O goleiro Aranha fará ainda nesta sexta-feira um Boletim de Ocorrência em Porto Alegre para colaborar com o Inquérito Policial aberto devido aos atos racistas que sofreu de torcedores do Grêmio na derrota por 2 a 0 para o Santos, na quinta-feira, na Arena Grêmio, pela ida das oitavas de final da Copa do Brasil. O departamento jurídico do Santos, no entanto, já informou que não pedirá punição ao clube gaúcho no caso.
"O inquérito, com as imagens da televisão, foi iniciado de ofício, que significa que não seria nem necessário o Boletim de Ocorrência. A própria polícia de Porto Alegre já iniciou a investigação, mas o jogador reportará os fatos na delegacia. O Santos não vai ter participação no caso, assim como o próprio atleta, só como colaborador", disse Cristiano Caús, advogado santista.
"Também queremos deixar claro, que não será um procedimento do Santos contra o Grêmio, mas, sim, contra a meia dúzia de torcedores que praticaram um ato inadequado, possivelmente criminoso. A posição do Santos é contrária a qualquer punição para o clube. Queremos identificar os autores", acrescentou.
"Não acho que o Grêmio deva ser punido por atos isolados de torcedores. Agora, caberá a cada justiça uma condição, mas a posição do Santos é de repudiar esses atos e aguardar os desdobramentos", completou.
O Santos ainda se manifestou por meio de nota oficial dizendo que pretende para o jogo da volta, marcado para 3 de setembro, na Vila Belmiro, "unir jogadores dos dois clubes em um ato de solidariedade contra o racismo". O presidente do clube, Odílio Rodrigues, também reiterou o desejo de punição somente aos torcedores responsáveis: "a punição da instituição não atinge quem deve ser atingido. O Grêmio é um clube grandioso; com certeza a diretoria do Grêmio não compactua com isso nem a grande maioria da torcida do Grêmio. Acho que a gente tem que começar a punir os que praticam a violência. A punição é pessoal e intransferível. A pessoa tem que sofrer o rigor da lei. Não vamos resolver enquanto a gente não atingir o agressor, enquanto ele não for proibido de entrar no estádio, não tiver que ir à delegacia prestar depoimento”, disse o dirigente.
Aranha foi insultado no final da partida por torcedores na Arena, em Porto Alegre. Câmeras do canal por assinatura ESPN Brasil flagaram uma torcedora claramente chamando Aranha de "macaco" e o resto do grupo fazendo sons que lembravam o animal.
Na saída de campo, Aranha demonstrou revolta com a atitude dos torcedores e lembrou que o próprio Grêmio já fez campanha contra o racismo no futebol brasileiro.
"A outra vez que viemos aqui jogar a Copa do Brasil tinha campanha contra racismo, não é à toa. Xingar, pegar no pé é normal. Agora me chamaram de 'preto fedido, seu preto, cambada de preto'. Estava me segurando. Quando começou o corinho com sons de macaco eu até pedi para o câmera filmar, eu fiquei p... .Quem joga aqui sabe, sermpre tem racista no meio deles. Está dado o recado, agora é ficar esperto para a próxima", desabafou o goleiro.
"Está o recado para ficarem espertos para a próxima partida. Tem leis, mas no futebol sabemos que o torcedor usa de várias maneiras para desestabilizar. Não vou deixar de jogar o meu futebol por manifestação de torcedor. Dói, mas tenho que jogar", completou.
O técnico Oswaldo de Oliveira pediu punição aos insultos racistas direcionados ao goleiro citando o assunto como "badalado" no País e pedindo por rigor das autoridades para o novo caso envolvendo o camisa 1 santista.
O chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Guilherme Wondracek, afirmou nesta sexta que a entidade está empenhada em identificar os torcedores do Grêmio que usaram ofensas racistas contra o goleiro. Ele pediu que torcedores que estavam presentes na Arena Grêmio enviem denúncias ou vídeos que auxiliem nas investigações.
A diretoria do Grêmio se manifestou sobre o assunto apenas por meio de nota oficial no site do clube, repudiando o racismo e afirmando que qualquer sócio que tenha participado na ação será imediatamente desfiliado. Os dirigentes tricolores passaram a manhã reunidos e incomunicáveis, mas devem se pronunciar ainda nesta sexta.