Os bastidores do Palmeiras seguem em ebulição, principalmente após a entrevista coletiva de Leila Pereira, na quarta-feira (11). Quem se manifestou nesta quinta (12) foi o ex-presidente Paulo Nobre, que escreveu, para o Uol, uma carta aberta dedicada à mandatária atual do clube. E o ex-dirigente não poupou palavras para expressar sua indignação. Ele, inclusive, colocou em dúvida o conhecimento e o amor de sua desafeta sobre a história do Verdão.
Durante a conversa com jornalistas na Academia de Futebol, Leila deu inúmeros recados para seus adversários e críticos, sendo um deles Paulo Nobre. Segundo a presidente, antes de ela chegar como patrocinadora, o Alviverde vivia brigando contra o rebaixamento, e em 2014 não teve méritos ao fugir da zona degola, já que teria conseguido a façanha devido a uma vitória do Santos. O ex-mandatário respondeu firme.
- Sua arrogância e soberba culminaram na tentativa de reescrever os fatos, falando que só não fomos rebaixados em 2014 por ajuda de outro clube. Não me surpreende esta sua fala, já que a senhora não conhece mesmo quase nada das nossas dores e glórias, uma vez que descobriu que o Palmeiras existe há menos de dez anos.
Paulo Nobre presidiu o Palmeiras entre 2013 e 2016, sendo com ele que a parceria com a Crefisa foi firmada, em 2015. No entanto, a relação foi rompida, inclusive com seu antigo aliado, Maurício Galiotte, que o sucedeu na presidência. Dessa forma, desiludido com a vida política do clube, Nobre renunciou ao cargo de conselheiro vitalício do clube em 2018 e nunca mais participou dos bastidores. Ele expressou seu sentimento ao ver a entrevista de Leila.
- Ao ver sua infeliz entrevista coletiva, Senhora Presidente, vossa senhoria me fez chorar. De indignação, de nojo e de raiva, por ver o Palestra ser humilhado em rede nacional por uma dirigente sem noção que não tem ideia do que é ser palmeirense - diz a carta.
Confira abaixo a carta de Paulo Nobre na íntegra:
"Senhora Presidente,
Vossa Senhoria e todos os palmeirenses sabem que me recolhi ao papel de simples torcedor depois de renunciar ao cargo de conselheiro vitalício da Sociedade Esportiva Palmeiras, em 2018, para não ter que conviver mais com pessoas como a senhora e sua turma.
Em silêncio, nestes seis anos e meio desde que deixei o cargo de presidente, a maior honraria e o maior desafio da minha vida, verti lágrimas de alegria e sofrimento com os títulos conquistados e as duras derrotas em campo.
Mas ontem, ao ver sua infeliz entrevista coletiva, Senhora Presidente, vossa senhoria me fez chorar. De indignação, de nojo e de raiva, por ver o Palestra ser humilhado em rede nacional por uma dirigente sem noção que não tem ideia do que é ser palmeirense.
Ontem, o Palmeiras sofreu um enorme ataque de quem tem o dever, moral e de ofício, de defendê-lo. Não sei se a senhora alcança isso. Provavelmente não!
Sua arrogância e soberba culminaram na tentativa de reescrever os fatos, falando que só não fomos rebaixados em 2014 por ajuda de outro clube.
Não me surpreende esta sua fala, já que a senhora não conhece mesmo quase nada das nossas dores e glórias, uma vez que descobriu que o Palmeiras existe há menos de dez anos.
Em vários outros momentos de sua ainda inexpressiva gestão como presidente, o sentimento que a senhora gerou em mim e na família palmeirenses foi apenas o de vergonha alheia.
Como por exemplo quando simulou estar ensinando jogadores a bater pênaltis ou quando serviu água ao elenco, como aeromoça, no seu caríssimo avião. Isso para não falar de suas aparições histéricas, pulando e simulando uma alegria falsa em vitórias do Palmeiras.
Em outras oportunidades, a senhora apenas gerou desconfiança sobre sua capacidade de liderar, com seu habitual silêncio nas eliminações de competições importantes ou quando proibiu todo o elenco de dar entrevistas sem nenhum motivo plausível.
