Análise: Biomutant tenta demais, mas acerta pouco

Game ambicioso combina elementos de ação, RPG e mundo aberto

20 jun 2021 - 13h43
(atualizado em 24/6/2021 às 14h00)
Biomutant
Biomutant
Foto: THQ Nordic / Divulgação

Biomutant é um jogo de ação e aventura com muitos elementos de RPG, criação de itens, pancadaria, tiroteio, um sistema de escolhas e moralidade, com um vasto mundo aberto para explorar. A proposta ambiciosa soa como música para os ouvidos dos fãs de videogame, mas o primeiro jogo do estúdio Experiment 101 fracassa ao tentar abraçar o mundo e o resultado final não é dos mais animadores.

Em Biomutant, o jogador controla um pequeno mamífero que parece uma mistura de gato, cachorro e outros bichinhos, uma criatura mutante nascida em um mundo alterado pelos mal tratos da raça humana, extinta muito tempo atrás. Com uma trama inspirada em preceitos do kung fu, a aventura leva o jogador por um grande mundo cheio de objetivos, lugares para ver, e vários biomas habitados por suas novas formas de vida bizarras. É um dos pós-apocalipses mais coloridos, que sobrepõe a natureza selvagem sobre as ruínas da humanidade.

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Quatro monstros terríveis conhecidos como Devoradores do Mundo estão devorando a Àrvore da Vida, e a criatura controlada pelo jogador é destinada a detê-los. Antes disso, é preciso encerrar uma guerra tribal, se unir a uma facção e unificar as tribos - ou erradicar os oponentes. Para deixar as coisas mais pessoais, há um vilão que dizimou sua família anos atrás e que agora está de volta. Para completar, há uma Arca capaz de salvar uma quantidade limitada de habitantes deste mudno e o jogador deve decidir quais aliados poderão se salvar caso tudo dê errado.

Exploração

O cenário lembra muito o do ótimo jogo de estratégia Mutant Year Zero, também um apocalipse habitado por animais inteligentes. No centro deste admirável mundo novo, está a enorme Árvore da Vida, e suas quatro raízes se espalham por quilômetros, guiando as direções que a jornada pode tomar. A construção deste mundo e seus personagens exóticos é o ponto alto de Biomutant: é uma combinação rara e estranha, muitas vezes perturbadora e quase sempre, divertida. 

Um grande mundo aberto natural para explorar tem um apelo e tanto para quem está trancado em casa durante tantos meses, é preciso admitir. Explorar suas ruínas, abrigos secretos e vilarejos abandonados, descobrir os segredos do mundo de Biomutant é uma atividade prazerosa. É possível viajar a pé ou, conforme progride no jogo, com montarias mecânicas, veículos e até uma asa delta - mas alguns veículos só podem ser usados em áreas bem específicas, podando um dos elementos mais divertidos do jogo.

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Combate e criação de itens

Biomutant
Foto: THQ Nordic / Divulgação

O sistema de combate de Biomutant envolve uma pancadaria estilosa (ainda que falha) e uma tentativa de "Gun Fu", aquelas manobras acrobáticas de tiroteio ao estilo "John Wick". É possível alternar entre as armas e estilos de luta em meio ao combate e muitas vezes, achar as combinações ideais para cada situação faz parte do jogo.

Bloquear os ataques inimigos não funciona muito bem, por falta de um 'feedback' decente do jogo. O sistema de trava de mira é frouxo e tentar manter os golpes travados no alvo desejado é frustrante, para dizer o mínimo. Há vários poderes especiais que variam entre conjurar elementos como rastros de fogo ou bolas de ácido para causar danos nos oponentes, ou disparar uma névoa que faz com que alguns adversários mudem de lado durante a briga. Não faltam boas ideias em Biomutant, o que falta é uma execução decente delas.

Conforme o jogador melhora suas habilidades e, principalmente, adquire armas melhores através do sistema de criação, as coisas melhoram um pouco. Juntar as tranqueiras que o personagem encontra em pilhas de lixo e transformá-las em peças para suas armas é divertido e resulta em equipamentos realmente bons, que fazem mais diferença no combate do que os pontos investidos para melhorar as habilidades do herói.

