Chegou a hora da verdade para Bruno Fratus, principal nome da natação brasileira. O velocista estreia nos Jogos de Tóquio nesta sexta-feira às 7h13 (horário de Brasília) com altíssimas expectativas em relação ao seu desempenho e muito bem cotado na briga por um lugar no pódio na prova dos 50 metros livre, a mais rápida do programa olímpico.
Aos 32 anos, Fratus está em sua terceira Olimpíada. Nos Jogos de Londres-2012, terminou na quarta colocação e, na Rio-2016, acabou na sexta posição. Aquela final há cinco anos, inclusive, foi um divisor de águas na vida do nadador.
Fratus entrou em depressão, passou a praticar meditação e mudou completamente a sua alimentação. Com a nova dieta, ganhou músculos para chegar mais forte em Tóquio. Algo em torno de cinco quilos de massa.
"Fui deixado de lado por muita gente que eu achava que ia me apoiar numa situação como aquela, e eu me senti muito sozinho por um momento. É fácil apoiar alguém quando ele está indo bem, mas quando a pessoa cai, é aí que você vê quem são seus verdadeiros fãs e amigos", revelou o nadador quando comentou sobre a sua depressão.
Após superar aquele mau momento, o nadador acumulou bons resultados que o credenciam como forte candidato à medalha nos 50 metros no Japão. Os mais expressivos foram nos Campeonatos Mundiais realizados nesse período. Tanto em Budapeste-2017 como em Gwangju-2019, o brasileiro ficou com a medalha de prata. Fratus tem ainda sete medalhas em Jogos Pan-americanos, sendo cinco de ouro e duas de prata. Ou seja, só lhe resta uma medalha olímpica para a coleção ficar completa.
Muito da evolução de Fratus nos últimos anos passa pelas mãos de sua mulher, a ex-nadadora olímpica Michelle Lenhardt, que também é sua treinadora. "Ela tem sido vital. Acho que uma vez que você tem alguém que realmente ama e que pode confiar 100%, mesmo não concordando sempre, estamos brigando pela mesma coisa. Ela tem esse instinto competitivo."
Nascido em Macaé (RJ), desde muito cedo Fratus é visto como dono de um talento raro dentro da natação. Ele foi criado no Nordeste, mas aos 17 anos mudou-se para São Paulo, onde passou a treinar no Pinheiros. Foi treinado também pelo australiano Brett Hawke e logo se destacou como um dos principais velocistas do país.
Em Tóquio, seus principais adversários são o norte-americano Caeleb Dressel, o russo Vladimir Morozov e o britânico Benjamin Proud. Mas, os rivais também se preocupam com o brasileiro, afinal ele é o atleta que mais vezes nadou abaixo de 22 segundos nos 50 metros livre em toda a história. Fratus já completou essa distância na casa dos 21 segundos nada menos do que 88 vezes na carreira. Para se ter ideia da consistência de Fratus, o segundo colocado nesse ranking é o nadador norte-americano Nathan Adrian, com 65 vezes, mas que está fora da prova em Tóquio por não ter conseguido o índice olímpico na seletiva americana.
Bons resultados
Na lista de vezes em que o brasileiro nadou abaixo dos 22 segundos está os 21s80 que ele cravou em abril, na Califórnia, quando derrotou Caeleb Dressel. A prova valeu para Fratus como seletiva olímpica, já que obteve autorização do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para, por causa da pandemia, buscar o índice em torneios do circuito dos EUA, onde ele mora e compete.
Fratus tem plena consciência do peso que essa Olimpíada tem na sua carreira, depois de ficar perto do pódio nos Jogos Olímpicos de Londres e ainda no evento disputado no Rio de Janeiro. Já no Japão, ele usou as suas redes sociais para publicar o que chamou de "carta aberta à seleção olímpica de natação do Brasil", colocando-se como um dos líderes da equipe. No texto, ele é muito claro ao reconhecer que o desempenho nos Jogos Olímpicos pode mudar o rumo da vida de um atleta.
"O sonho, o lúdico e a romantização da conquista ficou lá atrás quando éramos crianças. Ninguém chegou aqui sonhando, mas sim trabalhando e sentindo na pele cada dia de treino. E é para isso que trabalhamos a vida toda, isso aqui é o que somos e o que fazemos", escreveu o atleta brasileiro.
No caso de Fratus, o resultado de todo esse esforço nos últimos anos será definido pelas suas braçadas na piscina do Centro Aquático de Tóquio a partir desta sexta-feira.
OS ÚLTIMOS CAMPEÕES DOS 50M LIVRE
Seul-1988
Matt Biondi (EUA) - 22s14
Barcelona-1992
Alexander Popov (CEI) - 21s91
Atlanta-1996
Alexander Popov (Rússia) - 22s13
Sidney-2000
Anthony Ervin (EUA) e
Gary Hall Jr. (EUA) - 21s98
Atenas-2004
Gary Hall Jr. (EUA) - 21s93
Pequim-2008
César Cielo (BRA) - 21s30
Londres-2012
Florent Manaudou (FRA) - 21s34
Rio-2016
Anthony Ervin (EUA) - 21s40