Pense rápido, paulistano: quantas vezes você ouviu uma pessoa próxima a você criticando as ciclovias implantadas em São Paulo na gestão do atual prefeito Fernando Haddad (PT)? Pois, como os defensores da via exclusiva para bicicletas costumam lembrar, as ciclovias não existem só na capital paulista, mas sim no mundo todo – provavelmente, irão se espalhar ainda mais por todo o Brasil nos próximos anos. E acredite: há também discussões entre ciclistas e motoristas por outros países.
Sede dos Jogos Pan-Americanos de 2015, Toronto não foge à tendência mundial que veio para ficar: há ciclovias por diversas avenidas, e o uso de bicicletas é um hábito para os moradores, já acostumados com tal tipo de mobilidade – a capital paulista ainda tenta se adaptar à “novidade” .
Pesa a favor da cidade canadense de quase três milhões de habitantes o fato dela ser basicamente toda plana. O tipo de terreno incentiva os habitantes a usarem uma bicicleta para se locomoverem. Em São Paulo, a topografia com subidas e descidas íngremes desfavorece o uso do meio de transporte sobre duas rodas, sem motor.
Assim como a capital paulista, a cidade de Toronto também enfrenta a expansão de ciclovias. No início do século atual, foi lançado um plano que visava fazer o município ter 1000 km de ciclovias, mas até 2014 apenas 571 km foram implantados. Reportagens recentes de jornais locais mostram que também há certa resistência às faixas e os mesmos argumentos são utilizados tanto no Canadá quanto no Brasil. Para efeito de comparação, São Paulo tem a meta de entregar 400 km de ciclovias até o fim de 2015.
Assim como no Brasil, contudo, há desrespeito às ciclovias. A reportagem do Terra em Toronto flagrou uma discussão entre um ciclista e um motorista. Um carro, com o pisca-alerta ligado, parou ao lado da calçada, sobre a faixa exclusiva para bicicletas. A atitude revoltou um homem que pedalava, já que foi obrigado a invadir, perigosamente, a faixa de carros para continuar seu trajeto. Logo à frente do carro, uma caminhonete fazia o mesmo que o carro.
Irritado, o ciclista canadense buzinou contra o carro e fez gestos ao passar pelo veículo. Como o carro estava com os vidros escuros erguidos, o homem não conseguiu ver sequer se havia alguém dentro do automóvel. O carro tinha placa vermelha – ou seja, era alugado ou servia como um táxi.
Curiosamente, os taxistas são um dos grupos mais críticos às ciclovias no Brasil – não é raro ouvir na capital paulista a frase “só em São Paulo mesmo” quando eles passam por uma via para bicicletas. Recentemente, a cidade inaugurou a ciclovia da Avenida Paulista com o local tomado por ciclistas e pessoas que apoiam a construção de vias do tipo.
Uma das críticas paulistanas é que as ciclovias são poucas utilizadas. Tal fato não ocorre em Toronto, onde há incontáveis bicicletas estacionadas nas calçadas. Mas há uma cultura já estabelecida na cidade – os cicloativistas brasileiros costumam falar, com certa razão, que “o aumento das ciclovias proporciona o aumento de ciclistas” - a mesma frase é dita em Toronto.