SIFU é definitivamente um game que vai ser popular entre os brasileiros. O nome já entra em nossos corações pela zoeira, mas talvez seja melhor você dar uma chance séria para o título da Sloclap. O game me surpreendeu não somente por sua qualidade, mas também por um nível de dificuldade insano que vai te fazer arrancar os cabelos.
Uma história cheia de VINGANÇA
Antes de mais nada, SIFU é essencialmente uma história de vingança. A narrativa é estruturalmente tão simples que gira em torno de uma criança que vê seu pai ser assassinado por um grupo de mestres Kung Fu.
O resto já é de se imaginar. Nosso protagonista sobrevive ao terrível ataque e treina incansavelmente para assassinar aqueles que mataram sua família. Isso te lembra alguma coisa?
Devo confessar que antes de jogar SIFU, não havia visto nada sobre o game, com exceção do trailer de anúncio. Assim que terminei as primeiras horas do jogo, de cara pipocou em minha mente o título que este review levaria. SIFU é o retrato que já vimos várias vezes no cinema, mas agora em um videogame.
Esse beat’em up é o que venho chamando de uma fusão entre Oldboy e o clássico Kill Bill. Oldboy é o segundo filme da conhecida Trilogia da Vingança, do diretor sul-coreano Park Chan-wook, onde um homem é sequestrado e passa 15 anos num cativeiro, até que curiosamente é liberado e vai atrás do que restou de sua família, mas, principalmente, vai atrás de vingança.
Já Kill Bill dispensa comentários. Considerado por muitos como a obra definitiva do visionário Quentin Tarantino, a história gira em torno de Beatrix Kiddo, que, após ter sua vida arruinada por seus antigos colegas do Esquadrão Assassino das Víboras Mortais, parte numa jornada de vingança sanguinária até chegar em Bill. Além da vingança, o que SIFU, Oldboy e Kill Bill tem com comum?
Simples: muita – e eu repito – MUITA porradaria. SIFU é basicamente sobre socos. A história é um mero pretexto para o jogador sentar o sarrafo nos adversários das maneiras mais variadas possíveis, e embarcar em batalhas bem memoráveis contra chefes barra pesada.
Mas antes de falar exclusivamente sobre o fator socos, SIFU embarca bem nas referências a esses dois filmes que mencionei. Tanto que nos 15 primeiros minutos temos uma referência descarada a um plano sequência genial de Oldboy: a luta no corredor.
Aliás, eu vejo SIFU como um grande filme. Embora o game não seja contínuo como God of War (2018), a todo instante me sinto dentro de um grande plano sequência, e isso cria uma imersão poderosa para o jogador. O frenesi das lutas é carregado com bastante emoção.
A jogabilidade perfeita para lutas
O grande chamariz de SIFU são as lutas, e o game faz isso com maestria. Não tem conversa paralela, desde os primeiros segundos o jogador se verá batendo impiedosamente em algum inimigo da forma mais estilosa e brutal possível.
A Sloclap conseguiu captar a essência do Kung Fu para o controle, tornando o processo dos socos e chutes bem dinâmicos, mas nada fácil. Embora o game seja de pancadaria, esse mesmo fator contribui para que o jogador se torne um mestre do Kung Fu assim como nosso protagonista.
Em geral fazemos o básico: damos socos, tapas, empurrões, chutes, rasteiras, garrafadas, madeiradas, jogamos uma mesa em alguém, quebramos o cano na cabeça dos inimigos, usamos facas para cortar gargantas e joelhos, aplicamos alguns golpes fatais do tipo que parte sua coluna em duas partes. Nada muito fora do comum, apenas o que manda o figurino.
Quanto mais socos aplicamos nos inimigos, uma barrinha de “concentração” é levemente preenchida. quando ativada pelo jogador, o tempo fica em slow motion, e é possível aplicar determinados golpes especiais nos inimigos, que normalmente seriam complicados de dar numa situação normal.
Em SIFU é possível realizar a sequência de golpes que você quiser, desde que isso seja desbloqueado – falarei mais da mecânica nos próximos parágrafos. A questão é que é muito prazeroso jogar SIFU. As batalhas tem peso, e não são como a maioria dos games em que os inimigos são apenas uma esponja de pancada ou tiros.
