O Sr. Incrível existe na vida real e é do Brasil. As coincidências entre o aleta de arremesso de peso Darlan Romani e o carismático super-herói da Disney, no entanto, não se restringem à força e semelhança física. Marido, pai e dono de uma persistência que o fez resistir diante de diferentes adversidades, Romani é um dos nomes do Time Brasil pela 'corrida do ouro' nos Jogos Olímpicos de 2024.
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O atleta de 33 anos vai a Paris para sua terceira participação em Olimpíada, após 'bater na trave' nos Jogos do Rio, em 2016, e de Tóquio, em 2021. A vaga foi confirmada no fim de junho passado, quando Darlan obteve a 12ª vitória no Troféu Brasil e alcançou o índice olímpico com sua melhor marca na temporada.
Para além da força e aptidão física, que o tornam capaz de arremessar uma bola de ferro fundido e chumbo de 7,62 kg a mais de 20 metros de distância, Darlan é reconhecido pela parte psicológica e foco na prática do atletismo, como já citou seu treinador, o cubano Justo Navarro, referência na modalidade.
"Para você alcançar o objetivo na prova certa, nada ao seu redor pode atrapalhar a concentração, você tem que estar focado totalmente, e isso sim é difícil. Ele conseguiu nos últimos anos. Eu vejo ele muito seguro", citou Navarro em entrevista ao ge, em 2020.
E o que não faltou foram motivos para que Darlan pudesse perder o foco e até, quem sabe, desistir do sonho. A 4ª colocação nos Jogos de Tóquio, que rendeu a melhor posição do Brasil na modalidade, escondem problemas 'hercúleos' que o atleta enfrentou em sua trajetória.
Covid-19 e treino em terreno baldio
Desde os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, Darlan se estabeleceu como uma das referências sul-americanas no arremesso de peso. Tomando para si uma série de recordes continentais, fez campanhas histórias no Grande Prêmio Brasil de Atletismo, em 2017, estabelecendo a marca de 21,82, que o renderia a medalha de prata nas Olimpíadas do ano anterior e a melhor pontuação da América do Sul.
Em 2018, também tornou-se o primeiro sul-americano a chegar à marca de 22 metros de arremesso. No ano seguinte, pela Diamond League, chegou a incríveis 22,61 metros, que o colocaram na 10ª posição entre os melhores arremessadores da história da modalidade. No Pan-Americano de Lima, no Peru, em 2019, também conquistou o ouro, mesmo acometido de uma infecção na garganta à época.
No entanto, a pandemia da covid-19, em 2020, virou o mundo de Darlan 'de cabeça para baixo'. Em um primeiro momento, o atleta ficou parado, como o restante do mundo. De olho nos Jogos de Tóquio, que acabaram adiados para 2021, Romani improvisou uma pista de arremesso em um terro baldio, ao lado de sua casa, em Bragança Paulista (SP).
Com a ajuda de um pedreiro, seu amigo pessoal, o atleta construiu um platô de cimento sobre o gramado para praticar os arremessos. Na época, mostrou o processo em suas rede sociais e afirmou: "Eu apoio e respeito a quarentena, por isso mesmo hoje estamos aqui arrumando um cantinho pra eu seguir os treinos em casa".
A pandemia também o afastou de seu treinador, Justo Navarro, que permaneceu em Cuba e não conseguiu voltar ao Brasil devido à quarentena na ilha caribenha: "A situação é difícil porque o olho do treinador faz toda a diferença", disse o atleta ao site da Confederação Brasileira de Atletismo.
Por fim, a estrutura improvisada cobrou seu preço: Darlan foi diagnosticado com uma hérnia de disco e acabou submetido a uma cirurgia, que o afastou das pistas por um mês em meio, durante a recuperação, e outros seis meses sem competir.
Outro problema de saúde acometeu o atleta brasileiro às vésperas de sua segunda participação olímpica. Após sua mãe e irmão contraírem a covid-19, Darlan também foi diagnosticado com a doença, chegou a ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e precisou cumprir o isolamento, longe da esposa e filha. Ele chegou a perder 10 kg em duas semanas.
Bicampeão pan-americano e preparação para Paris
Apesar dos apesares, Darlan rumou a Tóquio e se classificou com tranquilidade para as finais do arremesso de peso. Mas os obstáculos do ano anterior não o ajudaram a superar a marca de 22 metros, mantendo o 4º lugar na prova, melhor marca do Brasil na modalidade.
"Foi uma excelente competição. Acredito que poderia ter arremessado mais. Tenho que parar para analisar (...). A pandemia complicou tudo. Ano passado a gente vinha treinando forte. Entrou a pandemia, tudo que aconteceu, a cirurgia, Covid. Enfim... É difícil falar. Só quero agradecer a torcida de todos. Mais uma vez sou quarto, mas não quero mais isso na minha vida. Tem um novo ciclo, dessa vez mais curto. Se eu dava 200%, agora vou dar 300%", disse à época dos Jogos, em 2021.
E, desde então, Darlan se manteve firme na própria palavra. Em 2022, pelo Campeonato Mundial Indoor, se sagrou campeão e superou o atual recordista e ouro olímpico, Ryan Crouser. No ano seguinte, pelo Pan de Santiago, no Chile, conquistou o bicampeonato pan-americano.
De olho em seu primeiro pódio olímpico, Darlan finalizou a preparação para os Jogos de Paris na Espanha, junto de seu treinador. Como a determinação de um super-herói, o atleta segue fazendo jus à alcunha de Sr. Incrível.