'Força do feminino sempre existiu, o que faltava era acreditar e confiar', diz medalhista Ketleyn Quadros

Atletas brasileiras conquistaram três medalhas de ouro em Paris e, pela primeira vez, superaram os homens em número de medalhas

12 ago 2024 - 12h52
(atualizado às 14h11)
Judoca Ketleyn Quadros durante participação no programa Paris É Delas
Judoca Ketleyn Quadros durante participação no programa Paris É Delas
Foto: Reprodução/Paris É Delas

A judoca Ketleyn Quadros, medalhista de bronze nas Olimpíadas de Pequim 2008, voltou a brilhar em Paris-2024, aos 36 anos, conquistando novamente uma medalha olímpica. Durante participação no programa Paris É Delas, nesta segunda-feira, 12, a atleta repercutiu sobre a importância do protagonismo feminino no esporte e seu papel na equipe brasileira de judô.

  • Paris É Delas é o programa oficial do Terra com os principais acontecimentos dos Jogos de Paris, oferecido por Vale. Assista aqui no Terra.

Ketleyn ajudou a seleção brasileira a ganhar a medalha de bronze por equipes mistas este ano. Ao refletir sobre sua trajetória, ela destacou o amor pelo judô e os sacrifícios que fez ao longo dos anos.

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"Amo muito o que eu faço, que é a modalidade judô, até digo que eu não sei se fui eu que escolhi o judô ou se foi o judô que me escolheu. E os sacrifícios fazendo parte do processo", afirmou a atleta.

A judoca relembrou sua primeira medalha olímpica aos 20 anos e destacou o apoio fundamental de sua família, clube e confederação. Sobre a conquista da medalha de bronze por equipes mistas em Paris, Ketleyn destacou a união e a força da equipe. Ela afirmou que a modalidade mista, iniciada em Tóquio, representa a concretização de um sonho coletivo. 

A judoca também falou sobre a evolução do judô e a importância da equidade nos esportes. Ela mencionou que, até 1982, as mulheres eram proibidas de treinar judô, mas hoje treinam juntas com os homens, o que fortalece a modalidade.

"A força do feminino sempre existiu, o que faltava era essa oportunidade de acreditar e confiar no potencial feminino, mas como sempre, a gente mostra o resultado e depois vem o investimento", destacou. 

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Treino com inspirações

Durante a entrevista, Ketleyn mencionou que, ao ingressar no esporte, teve o privilégio de treinar e competir ao lado de grandes inspirações como Edinanci Silva, Rosicléia Campos e Danielli Zangrando. Essas ex-atletas não apenas inspiraram, mas também contribuíram com suas experiências e orientações. "A gente tem total consciência que essa conquista não é só nossa, é especialmente das que plantaram, que foram as que chegaram, capinaram, semearam. A gente chegou bem na época da colheita".

Agora, a judoca quer deixar a colheita para as próximas gerações. Ketleyn anunciou que não pretende competir na Olimpíada de 2028, em Los Angeles. Após muitos anos de dedicação total ao judô, ela sente a necessidade de perseguir outros sonhos além do tatame, e passar mais tempo com seus familiares.

Ketleyn enfatizou que essa escolha vem do desejo de explorar outras áreas de sua vida e recuperar uma parte que foi deixada de lado devido ao rigoroso regime de treinamentos e competições.

Katia Rubio, pesquisadora dos estudos olímpicos e psicóloga do esporte, ressaltou a relevância histórica da conquista de Ketleyn, lembrando que em uma edição olímpica, apenas 2.500 dos 10.500 atletas participantes ganham medalhas, demonstrando que são os melhores entre os melhores competindo. "No tatame, um vacilo, uma respirada fora de hora, e um golpe acontece, e todo esse trabalho vai pro espaço," afirmou.

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Rubio também chamou a atenção para o fato de que o judô feminino já enfrentou muitas proibições, com mulheres tendo que treinar escondidas junto com os homens por quase quatro décadas. Para ela, o sucesso atual de modalidades como o judô e o futebol femininos é um prestígio para as gerações de mulheres que foram impedidas de praticar esses esportes. "Quando a gente vê uma modalidade como o futebol das mulheres, como o judô das mulheres ter esse sucesso, é um prestígio para as gerações de mulheres que foram impedidas", destacou.

"Orgulho do futebol feminino"

"A medalha conquistada pelo Brasil representa o resgate, o resgate do orgulho que a gente tem em ver que o futebol feminino do Brasil, sim, pode ser competitivo, tem talento", afirmou a jogadora do Fluminense Futebol Feminino, Cacau Fernandes.

A atleta também destacou que o esporte ainda precisa de mais valorização e criticou queles que só se manifestam para comentar negativamente, enfatizando que a gratidão deve ser dirigida às pessoas que sempre apoiaram e acreditaram no esporte desde o início.

Katia Rubio elogiou Marta como uma figura fundamental para o esporte feminino. Ela ressaltou que Marta é um exemplo não só para as mulheres, mas para todos, por sua trajetória e conquistas.

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"A decadência do futebol masculino também atinge o futebol feminino. A gente vive um momento muito ruim do futebol masculino que é, enfim, os escândalos, a falta de identificação dos atletas com as suas camisas, com as suas seleções. Isso contamina o público. Então, quando eu vejo a Marta reagindo, como ela reagiu à medalha, veja, em nenhum momento ela falou essa prata vale ouro. Não, a prata vale prata, porque cada coisa no seu lugar é muito importante para formar uma cultura no torcedor, no espectador", disse a pesquisadora dos estudos olímpicos.

Rubio também afirmou que, apesar de muitas jogadoras atuarem no exterior, a criação de uma cultura sólida dentro dos clubes brasileiros é fundamental para o desenvolvimento da modalidade e para inspirar novas atletas. Ela enfatizou que, ao contrário do futebol masculino, o futebol feminino se destaca pela garra e dedicação das jogadoras, que jogam com paixão e sem as "artimanhas" comuns nos jogos masculinos. Ela acredita que esse espírito é essencial para atrair e fidelizar um público que valorize e apoie o futebol feminino, especialmente com a proximidade da Copa do Mundo feminina no Brasil.

Fonte: Redação Terra
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