Em que pese o time alterado, cheio de reservas - e com dois estreantes ao longo dos 90 minutos - e a altitude de 3.600 metros de La Paz (Bolívia), o Palmeiras voltou a apresentar defeitos coletivos sérios na derrota por 3 a 1 diante do Bolívar, e esses defeitos não podem ser relegados a segundo plano.
Na estreia do Verdão pela Libertadores 2023, Abel Ferreira insistiu na saída com 3 construtores (Mayke, Naves e Luan) e apenas um meio-campista à frente deles - conhecida no meio da análise como 'saída 3+1'. Essa opção deixa o time desequilibrado no ataque, com poucas opções de passe, e na defesa, com as laterais expostas e sem coberturas.
Para garantir qualidade no passe, o treinador palmeirense optou por inverter Fabinho e Jailson de funções. Ou seja, o jovem foi recuado para fazer o trabalho de primeiro meio-campista enquanto seu companheiro ganharia liberdade para se juntar aos atacantes do time.
Na prática, Jailson, que sempre foi primeiro volante, no estilo 'cão de guarda', se viu obrigado a subir ao ataque e retornar à defesa a todo instante. Na jogada do primeiro gol do Bolívar, o atleta estava fora de posição graças a esse movimento de 'vai e volta'. Além disso, Fabinho se tornou presa fácil para a marcação adversária e teve sua atuação prejudicada.
Não se trata de uma defesa a Jailson, que de fato jogou mal e foi expulso por um lance inexplicável. Pontuar essa mudança de função - que em última instância é uma escolha do treinador - é exercitar o senso crítico, algo que Abel Ferreira faz constantemente em coletivas e declarações públicas ao questionar os problemas do futebol sul-americano.
A insistência do português neste desenho '3+1' chega a ser injustificável. Ao longo dos últimos dois anos e meio, o treinador foi amplamente elogiado pela capacidade de solucionar problemas coletivos com criatividade e um repertório invejável, explorando o máximo de cada jogador. Isso não acontece no Palmeiras atualmente.
O resultado, no fim das contas, pouco importa. O Palmeiras deve se recuperar - e bem - no seu grupo da Libertadores. Com o time titular descansado, o Verdão segue como favorito à conquista do título estadual no próximo domingo. A questão é o rendimento: o Alviverde sofreu 20 finalizações do Bolívar, com oito no alvo - e três convertidas - e ainda teve dificuldades para criar - acertou apenas 3 chutes no alvo.
Culpar apenas um jogador pelo resultado em um esporte coletivo não é lógico - muito menos justo. A expulsão de Jailson não pode esconder esses problemas coletivos que o Palmeiras vem apresentando. A bola está com Abel Ferreira, cabe a ele buscar as melhores soluções e recolocar o Palmeiras no caminho das vitórias.