Após a prisão do treinador da Seleção Amazonense de Vôlei Sub-16, Walhederson Brandão Barbosa, de 40 anos, a polícia encontrou um áudio enviado pelo suspeito à uma das vítimas de abuso sexual. No conteúdo, ele convidava o adolescente de 15 anos para a sua casa, e o mandava vir sozinho.
“Tudo bom, meu filho? Se você vier, venha sozinho, não precisa trazer os outros meninos, não, tá bom? E que você venha preparado hoje, tá bom?", pede o técnico em áudio divulgado pelo g1. A vítima estava no imóvel no momento da prisão do suspeito, e o áudio foi encontrado em seu celular.
Barbosa foi preso na manhã desta terça-feira, 14, em Manaus (AM), por favorecimento à prostituição e exploração sexual de alunos. No momento de sua prisão, ele estava dormindo em uma cama com dois adolescentes de 15 anos.
Investigação
As investigações começaram há cerca de três meses, depois da polícia ter recebido uma denúncia anônima, informando sobre um vídeo que teria sido compartilhado em um aplicativo de mensagens, entre os alunos de um colégio de rede pública, no qual Barbosa aparece tendo relações sexuais com dois adolescentes.
Neste primeiro momento, seis vítimas foram identificadas, e deste número, cinco já tem inquéritos em andamento. "Quando passamos a proceder com as oitivas das vítimas, o homem passou a exercer pressão contra as vítimas para saber o que elas estavam falando na delegacia, ou seja, ele sabia da investigação em andamento", contou a delegada titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (Depca), Joyce Coelho.
Ainda segundo a titular, com base em todos os indícios, foi representado um pedido pela prisão temporária do homem, bem como pela medida cautelar de busca e apreensão em sua residência, uma vez que o indivíduo também gravava os atos sexuais como uma espécie de fetiche. A investigação também descobriu que o técnico praticava os crimes há quase 20 anos.
Conforme a Polícia Civil de Manaus, durante as investigações foi constatado que ao menos 12 adolescentes são vítimas do técnico. Algumas delas estavam morando com Barbosa, que cooptava adolescentes do interior com a promessa de que os ajudaria nos treinos e os levava para morar com ele.
“Os atos delituosos foram praticados em cima dos sonhos dos adolescentes, que almejam se tornar atletas profissionais de vôlei. Ele, de alguma forma, comprava os sonhos destas vítimas, em troca de atos sexuais", disse Bruno Fraga, delegado-geral.
Em entrevista ao programa Encontro, da TV Globo, a delegada Joyce afirma que o homem comprava várias coisas para as vítimas, exercendo uma relação de poder. "Ele colocava crédito no celular dos meninos. Comprava tênis para um, camisa para outro. Isso a gente chama de pequenas trocas. É o favorecimento da prostituição, da exploração sexual, quando essa troca não é algo por dinheiro e sim por uma vantagem. E ele sabia disso", relatou.
Ao programa, a defesa de Barbosa disse que "ele não tinha nenhum vínculo afetivo ou sexual com esses adolescentes e que os jovens estavam dormindo na casa dele com autorização dos responsáveis porque tiveram um treinamento naquela noite e teriam outro na manhã seguinte".
Omissão da Federação
Joyce declarou, ainda, que existe uma possível omissão por parte da Federação Amazonense de Voleibol, já que várias vítimas denunciaram formalmente e a Federação apenas instaurou sindicâncias internas, sem afastar o infrator do cargo, deixando-o ter acesso aos alunos.
"Iremos oficiar a Federação para que eles nos esclareçam a situação e nos respondam o porquê de não denunciarem os fatos à Polícia Judiciária, bem como nos encaminhem as sindicâncias", pontuou.
Em nota, a Federação Amazonense de Voleibol disse repudiar "os fatos envolvendo o treinador" e "se coloca à disposição dos órgãos competentes para qualquer esclarecimento".
"Em nenhum momento, em busca de qualquer atitude nociva do treinador, encontrou qualquer tipo de ocorrência que nos levasse ao conhecimento das atitudes repugnantes do envolvido", disse a entidade.