Mundial, em 2023.
Kerr montou uma espinha dorsal com Curry, LeBron e Embiid, que iniciaram como titulares em todas as partidas. Curry atua no perímetro ao lado de um ou dois parceiros, enquanto LeBron fica mais perto da cesta, às vezes complementado por outro atleta no setor. Embiid é o pivô clássico. Neste cenário, foram testados entre os titulares Devin Booker, Jrue Holiday, Anthony Edwards e Jayson Tatum. Contra os alemães, Booker e Holiday iniciaram ao lado do trio. Como era previsível, o time construiu uma rotação sólida e é capaz de mudar de estilo dependendo dos atletas acionados.
A última das cinco vitórias veio após um 92 x 88 sobre a Alemanha atual campeã mundial e algoz dos EUA na semifinal do torneio. Apesar do placar apertado, a partida contou com um já conhecido alto nível técnico dos europeus e, principalmente, com um certo relaxamento norte-americano no terceiro quarto - fato que assustou bem menos do que o espetacular amistoso protagonizado pelo Sudão do Sul.
Esse sim ligou o sinal de alerta na terra do Tio Sam...
Quem poderia imaginar que a seleção do Sudão do Sul pudesse fazer frente ao chamado Dream Team norte-americano?
Detalhe: em um dia de alto nível de concentração dos EUA. Não houve relaxamento...
A verdade é que mais do que fazer frente, a seleção africana por muito pouco não chocou o mundo em Londres. Foi no sufoco, e com bola decidida nos segundos finais, que o Dream Team III conseguiu vencer por 101 a 100 o selecionado sudanês.
O time de Ker iniciou a partida com LeBron James, Devin Booker, Stephen Curry, Jrue Holiday e Joel Embiid.
A equipe sudanesa contou com um "espião" vindo diretamente da NBA. Comandada pelo treinador Royal Ivey, também assistente técnico do Houston Rockets, o Sudão do Sul parecia pronta para alugar um condomínio na cabeça dos norte-americanos. Os africanos começaram a partida com um quinteto físico, de boa estatura e muita intensidade na marcação. As estrelas da NBA foram surpreendidas por um time quente do perímetro, acertando oito das 15 bolas tentadas para três pontos no primeiro tempo.
Enquanto o Sudão do Sul continuou castigando do perímetro, o inverso aconteceu com Steph Curry e companhia. O Dream Team amassou o aro e acertou uma única bola da linha dos três pontos em 12 tentativas, no primeiro tempo.
Steph dependência?
Os africanos aproveitaram os erros do adversário, mostrando assim um bom jogo coletivo, selecionando bem os arremessos e sendo paciente na troca de bola. O Dream Team até protegeu bem o garrafão, mas continuou permitindo o bom aproveitamento adversário do perímetro. Foi dessa maneira que o time sudanês se colocou à frente do placar durante quase todo o primeiro tempo, machucando o Dream Team de média e longa distância.
Roteiro que se estabeleceu até o fim do primeiro tempo, quando o placar indicava espantosos 58 a 44 para o Sudão do Sul.
Na volta para a etapa final, Steve Kerr fez ajustes e promoveu mudanças para aumentar o nível defensivo da equipe norte-americana. Derrick White, Anthony Edwards e, principalmente, Anthony Davis trouxeram mais intensidade defensiva e outro comportamento em quadra. Jayson Tatum e Bem Adebayo completaram a unidade que veio do banco e os Estados Unidos melhoraram. As bolas de três dos sudaneses começaram a cair com menos frequência e Davis, aproveitando a falta de limite de tempo [regras FIBA] mostrou toda capacidade que tem dentro do garrafão.
As mudanças de Kerr surtiram efeito. O Dream Team foi uma equipe mais intensa na defesa, ganhou com o trabalho de garrafão de Anthony Davis e viu LeBron comandar os companheiros para tirar uma desvantagem que, em dado momento, foi de 16 pontos.
O astro da NBA terminou com 23 pontos, seis rebotes e seis assistências. Se na primeira etapa LeBron participou mais do jogo coletivo, na etapa final ele foi mais agressivo, fez infiltrações e chamou a responsabilidade.
