O Ministério Público de Goiás (MPGO) deflagrou na manhã desta terça-feira, 18, a Operação Penalidade Máxima II, visando obter novos vestígios da atuação de uma organização criminosa que tem atuação especializada na manipulação de resultados esportivos de jogos de futebol profissional - incluindo o Campeonato Brasileiro da Série A. Três mandados de prisão preventiva estão sendo cumpridos.
A operação foi deflagrada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI).
De acordo com o MP, há suspeitas de que o grupo criminoso tenha concretamente atuado em pelo menos cinco jogos da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2022, assim como em cinco partidas de Campeonatos Estaduais, entre eles, os campeonatos Goiano, Gaúcho, Mato-Grossense e Paulista, todos deste ano.
Além dos três mandados de prisão preventiva, também são cumpridos 20 mandados de busca e apreensão em 16 municípios de seis estados, expedidos pela 2ª Vara Estadual dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e Lavagem ou Ocultação de Bens Direitos e Valores.
Os mandados estão sendo cumpridos em Goianira (GO), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Pelotas (RS), Santa Maria (RS), Erechim (RS), Chapecó (SC), Tubarão (SC), Bragança Paulista (SP), Guarulhos (SP), Santo André (SP), Santana do Parnaíba (SP), Santos (SP), Taubaté (SP) e Presidente Venceslau (SP).
Os Gaecos dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o Cyber Gaeco do MP de São Paulo e do Centro de Inteligência do MP do Rio de Janeiro, além das polícias Militar, Civil e Penal de Goiás, dão apoio ao cumprimento das diligências.
De acordo com o Ministério Público, a ação é um desdobramento da Operação Penalidade Máxima, deflagrada em fevereiro de 2023 a qual resultou no oferecimento de denúncia, já recebida pelo Poder Judiciário, com imputação dos crimes de integrar organização criminosa e corrupção em âmbito desportivo.
Jogador do Chapecoense é um dos investigados
Um dos investigados pela operação é o jogador Victor Ramos, da Chapecoense. Ao Terra, o assessor e empresário do atleta, Lucas Reis, negou qualquer envolvimento. Ele afirmou que o jogador está sendo investigado porque pode ter recebido uma ligação com proposta para participar do esquema, porém, Victor, segundo ele, jamais aceitaria a proposta.
"Além de ser empresário e assessor de Victor, sou amigo dele praticamente de infância e conheço o caráter e coração tanto dele, quanto da família dele. O pai dele é prefeito do interior do estado da Bahia, são pessoas de um caráter inexplicável e de um coração muito bonito, o que já resume muito quem é o Victor. Ele não precisa disso, porque é muito bem resolvido financeiramente, tem uma família bem estruturada", explicou o empresário.
"Então com muita convicção destacamos que ele não participou de nada. Ele está sendo realmente investigado, porque pode ter recebido uma ligação de proposta, porém, nunca aceitaria participar disso. Ele nunca participaria desse esquema, não comprometeria a carreira e o clube dele", acrescentou Lucas Reis, que informou que o jogador já entregou o celular à perícia para confirmar que não tem envolvimento no esquema.
Em nota, a Associação Chapecoense de Futebol também destacou confiar na integridade profissional do atleta e reiterou o seu posicionamento totalmente contrário a qualquer tipo de situação que envolva a manipulação de resultados de jogos. "O clube entende que tais condições são totalmente antidesportivas, ferindo os valores éticos e morais da modalidade", afirmou.
"A respeito da “Operação Penalidade Máxima” e do cumprimento do mandado relacionado à ela em Chapecó – envolvendo um jogador do clube – a agremiação alviverde reforçou o seu apoio e, principalmente, a confiança na integridade profissional do atleta", acrescentou o clube.
Por fim, tendo em vista as investigações, o clube destaca o seu compromisso em colaborar totalmente com as autoridades e oferecer todo o suporte e informações necessárias na apuração e esclarecimento do caso.
Jogadores de esquema ganhavam até R$ 100 mil
Conforme já apurado pelo MP, o grupo criminoso atuou mediante cooptação de jogadores profissionais de futebol, com oferta de valores entre R$ 50 mil a R$ 100 mil aos atletas para que eles cometessem eventos determinados nos jogos.
A investigação indica que as manipulações eram diversas e visavam, por exemplo, assegurar a punição a determinado jogador por cartão amarelo, cartão vermelho, cometimento de penalidade máxima, além de assegurar número de escanteios durante a partida e, até mesmo, o placar de derrota de determinado time no intervalo do jogo.
Há indícios de que as condutas previamente solicitadas aos jogadores visam possibilitar que os investigados consigam grandes lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, utilizando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar os lucros.
Segundo o MP, as práticas delitivas podem se enquadrar nos crimes previstos na Lei nº 12.850/13, arts. 41-C e 41-D do Estatuto do Torcedor e art. 1º da Lei n. 9.613/98.
Entre promotores, servidores e policiais envolvidos no cumprimento das diligências, foram 17 pessoas em Goiás, 79 em São Paulo, 16 em Santa Catarina, 16 no Rio Grande do Sul, 12 em Pernambuco e 4 no Rio de Janeiro.