Presidente do COB rebate contestação de candidatura e cogita medidas na Justiça

Ao 'Estadão', Paulo Wanderley Teixeira alega que sua concorrência é legítima, apesar da contestação de atletas e da oposição, e diz que relação com a comunidade esportiva seguirá 'muito boa'

26 set 2024 - 08h10
(atualizado às 14h37)

Candidato à reeleição para a presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley Teixeira rebate as críticas à sua candidatura e admite que pode buscar medidas na Justiça para garantir sua presença no pleito, marcado para o dia 3 de outubro, no Rio de Janeiro. Em entrevista ao Estadão, o dirigente alega que sua candidatura é legítima, apesar da contestação de atletas e da chapa de oposição.

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Na quinta-feira da próxima semana, Paulo Wanderley vai enfrentar na eleição Marco La Porta, seu vice-presidente até o início deste ano. La Porta tem como candidata a vice a medalhista olímpica Yane Marques. O atual presidente conta com Alberto Maciel Júnior, ex-presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), como seu vice na chapa da situação.

A disputa eleitoral deste ciclo vem sendo marcada pela contestação da candidatura de Paulo Wanderley. Grupos de atletas alegam que o presidente infringe a Lei do Esporte, a Lei Pelé e o próprio Estatuto do COB, que vetam o exercício de um terceiro mandato na presidência.

Paulo Wanderley assumiu a presidência em outubro de 2017 assim que Carlos Arthur Nuzman renunciou ao cargo na esteira das investigações de corrupção — Nuzman chegou a ser preso. Vice, Paulo Wanderley assumiu e se reelegeu em 2020. Uma nova eleição, portanto, caracterizaria uma segunda reeleição, na compreensão dos grupos de atletas. Ainda em 2017, em entrevista ao jornal O Globo, ele afirmou: "estou no meu primeiro mandato e teria direito a uma reeleição".

Presidente do COB, Paulo Wanderley é candidato à reeleição. Pleito está marcado para 3 de outubro.
Presidente do COB, Paulo Wanderley é candidato à reeleição. Pleito está marcado para 3 de outubro.
Foto: Leo Souza/Estadão / Estadão

Ao Estadão, ele reconsiderou a fala: "Não teve mudança de ideia. Estou indo para a minha reeleição, a primeira reeleição porque o primeiro mandato foi um mandato-tampão, necessário por força de Estatuto porque houve uma vacância do cargo e o vice precisava assumir. Eu não tinha sido eleito para ser presidente (no pleito de 2016)".

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Na conversa, Paulo Wanderley cogitou também acionar a Justiça caso sua candidatura venha a ser cassada. Sua chapa precisa ser aprovada num processo de checagem eleitoral da Assembleia Geral. E ainda aguarda um sinal positivo do Ministério do Esporte, que poderia vir a vetar recursos federais ao COB caso avalie que a candidatura seja irregular, num cenário em que ele vença a eleição. O Estadão apurou que o Ministério ainda não apresentou uma resposta definitiva.

Nesta entrevista, marcada pela confiança e pelo bom humor do presidente do COB, ele também avalia sua gestão no último ciclo olímpico, que culminou com os Jogos de Paris-2024; diz que sua relação com os atletas vai seguir "muito boa", apesar da contestação; e rebate críticas da chapa de oposição. Confira os principais trechos da entrevista:

O senhor disse em 2017 que tentaria apenas uma reeleição. Mas agora vai tentar o terceiro mandato. Por que mudou de ideia?

Olha, não teve mudança de ideia. Eu estou indo para a minha reeleição, a primeira reeleição porque o primeiro mandato foi um mandato-tampão, necessário por força de Estatuto porque houve uma vacância do cargo e o vice precisava assumir. Eu não tinha sido eleito para ser presidente. Fui eleito em 2020 e agora disputo a reeleição.

A sua chapa fez uma consulta ao Ministério do Esporte para avaliar se sua reeleição poderia acarretar problemas para o COB. O Ministério já respondeu a essa consulta?

Essa consulta foi feita por conta do processo de certificações que toda a instituição tem que ter. Houve uma pergunta sobre isso e nós fizemos um questionamento. Agora estamos aguardando. Fizemos um recurso com base no que eles responderam porque consideramos que a primeira resposta que não era apropriada. Mas isso aí é tema jurídico e a nossa área jurídica, que é minha como candidato e não do COB, vai tomar as medidas se foram necessárias.

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Existe a possibilidade de a eleição parar na Justiça. O senhor teme que isso possa atrapalhar o COB?

Isso não depende de mim. Todos nós somos livres, vivemos num país democrático. Todo mundo que se achar prejudicado tem o direito à defesa e ao contraditório. Quem se julgar assim vai ter seu direito plenamente atendido.

