Criado em 2019, o AfroGames se tornou o primeiro centro de formação de atletas de Esports em favelas do mundo. Localizado dentro da favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, o projeto foca em capacitar e profissionalizar jovens de comunidades para atuarem no mercado de games. O "corre", como os envolvidos definem todo o esforço feito pelos organizadores, tem dado certo até aqui.
"Eu, principalmente como homem negro, sempre que estou em espaços de maior poder aquisitivo... A primeira coisa que eu percebo é quantas pessoas negras tem naquele lugar. E aí a gente viu que no campeonato de games [final do CBLoL 2015 no Allianz Parque] não tinha ninguém. Nem jogando, nem torcendo e nem trabalhando", contou William Reis, coordenador do AfroGames, ao GameON.
"Estávamos eu e o José Júnior, que é fundador do AfroRaggae, conversando. Ele falou: 'Não tem um preto jogando'. Eu acrescentei: 'Não tem um preto do seu lado na arquibancada. E aí a gente pensou juntos: 'Vamos fazer isso dentro da favela'", acrescentou.
O AfroGames foi idealizado pelo AfroReggae, ONG fundada em 1993 com a missão de promover a inclusão e justiça social por meio da arte, da cultura afro-brasileira e da educação. Hoje, eles seguem investindo em aprendizado, inclusive no tecnológico, área em que há grande carência nas comunidades.
De acordo com uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva, o acesso à internet é ruim ou precarizado em 43% das favelas brasileiras. Esta falta de acesso contribui para que a população favelada fique isolada e não tenha acesso a oportunidades ligadas ao mundo digital.
"A gente viu este é um dos mercados que mais cresce no Brasil. O moleque preto de favela, a garota preta de favela, eles estão na tecnologia, eles não querem certas atividades. Esse garoto da favela é igual ao garoto do Leblon. O que muda são as oportunidades. A gente precisa trazer essas oportunidades e a vontade dos meninos de participar do projeto", ressaltou William.
As iniciativas do AfroGames vem dando tão certo que a org. já conta com um time amador de League of Legends, além de criadores de conteúdo dentro da favela. São inúmeros os cursos de formação e extensivos, gratuitos, que vão desde aulas de inglês até programação de jogos.
"O AfroGames é uma política afirmativa que tem que ser feita no mundo dos games. A gente tem que enxergar que esses jovens têm capacidade de estarem inseridos em qualquer setor. O que faltam são as oportunidades. Isso a gente tem criado aqui", concluiu o coordenador.
Eleito pela ONU como projeto modelo de 2019, o Afrogames foi homenageado no Prêmio Esports Br e também foi eleito uma das três instituições brasileiras para receber doações da venda de skins no LOL. Enfim, um modelo que é referência e deve ser replicado no mundo dos Esports.