É um risco interpretar um pedido de desculpas. Pode até ser um equívoco. Por isso, desde já, eu peço desculpas aos leitores por este texto. Mas, disso eu tenho certeza, não há como comparar esse meu pedido com o de Wallace.
Ele incitou à violência ao fazer uma enquete para saber se seus seguidores dariam um tiro na cabeça de Lula. Cabo eleitoral de Jair Bolsonaro na recente eleição presidencial, Wallace cometeu, no mínimo, um ato de extrema inconsequência e irresponsabilidade.
Lembram do Wallace? Um dos nomes mais famosos do esporte nacional, jogador consagrado de vôlei, medalhista de ouro na Olimpíada de 2016, um atleta reverenciado nas quadras do mundo todo.
Pois é, ele fez isso mesmo. Depois, diante da repercussão negativa e avassaladora, tratou de se desculpar. Junte aí a pressão de seus patrocinadores e os do Cruzeiro, onde joga, a imediata reação do próprio clube, que o suspendeu por tempo indeterminado, as notas de repúdio da CBV e do COB e a iniciativa do governo federal, que promete tomar providências, para que se ponha em xeque a espontaneidade do pedido.
“Mas você não tem o direito de interpretar, de validar ou invalidar esse gesto de mea-culpa de Wallace”, podem e devem pensar alguns. Ok, não vou me estender muito.
Entendam então como um desabafo. Um desabafo de quem viveu horas, dias, meses e anos pulando, berrando, socando o ar com cada saque certeiro de Wallace na Seleção brasileira, com bloqueios em que dava saltos enormes, com suas finalizações violentas ou estratégicas que tiravam o adversário do sério com toques leves por cima das mãos rivais.
Com sua recuperação rápida, depois de uma defesa impossível, em que se levantava logo para agir na rede. Com sua vibração contagiante. Seu carisma, sua liderança. Com as vitórias que ele arrancava com sangue, suor e lágrimas.
Dói ver um ídolo do esporte com a arma apontada para as urnas e com munição para abater 60 milhões de votos/votantes. Seria só inconformismo?