O goleiro Aranha, do Santos, voltou a se pronunciar sobre as manifestações racistas que sofreu na partida diante do Grêmio, na quinta-feira. Após fazer o Boletim de Ocorrência na tarde desta sexta, em Porto Alegre, ele gravou um vídeo à Santos TV, canal oficial do clube no Youtube, pedindo por respeito após o caso e que espera ver as "leis cumpridas" com os responsáveis.
"Eu sei que muitas pessoas fazem xingamentos muito feios, racistas, também, porque é a maneira que encontram de ferir a gente, de desestabilizar, mas é uma maneira errada. Temos leis para isso, e esperamos que sejam cumpridas, já que foram feitas com muita luta e esforço. E da mesma maneira como respeito as pessoas, gostaria de ser respeitado também", disse o jogador em um trecho do vídeo.
"Falei que fiquei aliviado e um pouco satisfeito pela manifestação deles porque o mal quando não é detectado ele cresce e se fortalece. Para a nossa felicidade esse mal mostrou a sua cara, se manifestou. Então, deu a oportunidade de nos manifestarmos, contra-atacarmos, buscarmos os nossos direitos. Se teve uma coisa boa nessa história é que mais uma vez ficou evidente que existe e precisamos combater enquanto está em um nível combatível", completou.
Na gravação, o jogador ainda citou se sentir "na obrigação" de gravar o vídeo para alcançar outras pessoas vitimadas da mesma forma e disse que o problema não é novo.
Aranha fez o B.O. para colaborar com o Inquérito Policial aberto. O departamento jurídico do Santos, no entanto, já informou que não pedirá punição ao clube gaúcho.
O Santos ainda se manifestou por meio de nota oficial dizendo que pretende, para o jogo da volta, marcado para 3 de setembro, na Vila Belmiro, "unir jogadores dos dois clubes em um ato de solidariedade contra o racismo".
Aranha foi insultado no final da partida por torcedores na Arena, em Porto Alegre. Câmeras do canal por assinatura ESPN Brasil flagaram uma torcedora claramente o chamando de "macaco" e o resto do grupo fazendo sons que lembravam o animal. Na saída de campo, demonstrou revolta com a atitude dos torcedores e lembrou que o próprio Grêmio já fez campanha contra o racismo no futebol brasileiro.
O técnico Oswaldo de Oliveira pediu punição aos insultos racistas direcionados ao goleiro citando o assunto como "badalado" no País e pedindo por rigor das autoridades para o novo caso envolvendo o camisa 1 santista.
O chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Guilherme Wondracek, afirmou nesta sexta que a entidade está empenhada em identificar os torcedores do Grêmio que usaram ofensas racistas contra o goleiro. Ele pediu que torcedores que estavam presentes na Arena Grêmio enviem denúncias ou vídeos que auxiliem nas investigações.
A diretoria do Grêmio se manifestou sobre o assunto apenas por meio de nota oficial no site do clube, repudiando o racismo e afirmando que qualquer sócio que tenha participado na ação será imediatamente desfiliado. Os dirigentes tricolores passaram a manhã reunidos e incomunicáveis, mas devem se pronunciar ainda nesta sexta.
Veja o pronunciamento completo do goleiro Aranha:
"Gostaria de falar sobre o triste, lamentável e polêmico episódio de ontem, no jogo. Todos os que me conhecem sabem que não gosto de dar entrevistas, de ir a programas de televisão, e, muito menos, me promover em cima de uma situação lamentável como essa. Mas, pela educação que tive, a convivência com outras pessoas que já sofreram essa situação, não poderia deixar de falar, tenho que mostrar pois, graças a Deus, com muito trabalho hoje tenho o poder de falar com outras pessoas e se isso de alguma maneira vai ajudar, vai colaborar, me sinto na obrigação de fazer.
Palavras ferem, então precisamos ter muito cuidado com o que falamos. Eu sei que muitas pessoas fazem xingamentos muito feios, racistas, também, porque é a maneira que encontram de ferir a gente, desestabilizar, mas é uma maneira errada. Tem leis para isso, e esperamos que sejam cumpridas, já que foram feitas com muita luta e esforço. E da mesma maneira como respeito as pessoas, gostaria de ser respeitado, também. Não está só na arquibancada, está em todo lugar. Falei que fiquei aliviado e um pouco satisfeito pela manifestação deles porque o mal quando não é detectado ele cresce e se fortalece. Para a nossa felicidade esse mal mostrou a sua cara, se manifestou. Então, deu a oportunidade de nos manifestarmos, contra-atacarmos e buscarmos os nossos direitos. Se teve uma coisa boa nessa história de ontem é que mais uma vez ficou evidente que existe e precisamos combater enquanto está em um nível combatível.
Quando falo de racismo (preconceito) não é só do negro, é de todas as áreas e gêneros: raça, cor, religião, seja o que for, temos que ser mais próximos, solidários uns com os outros, e sempre que percebermos essas atitudes temos que combater já no começo. As pessoas tem que saber de onde vieram, as suas raízes, e acima de tudo respeitar umas as outras porque só assim vamos começar uma nova maneira de enxergar o mundo".