A vitória diante do São Paulo no último sábado, diante de mais de 50 mil pessoas no Morumbi, colocou novamente em evidência a grande sensação do Paulistão 2023, o São Bernardo. Este resultado deixou a equipe na condição de melhor campanha do estadual por algumas horas, posto que foi perdido após a vitória do Palmeiras contra a Ferroviária. Mesmo assim, o time do ABC Paulista não tem do que se queixar: está invicto contra os grandes; é o melhor ataque da competição (21 gols) e a segunda melhor defesa (8 gols sofridos); está 1 ponto atrás do líder geral e 6 na frente do terceiro colocado.
Por trás desta incrível campanha está um treinador jovem, de fala firme, convicto quando explica seu trabalho, e que ostenta a invejável marca de quase dois anos no comando do mesmo time, algo raro no futebol brasileiro: Marcio Zanardi, de 44 anos.
Com larga experiência no futebol de base, o treinador dirigiu equipes como Corinthians, Guarani, Portuguesa e Santos. Chegou ao Bernô em 2021, para comandar o time Sub-20. Recebeu uma oportunidade na equipe profissional durante a Copa Paulista do mesmo ano, da qual foi campeão, e nunca mais saiu. Além do título, Marcio acumula boas campanhas pelo clube. A principal delas na Série D de 2022, quando o São Bernardo foi semifinalista e conquistou o acesso para a Série C.
Em entrevista ao LANCE!, o técnico revelou o segredo de sua equipe e criticou a fórmula de disputa do estadual. Também comentou as chances do São Bernardo no Paulistão e foi convicto ao projetar o duelo contra o Palmeiras nas quartas de final da competição: 'O Marcio tem um plano'.
Confira a entrevista com Marcio Zanardi:
LANCE!: Em um campeonato tão disputado como o Paulistão, o São Bernardo é a grande sensação pelo bom futebol e pela campanha. Qual o segredo desta equipe?
- Estamos há quase três anos com a mesma espinha dorsal: a manutenção dos profissionais, comissão técnica e jogadores. O São Bernardo hoje é um clube empresa e a gente tem muita tranquilidade nos processos. Além, claro, de muito trabalho. Eu moro aqui dentro do CT, em Atibaia. Estamos 24 horas por dia discutindo trabalho, metodologia, processos, eu acho que isso vem junto com o que a gente acredita.
L!: Você dirige a equipe profissional do São Bernardo desde 2021. Há algo que podemos ver nos jogos que reflete essa sequência de trabalho?
- A característica do nosso time é de uma equipe leve, que gosta de ter a bola, tem um 'perde e pressiona' muito interessante e tem a coragem de pressionar alto independentemente do adversário. Nós criamos estes comportamentos dentro dos trabalhos, e isso é muito importante. Quando você institui alguns processos e o resultado esportivo vem junto, isso nos dá credibilidade. O treino é o jogo e o jogo é o treino. Não adianta eu cobrar deles coisas que eu não faço no dia a dia.
L!: Apesar dos bons resultados, seu trabalho só tem um título até agora, a Copa Paulista de 2021. Vocês enxergam o Paulistão deste ano como um título palpável?
- Sem dúvida. Em todos os trabalhos e processos que tivemos, a gente busca o título. Sabemos que não é fácil, mas eu preciso sempre querer mais. Claro que é muito complicado, mas a gente vem trabalhando, ao longo de todo esse campeonato, para que a gente possa chegar na final e ser campeão. Aqui no Brasil, só tem valor realmente quem consegue conquistar títulos, então a gente trabalha sempre em cima disso.
L!: Que não deveria ser assim, né...
- É verdade. Quando você consegue chegar entre os quatro, uma semifinal ou final, o trabalho está muito bem feito. Mas o Brasil é dessa forma, nem sempre o segundo ou terceiro colocado tem valor. Para nós, dentro de um clube-empresa, quando conseguimos o acesso para a série C, perdemos uma semifinal. Claro que perdemos jogadores, tiveram várias situações, mas a gente lutou para buscar o título.
L!: Já está definido que o São Bernardo enfrentará o Palmeiras nas quartas de final do Paulistão. Como essa definição antecipada ajuda na preparação de vocês? E a torcida do Palmeiras costuma dizer que, em jogos decisivos, o Abel sempre tem um plano. O Marcio também tem um plano para enfrentar o Palmeiras?
- Sim, o Marcio tem um plano. Já estudei muito o time do Palmeiras, a gente vem assistindo eles nos últimos dois anos. Se o Palmeiras der oportunidade, a gente tem uma possibilidade ainda de classificar em primeiro. Então, é importante buscar sempre vencer, mas eu tenho um plano. Para vencer o Palmeiras, uma das melhores equipes do continente nos últimos anos, a gente precisa de uma estratégia. Você não vai jogar contra ninguém, é contra o Palmeiras.
L!: Sobre a busca pela primeira posição geral, o São Bernardo tem a segunda melhor campanha geral, acima dos grandes, e ainda assim pode se classificar para o mata-mata com a desvantagem de jogar fora de casa. Como você enxerga esse regulamento? É necessária uma mudança para fazer justiça aos clubes menores?
- No início do ano, tivemos um congresso técnico, com todos os treinadores e dirigentes na Federação Paulista. Foi pedida a nossa opinião e todos foram pela mudança do regulamento. Não só pelas melhores campanhas mas, como eu posso brigar por classificação com Palmeiras e Santo André se eu não jogo contra eles no meu grupo? Então, nós sugerimos várias situações: classificar os oito primeiros, por exemplo, e o primeiro enfrenta o oitavo. Eu também acho que isso seria o mais justo e mais correto. Mas as decisões são feitas pelos dirigentes, a gente não tem essa autonomia. Fica o gostinho de que, se fosse diferente, poderíamos enfrentar uma outra equipe (no mata-mata), classificar melhor ou até mesmo decidir em casa.
L!: Pensando nas competições nacionais deste ano, qual a expectativa para o São Bernardo na Copa do Brasil e na Série C?
- Na Copa do Brasil, é importante você ir passando de fase. Eu sempre falei que o São Bernardo precisa se acostumar a disputar jogos grandes, e a Copa do Brasil vai nos dar isso. Com relação à Série C, nós vamos buscar o título para, quem sabe, em 2024 já disputar uma Série B. Esse é o nosso pensamento: ir cada vez mais longe dentro da Copa do Brasil e buscar o acesso da C para a B ainda em 2023.