Um técnico da equipe principal da natação da Grã-Bretanha foi retirado do elenco que vai disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio. Isso porque uma investigação de 12 meses coletou alegações sérias contra Alan Bircher, de 39 anos.
O ex-nadador é acusado de comandar uma cultura tóxica em seu clube de natação de elite. Pais de alunos do Ellesmere College Titans, localizado no interior de North Shropshire, eleitorado inglês que faz fronteira com o País de Gales, denunciaram bullying, 'fat-shaming' (ato de envergonhar alguém por estar acima do peso) e desrespeito às restrições da covid-19. Além disso, Bircher teria também deixado de relatar preocupações de salvaguarda relacionadas ao clube.
Um relato contundente do oficial independente de proteção à criança do Swim England, órgão nacional de natação na Inglaterra, causou a suspensão do exercício da profissão pelo treinador, juntamente com um colega. Dos 30 atletas confirmados para Tóquio, três foram alunos do Titans: Freya Anderson, Hector Pardoe e Cassie Wild. O local é visto como um celeiro de futuros nadadores olímpicos. As entidades responsáveis pelo esporte na Grã-Bretanha e na Inglaterra, disseram ao The Guardian que estão "extremamente preocupados" com a situação.
"O relatório identificou questões de bem-estar e governança, e imediatamente após a conclusão da revisão, a Swim England implementou todas as recomendações do relatório para garantir um ambiente seguro, de apoio e positivo para todos no clube", declararam em um comunicado único. Por conta da investigação, o clube foi colocado sob medidas especiais
As descobertas foram feitas entre julho de 2020 e junho de 2021 por uma revisão independente. O time de natação britânico confirmou a saída de Bircher, dizendo que "como consequência da revisão, o técnico Alan Bircher não foi nomeado para o time de treinadores na Olimpíada de Tóquio e não fará parte da equipe nos Jogos". A estrutura de governança do Ellesmere College Titans foi totalmente alterada, com a ajuda de oficiais da Swim England. Um treinador da instituição está coordenando o apoio técnico no clube, enquanto um oficial de bem estar independente apoia o local.
Até o momento, Bircher não teceu comentários sobre o assunto. Vencedor de uma medalha de prata no Mundial de Natação de 2004, o ex-atleta representou a Grã-Bretanha no nível mais alto em seis edições da competição, entre 2003 e 2008. Em seu site oficial, os Titans afirmam que "são orgulhosos de serem diferentes e de serem a vanguarda para a mudança". No entanto, diante da situação atual, essa definição parece ser a mais distante da verdade. A Swim England pediu que os pais das crianças não comentem sobre o caso publicamente e garantiu que os técnicos não retornarão até que os procedimentos, políticas e condições da investigação sejam cumpridas e aplicadas no clube. Porém, a entidade não revelou o tempo de suspensão dos treinadores.
Infelizmente, ocorrências semelhantes fazem parte do esporte em geral, e costumam envolver crianças e adolescentes. Abusos morais, físicos e sexuais já foram denunciados na ginástica do Reino Unido, Estados Unidos e Brasil, por exemplo. Os denunciantes muitas vezes não são levados a sério, dado o poder ou credibilidade do acusado. É por isso que as instituições responsáveis devem sempre conduzir inquéritos e criar meios para que os atletas possam fazer reclamações com segurança. O COB, Comitê Olímpico Brasileiro, criou em 2018 um canal para receber denúncias de abuso no esporte.