Falando nos inimigos, esses são muito bons. Diferentemente de muitos jogos por aí, nossos adversários tem uma ótima Inteligência Artificial. Eles flanqueiam, cercam, pegam suas armas brancas e vão pra cima sem piedade. Isso é um ponto alto: o jogo te instiga a bater em todo mundo. Você sente raiva daqueles inimigos, é provocativo.
Para muitos, a defesa é o melhor ataque. Enquanto eu tentava entender a dinâmica de SIFU, parti com esse pensamento para as lutas e eu me ferrei. No game o ataque é o melhor ataque sim. Mas jamais baixe sua guarda. Paciência é uma palavra importante, mas ofensividade também é. E isso me leva para um ponto chave do game e desse review...
“O DARK SOULS DO KUNG FU”
Brincadeiras a parte, mesmo que saibamos que as comparações serão – infelizmente – inevitáveis, SIFU é difícil. E não, eu não estou falando de um joguinho complicado. É muito, muito difícil.
Para contextualizar, preciso explicar a principal mecânica do game. Em SIFU temos 5 fases, sem contar o prólogo. Nosso protagonista, após a abertura do game e seu treinamento, começa o game com 20 anos.
O truque do jogo está aí. Se na primeira fase – ou em qualquer uma – o jogador morrer, ele tem duas opções: renascer ou recomeçar a fase. Quando você renasce um marcador será adicionado ao jogo. Você tinha 20 anos, morreu 1 vez, e renasce com 21 anos. Se morrer uma segunda vez e renascer novamente, seu número de mortes será de 2, e no renascimento você volta com 23 anos. Essa é a lógica do envelhecimento em SIFU.
Até aqui, tudo bem. Digamos que do início da Fase 1 até seu término, contra um Chefão, você morreu e renasceu algumas vezes, totalizando, por exemplo, 40 anos. Quanto mais velho você fica, mais forte são seus socos, mas mais frágil é a vitalidade.
Quando isso aconteceu comigo, eu pensei que iria para a Fase 2 com a idade de 20 anos. Seria loucura o game me colocar numa nova fase com 40 anos. E sim, foi exatamente isso que aconteceu. Eu iniciei a Fase 2 com 40 anos. O problema é que a cada vez que você renasce, você fica velho. Se chegar até os 70 anos, essa é sua última tentativa, e daí precisa recomeçar toda a fase.
Então, começar uma Fase com 40 anos significa que você tem praticamente metade das chances de renascimento disponíveis. E acredite, se o primeiro Chefão é complicado, os demais são piores.
Isso quer dizer que temos um sistema de progressão de fases baseado em quão velho o protagonista pode ficar, e quanto menos mortes, maiores são suas chances de terminar o game – boa sorte com isso.
A ideia é ótima, mas na prática foge do controle. SIFU é extremamente difícil. O game é tão complicado que a própria Sloclap enviou materiais para os jornalistas auxiliando e afirmando sobre a dificuldade elevada. Não é para qualquer um.
Todavia, SIFU não é difícil de forma gratuita. O punitivismo segue a lógica do estudo de inimigos e cenários, de certa forma assim como os jogos da From Software, com as devidas considerações, claro.
Ao longo do mapa das Fases há diversos segredos espalhados, como cartões, folhetos, itens e chaves, que acabam como “evidências” num quadro investigativo do protagonista. Por exemplo, quando terminei a primeira Fase, encontrei algumas chaves que abririam portas secretas. De cara eu ignorei, e fui para a Fase 2, mas com 40 anos era suicídio tentar passar dela.
A solução foi jogar a Fase 1 novamente para morrer menos e avançar. Aproveitei e fui testar onde eu poderia usar aquelas chaves. Por sorte, logo no início há uma porta um pouco escondida, que quando destrancada serve como atalho para o Chefão, e olha, economiza tempo e muita saúde.
Eu também precisei estudar os inimigos. De onde surgem? Quais os mais fracos? Tentei passar por alguns com um ou dois golpes apenas. Onde estão as armas brancas? Essas armas são encontradas aleatoriamente pelo cenário e há diversas opções, como garrafas de vidro, pedaços de madeira ou canos, facas, etc.
