A camisa 10 do Orlando City, com seu nome nas costas, é de longe a campeã de vendas. Seu rosto estampa outdoors pela cidade de Mickey e companhia. A torcida canta seu nome com o legítimo sotaque de quem tem dificuldade em pronunciar o acento agudo da forma apropriada. Kaká, 33 anos recém-completados, é o principal protagonista hoje da Major League Soccer, dos Estados Unidos. Mas, bom moço que é, sabe que existe espaço para outros ídolos.
“Vem correndo para cá”, responde, sem papas na língua, ao ser questionado sobre o que diria sobre a MLS se o seu telefone tocasse naquele momento em que recebia a reportagem do Terra para esta entrevista exclusiva e seu interlocutor fosse Ronaldinho. Seu ex-companheiro de Seleção Brasileira, Ronaldinho está infeliz no futebol mexicano. Seu irmão e empresário, Assis, já sinalizou em algumas reportagens que o destino do jogador pode ser o futebol dos EUA.
“Com o talento que ele tem, e o jogador que ele é, com certeza será um grande destaque da liga americana. Mas claro que eu vou falar para ele colocar o Orlando como preferência”, afirmou ainda o meia, o condutor de uma equipe construída do zero, depois que a franquia foi alçada à MLS com a entrada do milionário e empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva.
“É muito difícil você construir um time, é preciso paciência”, confessa, sobre o fato de a equipe, por exemplo, ainda não ter vencido em casa – mesmo com a média de público no Citrus Bowl Stadium, em Orlando, beirando os 40 mil torcedores por partida. Para engrenar na MLS (o Orlando City tem apenas duas vitórias até aqui), Kaká espera ainda contar com a ajuda de um velho conhecido.
“Se me perguntarem, como perguntaram, eu só tenho elogios para o Luís Fabiano como pessoa, como amigo, e como jogador”, contou sobre o atacante do São Paulo, que descontente com a postura da diretoria tricolor, já deu claros sinais de que pode sair no meio do ano, seis meses antes do fim do seu contrato.
Neste bate papo exclusivo antes do amistoso vencido diante da Ponte Preta, na última semana, na primeira vitória da equipe atuando em casa, Kaká se diz ansioso para a chegada em definitivo da família, faz um balanço de sua passagem até aqui pelo futebol dos EUA, e resume a grande diferença entre a liga americana e o Campeonato Brasileiro: “se dentro do campo o que me impressionou foi a competitividade, fora foi a organização”.
Confira a entrevista na íntegra:
Terra - Como está sendo a sua rotina até aqui nos Estados Unidos e o que te chamou mais a atenção nesta experiência na Major League Soccer?
Kaká –
Minha rotina tem sido bem tranquila até aqui. Eu treino todos os dias pela manhã. Quando jogo aqui, não se concentra, a gente se encontra diretamente no estádio. Quando joga fora, viaja um dia antes. Pela tarde, eu tenho resolvido ainda alguns probleminhas, como questão de casa, documentação, acertando todos esses detalhes até ficar tudo redondinho. Assim, a minha família pode vir para cá, o que já vai acontecer agora no mês de maio. Aí as coisas vão ficar um pouco mais tranquilas.
Terra - E o que mais te impressionou?
Kaká - A competitividade da liga. Não dá para você dizer qual time é o favorito, qual é que vai ganhar, qual que não vai brigar pelo título. Em duas, três rodadas, as coisas mudam muito, então é isso o que tem mais me impressionado até agora.
Terra - Para nós, no Brasil, tem chamado bastante a atenção a torcida, sendo que a média de público do Orlando City beira os 40 mil torcedores em casa. Você esperava por isso?
Kaká - Me impressionou muito. No primeiro jogo tinham 65 mil pessoas aqui no estádio. E a gente ficou com aquela impressão de que era o primeiro jogo, uma coisa nova para a cidade, primeiro time na Major League. Só que os outros jogos vieram com a mesma sequência, e isso me impressionou muito mesmo. É uma média de público muito alta, até por ser o nosso primeiro ano aqui. E quando a gente vai jogar fora, os estádios estão cheios também, sempre tem de 20 a 30 mil pessoas. Tudo sempre muito organizado, estádio de futebol mesmo, enfim, tem sido uma experiência muito boa.
