O técnico do Santos, Enderson Moreira, discordou da interpretação do goleiro Aranha sobre as vaias da torcida do Grêmio no empate por 0 a 0 entre as equipes, nesta quinta-feira, após os episódios de ofensas raciais sofridas pelo goleiro há 21 dias. O comandante santista acredita que as vaias não foram reflexos de sua postura no ato racista, alegando que os torcedores apenas usaram do artifício para incentivar a equipe, mas exaltou a maturidade do goleiro no retorno a Porto Alegre.
"Eu não posso (concordar com ele). Cada pessoa tem a sua visão. Ninguém pode, na verdade, sentir aquilo que o Aranha sentiu naquele dia. Ele está chateado, magoado, vejo com gravidade o que ocorreu, infelizmente no nosso país estamos acostumados com a impunidade, então, quando tem, as pessoas não entendem. Eu sei que a torcida do Grêmio é uma torcida que empurra, apoia, mas a gente sabe que tem algumas torcedores no meio que fazem coisas erradas. Entendo a mágoa dele, mas sabemos que a torcida aqui tem amor pelo clube", disse Enderson.
"Só tenho que elogiá-lo porque imagino o quanto foi difícil retornar aqui. As lembranças estão muito vivas na nossa memória, imagina para ele. Ele conseguiu concentrar única e exclusivamente no jogo e em nada do que aconteceu fora. Nos ajudou muito na conquista desse um ponto. Ele é maduro, experiente e sabe se comportar nesse momento", completou.
Aranha citou ter interpretado "vaias diferentes" durante toda a partida, alegando que ficou evidente que não houve perdão dos gremistas por ter relatado o incidente publicamente na ocasião, e questionou um jornalista após ser contrariado sobre o teor das vaias.
"Fiquei triste porque deu para ver qual é o pensamento do torcedor gremista. Não foi só a garota. Ela é quem está pagando, principalmente porque apareceu, mas tinha muita gente se manifestando hoje contra a minha atitude, sendo que a única coisa que fiz foi relatar ao árbitro. É a justiça, é a lei, a punição tem que servir para ensinar", disse o goleiro, antes de desabafar sobre as vaias.
"Não ligo para vaias, manifestações contrárias, desde que sejam do esporte. Nós não podemos ser hipócritas, todos sabem que hoje foi diferente", completou.
Na sequência, Aranha foi questionado se não achava natural ser vaiado em um estádio de futebol e se irritou: "por que foi diferente? Por tudo o que aconteceu no outro jogo. Ou não foi nada? Você concorda com o que aconteceu?", perguntou a uma jornalista. O jogador encerrou as entrevistas na sequência e se dirigiu ao vestiário contrariado.
Com o empate, o Santos se manteve na nona colocação, com 30 pontos.