Mas ontem a senhora passou de todos os limites, senhora Presidente. E tenho certeza de que o sentimento que gerou, em mim e em milhões de pessoas, foi de asco e revolta mesmo.
O Palmeiras não foi fundado em 2015. Dizer que, antes da senhora e das suas empresas aqui chegarem, vivíamos apenas de sofrimento fala muito mais sobre sua ignorância rotineira do que sobre nossa trajetória.
Ao contrário do que a senhora quer fazer crer, a história de luta e conquistas desta família não começou quando as suas empresas passaram a ser patrocinadora da paixão de milhões de pessoas, coletividade da qual a senhora não faz parte. O seu dinheiro pode comprar muita coisa, mas a senhora nunca será uma de nós de verdade.
Me permita, senhora presidente, contar um pouco da história do clube que vossa senhoria preside. Sem a Crefisa na camisa, já éramos o maior campeão do Brasil. Havíamos pintado a América de verde e branco. Nos vingamos do Maracanazzo e nos tornamos o primeiro campeão mundial de clubes, em 1951. Representamos a Seleção brasileira em 1965, entre tantos outros feitos que a senhora demonstra desconhecer. Sofremos várias vezes, sim. Mas sempre demos a volta por cima com altivez. E sua petulante praga de que voltaremos à segunda divisão quando a senhora pegar suas bolsas caríssimas e sair do cargo de presidente, ah essa praga não vai pegar!
Apesar de não conhecer quase nada da nossa história, a senhora já deve ter ouvido que explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E explicar essa emoção para a senhora, que não nasceu Palestra, é simplesmente impossível. O orgulho de SER PALMEIRENSE SEMPRE E EM QUALQUER SITUAÇÃO precede a emoção de ser campeão! Difícil para senhora entender, não é?!
Tenha o mínimo de decoro e decência, senhora presidente. Respeite a Sociedade Esportiva que lhe tirou do anonimato. Honre e respeite o privilégio de ter em suas mãos o poder de representar este clube centenário, que é a razão de viver de milhões de pessoas.
De tanto ser chamada de "dona" Leila Pereira, a senhora deve ter achado, em seus devaneios, que é agora dona.. do Palmeiras. Algo que não é e, se Deus quiser, jamais será.
Em sua memória seletiva como dirigente/patrocinadora, que não consegue enxergar conflito de interesses por estar com dois chapéus ao mesmo tempo, a senhora se esqueceu de dizer que por quase oito anos usufruiu sem nenhum escrúpulo do apoio da uniformizada que que agora passou a atacar. Os iludiu com falsas promessas e não aceitou ser cobrada posteriormente.
Curioso notar que não foi a dor do palmeirense com a eliminação da Libertadores em casa, há uma semana, que lhe fez vociferar. Foram pichações às lojas da sua empresa que te tiraram do costumeiro e cômodo sumiço em tempos de derrotas. O que mexeu com seus brios foi a ameaça à sua verdadeira e maior paixão, a Sociedade Anônima Crefisa.
Senhora presidente, vossa excelência é muito vivida e deve saber que, mesmo sendo muito rica, não conseguirá comprar a admiração dos palmeirenses. Isso se conquista. Dinheiro, mesmo em enorme quantidade, também não compra berço. Não compra educação. Não compra postura. Não compra idolatria. E, principalmente, não comprará o nosso respeito.
Como me aposentei da política do clube e não tenho nenhum objetivo que não seja desejar o melhor para o meu time de coração, seguirei aqui torcendo para que sua gestão enfim encontre um rumo e devolva a alegria e o orgulho aos palmeirenses.
O que me consola hoje é saber que nada é para sempre e que, cedo ou tarde, voltaremos a ter um palmeirense de verdade neste cargo tão importante. Depois da senhora, e apesar da senhora, o Palmeiras continuará sendo o Palmeiras.
"Hoje você é quem manda
"Falou, 'tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda falando de lado
E olhando pro chão, viu"
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.
Avanti Palestra, sempre!
Paulo Nobre, ex-presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras"