Há pouco mais de duas semanas, a Seleção Brasileira masculina de vôlei vencia o segundo set da semifinal dos Jogos Olímpicos de Tóquio por 20 a 12. Depois de um bom início e vitória sobre o Comitê Olímpico Russo no set inicial, a equipe do técnico Renan dal Zotto parecia estar perto de mais uma decisão de Olimpíada, a quinta consecutiva. Porém, tudo desandou a partir daí, terminando em um dominante triunfo russo por 3 sets a 1.
Na disputa pelo bronze, o time brasileiro não foi capaz de superar os argentinos e ficou sem medalha pela primeira vez em uma Olimpíada desde Sydney-2000. Além disso, perdeu um de seus principais jogadores. Aos 34 anos, o oposto Wallace anunciou a aposentadoria da Seleção, apontando um "fim de ciclo".
Sem tempo para afogar as mágoas, os jogadores brasileiros precisaram "virar a chave" e começar a pensar no Campeonato Sul-Americano, que começa em 1º de setembro. Do grupo que esteve em Tóquio, Renan convocou sete dos 12 selecionados. Wallace não joga mais pela Seleção, o naturalizado Leal havia programado uma visita à Cuba para regularizar documentos, Maurício Borges e Maurício Souza ficaram de fora da lista, e Douglas Souza preferiu se preparar para a próxima temporada na Itália, onde jogará no Vibo Valentia.
Bruninho, Cachopa, Alan, Lucarelli, Lucão, Isac e Thales continuam representando o Brasil. Com os Jogos em Paris mais próximos, pois este ciclo olímpico será de apenas três anos, o treinador brasileiro terá pouco tempo para decidir quem fará parte da nova geração do vôlei masculino.
Diferentemente da Olimpíada, 14 nomes foram chamados. As novidades são Aboubacar, João Rafael, Vaccari, Adriano, Flávio, Cledenilson e Maique. Embora não tenham participado dos Jogos de Tóquio, boa parte desses jogadores tem experiência no time principal e já venceram títulos pela Seleção.
Giovane Gávio, indicado para a classe 2021 do Hall da Fama do Vôlei, conversou com o Estadão sobre o assunto. O medalhista de ouro em Barcelona-1992 e Atenas-2004 opinou sobre quem deve assumir a responsabilidade após a saída de Wallace.
"Acho que o Alan está muito bem, pronto para ocupar a vaga deixada pelo Wallace. Perdemos o Roque (Felipe), que machucou o joelho e só volta no ano que vem, mas que também é um jogador que vai estar presente e com destaque na Seleção Brasileira. E o Abouba, que está na Itália, essa experiência (do Sul-Americano) vai ser muito boa para ele."
O torcedor brasileiro pode ter esperanças quanto ao futuro da Seleção masculina. Atletas que não tiveram tanto espaço em Tóquio e outros que não disputaram a Olimpíada devem ganhar protagonismo a partir de agora.
"Entre os centrais, vejo Pinta (Matheus Bispo), Flávio e Cledenílson, que já podem estar num próximo ciclo, mas sabendo que temos Lucão e Maurício Souza jogando em altíssimo nível e com muitos anos ainda pela frente na seleção. Isac é outro jogador que pode começar a ocupar um espaço", disse Giovane.
O ex-treinador acredita que Douglas, Leal e Lucarelli ainda vão atuar por muito tempo pela seleção na posição de ponta. Na armação das jogadas, Bruninho continua como o principal levantador, com Cachopa e o jovem Rhendrick como excelentes opções, segundo ele.
Depois que Serginho, também indicado para o Hall da Fama, se despediu das quadras, Thales se tornou o responsável por continuar as grandes performances na posição de líbero. Para Giovane, o titular em Tóquio e eleito melhor da posição na Liga das Nações ainda tem muitos anos jogando pelo Brasil, mas outros jogadores podem ganhar espaço. "Acredito que Maique vá ter mais oportunidades, e Alexandre, Pureza e Rogerinho também devem ser lembrados."
O atual técnico da Seleção sub-23 e ex-treinador do sub-21 falou também sobre os talentos mais jovens do voleibol masculino, promessas para depois de 2024. "Gosto muito das gerações que estão vindo por aí, sub-19 e sub-21, que estamos trabalhando hoje, mas vejo esses atletas mais para o ciclo pós-Paris", opinou.
Maurício Lima, integrante do Hall da Fama do esporte desde 2012, comentou sobre a aposentadoria de Wallace. "A decisão do Wallace é muito pessoal, mas ele tinha voleibol sim para continuar na seleção, ele é uma referência para o Bruno (Bruninho)", disse.
Sobre o ciclo até Paris, o ex-levantador apontou que "uma Olimpíada não se faz em três anos". Afirmou também que não há como saber quantas alterações o treinador da seleção principal vai querer fazer no grupo, mas que devemos ter boas brigas em cada posição, principalmente entre os líberos Thales e Maique.
Nas pontas, Maurício acredita que apesar dos novos nomes que vêm surgindo, Leal e Lucarelli tem "cadeira cativa" na equipe de Renan dal Zotto. Perguntado sobre as promessas do voleibol brasileiro, o bicampeão olímpico citou a Seleção sub-19, que se destaca por ter atletas muito altos.
Conheça as novidades da seleção brasileira para o Sul-Americano
Aboubacar Dramé
O oposto de 2,02m de altura é filho de malineses que chegaram no Brasil há 30 anos e construíram uma família, formada por 'Abouba' e mais três irmãs. Apesar da herança africana, o jogador de 27 anos do Vibo Valentia, da Itália, é brasileiro com sotaque candango. Ex-atleta do Taubaté, da Superliga, ele se destacou no bronze brasileiro conquistado pelo time B nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019.
João Rafael
O ponta de 28 anos, nascido em Pernambuco, esteve entre os jogadores que conquistaram a Liga das Nações no final de junho. Recentemente, rescindiu com o Taubaté e assinou contrato com o Taranta, da Itália, onde fará sua terceira passagem pelo país.
"João é um jogador que vai poder nos fazer dar um grande salto de qualidade. Passei algumas noites sem dormir convencendo ele e seu advogado a aceitar nossa proposta", disse o treinador Di Pinto ao site WebVôlei.
Vaccari
Gabriel Vaccari Kavalkievicz, mais conhecido como Vaccari, é um curitibano de 24 anos que atua como ponta. Com passagens por Sesi/SP e Vôlei Renata Campinas, vem chamando a atenção na Superliga. Na próxima temporada, jogará pelo Tourcoing Lille Métropole, time da liga francesa.
Presença frequente nas categorias de base da Seleção, Vaccari também esteve no grupo que venceu a Liga das Nações e foi um dos dois atletas chamados para auxiliar nos treinos preparatórios para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
Adriano
Adriano Cavalcante é mais um ponta na lista de Renan dal Zotto. Com apenas 19 anos, o jogador de 1,97m conquistou a Copa Minas e o Campeonato Mineiro Sub-16. Além disso, integra o Sub-19 da Seleção Brasileira e, atualmente, joga pelo Vôlei Renata Campinas.
Flávio
Natural de Pimenta-MG, cidade com pouco mais de 8 mil habitantes, o central de 28 anos acumula vários títulos em sua carreira. Destaque para as últimas edições da Copa do Mundo, do Sul-Americano e da Liga das Nações. Flávio também é conhecido na seleção brasileira desde cedo. Representa o País desde o infantojuvenil, e além do time principal, faz parte da equipe militar do Brasil.
Junto com Vaccari, participou dos treinos da seleção olímpica em Tóquio. Jogou em equipes como Minas Tênis Clube e Sesc/RJ antes de se aventurar no Warta Zawiercie, da Polônia. Atualmente, é companheiro de Aboubacar e Douglas Souza no Vibo Valentia.
Cledenílson
Orgulho de Santo Antônio de Jesus, na Bahia, o central de 2,10m começou a carreira no Vitória/BA e depois se transferiu para o estado de Minas, onde jogou por Minas Tênis Clube, Uberlândia/Gabarito, Fiat/Minas e Sada/Cruzeiro, seu time atual. Aos 23 anos, Cledenílson já foi campeão sul-americano (seleção e clube), bicampeão mineiro, campeão da Copa do Brasil e vice-campeão do Troféu Super Vôlei. Jogou no sub-21 da Seleção Brasileira e hoje é uma das apostas de Renan para o time principal.
Maique
O líbero da cidade mineira de Santo Antônio do Amparo tem 24 anos e é jogador do Fiat/Minas. Bicampeão dos XXIV Jogos da Juventude, Maique esteve nas conquistas da Copa do Mundo, do Sul-Americano e da Liga das Nações. Brigou diretamente com Thales por uma vaga na Olimpíada, mas acabou perdendo para o atleta do Taubaté-SP.
O torneio sul-americano acontece entre 1º e 5 de setembro. Disputado em Brasília, dará duas vagas ao Mundial de 2022. Na fase de grupos, o Brasil estreia contra a equipe do Peru e enfrenta na sequência a Venezuela. Argentina, Chile e Colômbia também fazem parte da competição, mas na outra chave. Atuais campeões, os brasileiros venceram 32 edições das 34 possíveis.