Esse conjunto de etapas facilita o trabalho, mas só a prática de golpes e defesa permitirá que o jogador avance pela história. Novamente, eu reitero: é preciso paciência. Muita paciência.
Torne-se o melhor
Em SIFU há um hub central chamado de Wuguan, uma escola de Kung Fu abandonada. Ali é onde nosso protagonista pode treinar para entender como aplicar os golpes contra seus inimigos, e desbloquear novos movimentos numa – literalmente – árvore de habilidades.
Essas habilidades são adquiridas através de pontos que conquistamos nas fases, e, além de Wuguan, elas também podem ser desbloqueadas em santuários espalhados pelo cenário, ou no menu de morte caso o jogador queira renascer.
Sendo sincero, essa é uma das partes que menos gostei. Embora o jogo tenha sim um excelente sistema de combate, a curva de aprendizado para os golpes demora bastante. Não somente isso, é muito complicado acertar os socos e chutes e o esquema de botões pode ficar bem confuso.
Desempenho e qualidade gráfica
Joguei SIFU com uma cópia para PC via Epic Games Store e o game roda sem problemas. O título possui um gráfico mais cartunesco que funciona bem demais, principalmente em Fases onde o uso do neon se sobressai. Em geral é um jogo bonito com seu próprio estilo de arte, mas ganha muita vida nas batalhas contra chefes.
Contra chefes há geralmente duas modalidades. A primeira no cenário “normal’ e a segunda quando o boss “se transforma”. SIFU mescla elementos reais com o sobrenatural de maneira tímida, porém acertada nos momentos de clímax.
SIFU conta com uma excelente adição: o DLSS. O recurso, exclusivo para placas NVIDIA GeForce RTX, faz um upscaling de imagem utilizando hardware e software para corrigir imperfeições de serrilhado, mas principalmente para dar mais frames ao jogador.
A tecnologia pode ser bem útil para quem deseja rodar o game em resoluções mais altas, como o Quad HD ou 4K. Porém não vejo necessidade de altas taxas de quadros, como o 144 Hz por aqui. Por mais que seja um jogo de luta, não senti tanta diferença, e quis optar por deixar travado a 60 quadros.
Na minha experiência, utilizei 16 GB de memória RAM a 3200 MHz, processador AMD Ryzen 3600X e uma RTX 3060 da EVGA com overlock de fábrica. Não houve problemas para rodar o título. Abaixo seguem as especificações mínimas e recomendadas para rodar SIFU.
Requisitos mínimos
Sistema operacional | Windows 8.1 |
Processador | AMD FX-4350 ou Intel Core i5-3470 |
GPU | Radeon R7 250 ou GeForce GT 640 |
Memória RAM | 8 GB de RAM |
Espaço disponível | 22 GB |
Requisitos recomendados
Sistema operacional | Windows 10 ou OS mais recente |
Processador | AMD FX-9590 ou Intel Core i7-6700K |
GPU | GeForce GTX 970 ou Radeon R9 390X |
Memória RAM | 10 GB de RAM |
Espaço disponível | 22 GB |
Vale a pena?
SIFU é uma grande surpresa para 2022. Com bastante estilo e personalidade, o game da Sloclap certamente será um assunto interessante de se acompanhar devido à dificuldade singular.
Aliás, essa dificuldade irá tanto atrair muitos jogadores em busca de um bom desafio quanto afastar um potencial grupo de pessoas que só estão interessadas em dar uns bons soquinhos. Seja como for, SIFU não é moleza e vai exigir muita concentração, paciência e estudo.
SIFU é um bom jogo no que se propõe, apresentando ótimos momentos de lutas, chefões bem interessantes que ultrapassam as barreiras do sobrenatural, uma boa estética, mas tem um pano de fundo bem rasinho. Isso não é um problema ao todo, mas acho que a vingança poderia até ser melhor explorada.
Se vale ou não a pena? Isso vai depender bastante da sua vontade de passar raiva lutando contra 10 inimigos num corredor apertado com um pedaço de cano. Mas no fim das contas, vale a pena sim. SIFU deu show nos trailers de anúncio e se sai bem no combate, fazendo dele um belo game para esse início de ano recheado de bons lançamentos.
SIFU estará disponível ao público na terça-feira, 8 de fevereiro, para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC.
*Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Slocap.