A Copa do Mundo está prestes a acontecer e milhares de torcedores estão deixando de lado smartphones e tablets para colecionar figurinhas, um costume que atravessa as décadas e desafia a era digital.
Uma brincadeira de criança praticada sobretudo por adultos, o álbum de figurinhas da Copa do Mundo da Fifa é um fenômeno de culto e um negócio de milhões de dólares para o Grupo Panini, empresa italiana que imprime os álbuns desde a Copa do México, em 1970.
Torcedores de todo o mundo compram os pacotinhos e os rasgam ansiosamente, para em seguida trocar entre si figurinhas de Lionel Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney. A Panini não revela a estimativa de vendas, mas executivos dizem que o Mundial deste ano no Brasil vai bater vários recordes para a companhia sediada em Modena.
O Brasil é o maior mercado da Panini e a mania por figurinhas é um dos fatores que têm esquentado a animação com a Copa, com início marcado para 12 de junho após um ano de desgostos por causa de atrasos nos preparativos e bilhões em recursos do contribuinte sendo gastos para sediar o evento.
"É tudo pelo futebol e o prazer de trocar figurinhas" , disse Alexandre Gabel, um publicitário de 37 anos que foi com seu filho a uma feira de figurinhas, em São Paulo. "E você ainda acaba com um ótimo souvenir."
A fábrica da Panini, instalada em um subúrbio industrial do norte da capital paulista, opera noite e dia, com suas máquinas barulhentas cortando, empacotando e enviando mais de 8 milhões de envelopes por dia.
Setenta por cento dos envelopes com 5 figurinhas cada é vendido no Brasil por 1 real, e o resto é enviado para toda América Latina.
"O lançamento do álbum de figurinhas marca o verdadeiro início da Copa do Mundo", disse Eduardo Martins, chefe-executivo da Panini no Brasil. "É uma febre."
A companhia espera alcançar mais de 8 milhões de colecionadores somente no Brasil, onde até mesmo a presidente Dilma Rousseff confessou ajudar seu neto a completar o álbum de 620 figurinhas.
Durante a Copa da África do Sul em 2010, os bancas brasileiras venderam 220 milhões de cromos, e frequentemente ficavam sem figurinhas, ajudando o Brasil a superar a Alemanha como principal mercado da Panini.
"Dessa vez nós esperamos que as vendas sejam mais de 50 por cento maiores", disse José Antonio Mantovani, diretor de um sindicato de bancos em São Paulo.
A Panini é tão identificada com a Copa do Mundo que recentemente manifestantes queimaram álbuns de figurinhas pelas ruas de São Paulo para expressar a revolta contra o que enxergam como um desperdício de dinheiro.
As figurinhas plastificadas se tornaram uma commodity cobiçada, a ponto de um caminhão de entrega com 300 mil figurinhas ser roubado no Rio de Janeiro, deixando colecionadores preocupados com uma possível seca no mercado.
Martins se orgulha da acurácia da Panini em acertar a escolha dos times para o Mundial antes da divulgação pelos técnicos, uma arte que ele atesta ter sido aperfeiçoada pela companhia durante décadas.
Mais desafiador desta vez, no entanto, foi confeccionar imagens dos 12 estádios novos ou reformados pelo Brasil para a Copa, alguns dos quais ainda não terminados.
"Para Curitiba, tivemos que usar Photoshop para acrescentar a grama", disse Martins.