O terceiro quarto dos Estados Unidos lembrou, e muito, os melhores momentos do Golden State Warriors de Steve Kerr. O treinador da seleção norte-americana teve como marca registrada o amplo domínio no terceiro período nos quatro anos em que conquistou o título da NBA com os Warriors. O selecionado estadunidense fechou o terceiro quarto por 37 a 18 e reassumiram a vantagem no placar.
A minutagem de Anthony Davis também foi fundamental para os Estados Unidos voltarem para a partida. O parceiro de LeBron nos Lakers registrou o double-double com 15 pontos, 11 rebotes e evidenciou a tradicional força defensiva com dois tocos e um roubo de bola.
Por outro lado, o Sudão do Sul se recusou a abrir mão do jogo. Em dia inspirado do armador Carlik Jones, os africanos continuaram pegando fogo. Jones fez algo que poucos se atrevem a fazer contra os norte-americanos. Triple-double e uma partida de almanaque. Foram 15 pontos, 11 rebotes e 11 assistências do atleta que atualmente joga no basquete chinês.
Mas foi o aproveitamento do perímetro da equipe africana que saltou aos olhos e fez crescer a preocupação com o sistema defensivo de Ker. Marial Shayok foi o cestinha da partida com 25 pontos. Letal da linha dos três, Shayok converteu seis das 12 tentativas do perímetro.
Na reta final, a impressão é que a equipe do Sudão do Sul sentiu o desgaste físico. Os Estados Unidos abriram oito pontos, e pareciam que iam espantar a zebra. A resiliência dos sudaneses, no entanto, não deixou que isso acontecesse. A equipe foi buscar o resultado e com 20 segundos para o fim, JT Thor, na bola tripla, mais uma vez, castigou o Dream Team.
Mas um time que tem LeBron James nunca pode ser dar por vencido. E foi exatamente isso que salvou que os EUA de conhecerem ali o que seria o primeiro e único resultado negativo nessa série de amistosos. E na especialidade da casa, James invadiu o garrafão e completou a bandeja para deixar o placar em 101 a 100 para os norte-americanos.
Eram oito segundo para o fim, e os africanos ainda tinham a possibilidade de chocar o mundo. Mas no último arremesso a bola chorou e não caiu. Sudão ainda teve o rebote para cometer o crime em Londres, mas nada feito.
Fim de jogo e vitória dos norte-americanos. Invencibilidade mantida, mas prestígio certamente arranhado.
Questionamentos.
As perguntas que ficam: um dos mais talentosos grupos já montados pode decepcionar como em 2004? Kevin Durant mudará esse time de prateleira? O "problema" foi apenas o entrosamento inicial?
O tempo dirá.
Ah, foi apenas o primeiro jogo entre as duas seleções em poucos dias. Sudão do Sul e Estados Unidos estão no mesmo grupo de Paris 2024. A revanche acontece em pouco mais de uma semana, dia 31 de julho. Agora valendo de verdade...
O Jogos de Paris são logo ali e o Terra estará lá.
Os líderes em estatísticas dos Estados Unidos em cada partida:
Estados Unidos 86x72 Canadá
Titulares: Devin Booker, Stephen Curry, Jrue Holiday, LeBron James e Joel Embiid
• Anthony Edwards - 13 pontos
• Tyrese Haliburton - 6 assistências
• Anthony Davis - 11 rebotes
Estados Unidos 98x92 Austrália
Titulares: Stephen Curry, Anthony Edwards, Jayson Tatum, LeBron James e Joel Embiid
• Anthony Davis - 17 pontos
• Jayson Tatum - 5 assistências
• Anthony Davis - 14 rebotes
Estados Unidos 105x79 Sérvia
Titulares: Stephen Curry, Jrue Holiday, Jayson Tatum, LeBron James e Joel Embiid
• Stepehen Curry - 24 pontos
• Joel Embiid, Tyrese Haliburton e Bam Adebayo - 3 assistências
• Bam Adebayo e Joel Embiid - 8 rebotes
Estados Unidos 101x100 Sudão do Sul
Titulares: Devin Booker, Stephen Curry, Jrue Holiday, LeBron James e Joel Embiid
• Lebron James - 25 pontos
• LeBron James - 7 assistências
• Anthony Davis - 11 rebotes
Estados Unidos 92x88 Alemanha
Titulares: Devin Booker, Stephen Curry, Jrue Holiday, LeBron James e Joel Embiid
• LeBron James - 20 pontos
• Joel Embiid - 5 assistências
• Joel Embiid - 8 rebotes