Esse questionamento sobre sua candidatura é muito forte entre os atletas. Preocupa o senhor a possibilidade de perder popularidade entre eles e ter uma relação mais difícil numa eventual próxima gestão no COB?

A minha relação com a Comissão de Atletas, que são 19 deles com direito a voz e voto (são 55 votos no total, incluindo confederações e dois membros do COI), sempre foi muito boa e eu pretendo que continue sendo melhor. É esse o meu objetivo.

A oposição critica a sua gestão por uma possível centralização das decisões. O senhor concorda com essa visão?

Eu tenho um conselho esportivo. Quando o COB faz o seu orçamento para o ano seguinte, há uma conversa entre a nossa área esportiva e as confederações. Primeiro eles recebem a informação de quanto poderá ser disponibilizado para o ano seguinte. É uma conversa de ida e vinda entre as entidades para definir em conjunto, COB e confederações, o que realmente vai acontecer em termos de programa. Nós temos um Colégio Esportivo, um Conselho de Diretores e depois tem outra instância, o Conselho de Administração. Todas as decisões são tomadas em colegiados, de acordo com a alçada. Tudo isso com regulamento, lei e procedimentos. Não tem centralização.

Uma crítica que a oposição faz é quanto ao trabalho no desenvolvimento esportivo. Como está o trabalho de base no COB?

Não tinha diretoria de desenvolvimento no COB antes, somente a diretoria de alto rendimento. Eu criei a diretoria de desenvolvimento para cuidar exatamente do processo de reposição (de atletas). Foi neste último ciclo e já teve resultado. Nós vamos implementar ainda um programa chamado "conexão", conectando os Jogos Pan-Americanos aos Jogos Olímpicos. Esse programa é para formar atleta de base. Quem fala que nós não temos desenvolvimento não sabe o que estamos fazendo, não acompanha. Agora temos uma área específica só para isso.

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Um dos acontecimentos de maior repercussão neste último ciclo foi a demissão do diretor Jorge Bichara. Para muitos atletas, a queda de rendimento do Brasil em Paris-2024 tem relação direta com a saída dele. Essa conclusão faz sentido para o senhor?

Não, não faz sentido. Eu não posso dizer que todos os resultados positivos do COB é graças à minha gestão. Eu tenho uma equipe. No COB só tem uma pessoa máxima quando o assunto é bronca: é comigo mesmo. Todas as ações são de equipe. Temos 306 funcionários entre o administrativo e o centro de treinamento olímpico. A equipe de alto rendimento era a maior equipe, com cerca de 60 funcionários. Uma pessoa só não vai resolver isso sozinho. O Bichara é um profissional de excelência, mas o substituto é tão bom quanto. Não houve problemas de continuidade (na execução dos trabalhos da área).

Quais são os grandes acertos e os erros de sua gestão neste último ciclo olímpico?

Eu sou bastante otimista, digo que tem muito mais acertos do que equívocos, porque presidente não erra, se equivoca (rs). Tivemos os dois melhores resultados olímpicos do Brasil em todos os tempos, em Tóquio e Paris. Quanto à gestão, investimos na atividade-fim 160% a mais do que no ciclo anterior. Quando eu cheguei no COB, tínhamos seis patrocinadores. Hoje são 22. A participação dos atletas aumentou. Era apenas um antes, agora são 19, com direito a voz e voto na Assembleia. Avançamos em gestão, ética e transparência, implantamos um programa que reverbera nas confederações. O mesmo na questão da sustentabilidade e da equidade. as mulheres foram maioria na delegação para Paris.

Algum equívoco em sua gestão?

Não costumamos lembrar muito dos equívocos (rs). Mas sempre fazemos avaliações internas em todas as áreas, como fizemos ao fim da Olimpíada. Fazemos sempre a nossa conversa interna, até mesmo para dar sugestões para os comitês organizadores dos Jogos.

O que falta para o Brasil virar uma potência olímpica?

Olha, até a geografia do nosso País atrapalha nesta busca. Ficar no seu conforto de casa só treinando não faz ninguém evoluir. Tem que trocar informações, fazer intercâmbios. Vamos para onde? Europa, Ásia… Você vai gastar em euro, em dólar, mas recebe em real. Esse é o impeditivo. Precisamos de mais recursos porque o esporte de alta performance é de excelência e excelência custa caro. Mas isso aí está quase solucionado com a assinatura do contrato de patrocínio com a Caixa. Isso vai nos oportunizar criar o programa Top COB, que vai explorar um novo bolo de recursos. Vamos agregar e acrescentar apoio às confederações, por consequência aos seus atletas e equipes, sem tirar daquilo que elas já recebem. Vai oportunizar mais treinamento, intercâmbio e performance.

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