Da mesma forma, é possível fabricar e aprimorar peças de armadura, tornando os trajes fofinhos que o jogador encontra pelo caminho em verdadeiras armaduras de combate, apropriadas para vencer as forças adversárias.

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Buscar peças úteis e aprimorar suas armas e armaduras logo se torna uma das melhores coisas para se fazer enquanto explora o mundo do jogo, pois o resultado desta dedicação pode ser sentido rapidamente. E tudo bem encontrar itens inúteis ou repetidos, o jogador pode quebrá-los para descolar ingredientes valiosos ou vender para algum personagem.

Atividades burocráticas

O game não escapa das armadilhas do gênero: o mapa de Biomutant é pontuado por atividades paralelas e missões secundárias, mas nenhuma delas é atraente para se destacar e muitas consistem em completar tarefas simples repetidas vezes. O jogador não se sente em uma aventura ou sequer se diverte ao completá-las. É quase como ir trabalhar, você faz o que tem que fazer - e as recompensas não são grande coisa.

Essas atividades podem consumir dezenas de horas de jogo, mas é uma pena que nao acrescentem nada ao entretenimento, apenas deem ao jogaor o que fazer enquanto viaja pelo mundo.

Histórias demais

Biomutant
Foto: THQ Nordic / Divulgação

Com todas as tramas que comentei lá no começo desta análise, Biomutant não se dedica o bastante para tornar nenhuma delas memorável ou verdadeiramente significativa. Vingar a morte de sua família não tem o desenvolvimento emocional necessário, pois o vilão pouco se envolve em toda a trama maior. A guerra tribal envolve conquistar aldeias e decidir se vai matar ou poupar os líderes inimigos. A trama da Arca é bem desnecessária, pois o jogador vai trabalhar para salvar o mundo todo - é muito barulho por nada.

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A única história bem desenvolvida e que realmente importa, é a caça aos Devoradores do Mundo. É preciso cumprir vários objetivos antes de enfrentar cada um deles, obter veículos preparados para estas lutas, e aprimorar o personagem para dar conta do recado. Pena que as batalhas contra os chefes não sejam muito elaboradas - poderiam ser, se os produtores tivessem se concentrado mais nestes elementos e descartado algumas das atividades secundárias irrelevantes.

Narrador irritante

Biomutant tenta ser apresentado como um conto de fadas pós-apocalíptico, e para isso, usa de um narrador com sotaque britânico que recita seus feitos, decisões e até os diálogos dos personagens durante toda a aventura. A ideia parece OK no começo, mas não demora para se tornar irritante, com as constantes interrupções para o narrador apresentar ou repetir alguma coisa.

Os personagens acabam perdendo muito de sua personalidade pois suas falas são apenas grunhidos que precisam ser traduzidos pelo narrador. Além dele, de vez em quando o jogador é acompanhado pelas falas de duas falas, seu lado claro e seu lado sombrio, que discutem na hora de tomar alguma decisão moral.

O narrador é tão irritante que há a opção de diminuir a intensidade de suas falas - ou até mesmo remove-lo por completo, após uma atualização feita após o lançamento do game.

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Menos é mais

O primeiro jogo da Element 101 tenta entregar muita coisa e com mais tempo e recursos, poderia ser um projeto grandioso e memorável. É bom ver novas produções que buscam oferecer algo original e de certa forma, quase todas as mecânicas de Biomutant são elementos de sucesso comprovado.

Todos estes ingredientes juntos, porém, parecem ser mais do que o estúdio é capaz de abraçar, e o jogo ainda por cima tenta demais ser uma experiência incrível e impressionante, ao invés de fazer o básico bem feito e deixar que a execução conquiste o jogador.

Biomutant - Nota 6
Foto: Game On / Divulgação

Biomutant está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One.

Fonte: Game On
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