Terra - O que a Major League Soccer pode ensinar para o Campeonato Brasileiro?
Kaká - Organização. Se dentro do campo o que me impressionou foi a competitividade, fora foi a organização. É um campeonato extremamente organizado. Está tudo escrito. Todo mundo já sabe o que vai acontecer, com quem vai jogar, como, quando, onde os jogos vão ser transmitidos, todos os detalhes. O número de ingressos que os jogadores recebem, dentro e fora de casa, relacionamento com a imprensa, com o sindicato dos jogadores, isso tudo é extremamente organizado. Acho que essa organização poderia ser um exemplo importante para o Campeonato Brasileiro.
Terra - Você citou a questão de relacionamento com o sindicato dos jogadores. Você tem acompanhado o movimento do Bom Senso? Poderia partir dos jogadores essas mudanças de organização no futebol brasileiro?
Kaká - Tenho acompanhado bastante, sim, até porque muitos dos líderes do Bom Senso são meus amigos pessoais. Eu apoio o Bom Senso com toda a força. Eu fico feliz de existir um movimento desse no Brasil lutando por esse ideal, pelo bem de todos no futebol. E espero que essa luta continue, que os jogadores possam cada vez mais se engajar não só no Bom Senso, mas em qualquer movimento que for a favor do futebol em geral para que melhore e seja mais organizado.
Terra - A Major League Soccer hoje poderia, a exemplo dos clubes mexicanos, já pedir uma vaga na Libertadores e unir de uma vez as Américas?
Kaká - Eu gostaria muito que a Conmebol pudesse abrir essa oportunidade para um clube americano, e se possível o Orlando City. Eu gostaria muito de jogar uma Libertadores, e com um time norte-americano seria uma grande experiência. Então, que a Conmebol a partir de agora possa estar olhando com mais carinho a possibilidade de convidar um clube da MLS.
Terra - Se o Ronaldinho te ligar agora perguntando sobre a Major League Soccer, o que você vai falar para ele?
Kaká - Para ele vir correndo. Vem correndo, porque com o talento que ele tem, e o jogador que ele é, com certeza será um grande destaque da liga americana. Mas claro que eu vou falar para ele colocar o Orlando como preferência.
Terra - Falando em Orlando City, o Luís Fabiano será seu companheiro ‘very soon'?
Kaká - Não sei, cara, isso aí é algo que o clube acaba discutindo e eu acabo não tendo muita influência. Se me perguntarem, como perguntaram, eu só tenho elogios para o Luís Fabiano como pessoa, como amigo e como jogador. Agora essa parte de contrato, decidir se vai, como vai, se não vai, aí já não cabe a mim.
Terra - Falando agora de um outro ex-companheiro seu de São Paulo. Você acha que o (Paulo Henrique) Ganso caiu de rendimento após a sua saída?
Kaká - O Ganso oscila bons e maus momentos. No ano passado nós tivemos um excelente momento nos seis meses que eu passei por lá no São Paulo. E eu vi um excelente jogador, um craque, alguém diferenciado, que quanto mais ele conseguir ter uma continuidade de bons jogos, mas ele vai se destacar. Então é isso o que todo mundo espera.
O São Paulo tentou investir num treinador argentino, com o Alejandro Sabella. Como você viu essa situação e agora com o Milton Cruz à frente da equipe?
Kaká -
Eu gostaria muito de ver o Milton Cruz efetivado por toda a história que ele tem dentro do São Paulo. É um bom momento, até por todos os anos que ele passou como auxiliar. O grupo gosta dele, os jogadores todos gostam dele, é um cara com experiência, que já viveu muitas coisas dentro do futebol, então eu gostaria muito de ver ele efetivado mesmo como o treinador do São Paulo.