Análise: SNK vs. Capcom: Card Fighters' Clash se limita pela simplicidade

Apelo nostálgico é suficiente para encantar veteranos e nos transportar para 1999, mas poderia ser ainda mais memorável

4 fev 2022 - 10h26
Jogo diverte, mas perde a chance de se tornar ainda maior
Jogo diverte, mas perde a chance de se tornar ainda maior
Foto: Divulgação / SNK

Talvez eu seja suspeito para escrever sobre card games. Passei por Magic: The Gathering, vi a ascensão de Yu-Gi-Oh!, o nascimento de Gwent e Legends of Runeterra e por anos me dediquei à Hearthstone, jogo que inclusive viu meus primeiros textos. Mas pela primeira vez tive a oportunidade de jogar o clássico SNK vs. Capcom: Card Fighters' Clash, e por algumas horas lamentei nunca ter feito isso antes.

Não é de hoje que a SNK vem relançando seus títulos clássicos de Neo Geo Pocket, e depois da maravilhosa coletânea Neo Geo Pocket Color Selection, finalmente chegou a hora de colocar as mãos no card game lançado originalmente em 1999 e que curiosamente é o resultado da primeira parceria de duas gigantes dos jogos de lutas.

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Escolha seu lado

Se em 1999 o jogo foi lançado em duas versões, cada uma representando uma empresa, na versão para Nintendo Switch temos acesso aos dois jogos e precisamos escolher um dos lados. Mas a escolha depende apenas de sua preferência: as duas histórias são iguais, mudando apenas nosso personagem e nosso deck inicial. O objetivo também é o mesmo: vencer o grande SC Tournament - tarefa que não será muito fácil.

Um detalhe interessante são os nomes dos protagonistas. No lado da SNK temos Shin e Kei, nomes que fazem referência à Shin Nihon Kikaku (algo como "Projeto Novo Japão" em português). Já do lado da Capcom temos Cap e Comet - acho que não preciso explicar mais.

A história leva nosso personagem por alguns locais inspirados nos bons e velhos fliperamas e cheios de referências - há um local chamado Resident Evil, por exemplo. Nosso objetivo é coletar moedas especiais em cada um desses lugares, que nos darão a chance de entrar nas finais do SC Tournament e disputar o título com nosso rival, representado pelo protagonista do mesmo sexo da versão oposta.

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A simplicidade de Card Fighters' Clash

A simplicidade encanta, mas também limita o clássico
Foto: Divulgação / SNK

Não espere por um card games complexo e com regras complicadas. Card Fighters' Clash pode ser comparado no máximo à Yu-Gi-Oh!, e sua premissa é a de que quem tem o card mais forte na mesa, vence. É simples, funciona e diverte, mas gera pequenos problemas.

Um rápido tutorial torna tudo fácil de se aprender. Mas não há segredos: cada jogador possui 2000 pontos de vida, com exceção dos chefes que têm 3000, e uma mesa em que é possível colocar até três lutadores, que servem tanto para atacar quanto para se defender. Os lutadores possuem Battle Points (BP), que funcionam tanto como vida quanto como ataque. Além disso, alguns deles têm habilidades especiais, nem sempre vantajosas, que podem definir partidas e também aumentam nosso contador de Soul Point (SP), uma das mecânicas mais importantes do jogo.

Os SPs servem para ativar cartas de ação, que complementam nosso deck e servem para aplicar efeitos imediatos, podendo ser comparadas às cartas mágicas de Yu-Gi-Oh!. Além disso, os SPs servem para desencadear ataques combinados, cujo dano excedente atinge a vida do oponente.

Há também uma mecânica de sinergia chamada Back-up. Com ela, é possível que um lutador forneça suporte para outro, aumentando seus BPs em 300 pontos. Cada lutador tem uma lista de possíveis backups, e em uma mesa tão limitada é importante estar atento a isso.

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Por fim, cada partida é disputada em turnos simples. Cada jogador compra uma carta e pode colocar um lutador na mesa por turno - só é possível substituí-los quando são derrotados. Na rodada em que entra em jogo, um lutador não pode atacar, com exceção de cartas cuja habilidade permite isso. Além disso, um lutador que ataca em seu turno não poderá defender no turno seguinte.

Ao entender todas as mecânicas percebemos o quão simples é o jogo. À medida que avançamos encontramos adversários com cards cada vez mais fortes e ganhamos cards mais poderosos. Montar os decks também não é tarefa das mais difíceis. Essa simplicidade pode ser um problema, uma vez que algumas partidas podem ser definidas na sorte e não é raro encontrarmos adversários com um nível alto de dificuldade, principalmente quando enfrentamos os líderes de cada lugar, que são praticamente impossíveis de se derrotar numa primeira tentativa - a Síndrome do Chefe da SNK ataca novamente.

Para tentar facilitar um pouco as coisas, é necessário derrotar inimigos mais fáceis em busca de cards melhores. Mas a forma como isso acontece não é muito prazerosa, uma vez que as recompensas são aleatórias após cada duelo - e muitas vezes inúteis. Aos poucos, Card Fighters' Clash pode se tornar entediante.

Altos e baixos de um clássico

Os altos e baixos de SNK vs. Capcom: Card Fighter' Clash
Foto: Divulgação / SNK

Se por um lado o apelo clássico e o nível de detalhamento de cada carta e área chamam a atenção e representam lindamente a identidade visual do Neo Geo Pocket, há limitações que enfraquecem e muito o potencial do jogo. 

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Card games são bons por possibilitarem a interação entre jogadores, seja em duelos ou ao trocar cartas. Embora existam, a forma como essas mecânicas são implementadas não funciona tão bem. Há cartas exclusivas em cada uma das versões e não é possível fazer trocas com outros jogadores, mas isso não chega a ser um problema uma vez que basta explorarmos cada uma das versões em busca das mais de 300 cartas do jogo. 

Já o modo versus existe, mas a desenvolvedora perdeu uma grande oportunidade de permitir batalhas online que trariam longevidade ao game e, sem dúvidas, aumentaria muito o interesse de um novo público. Por fim, um recurso que falha é o rewind. É possível voltar no tempo por alguns segundos, o que pode ser útil em jogos de diversos gêneros, mas definitivamente não em um card game.

Veredito

SNK vs. Capcom: Card Fighters' Clash
Foto: Divulgação / SNK

SNK vs. Capcom: Card Fighters' Clash tem um apelo nostálgico enorme e vai transportar os veteranos de volta para a era dourada das empresas. O jogo é divertido, cheio de boas referências e belíssimo visualmente. Sua simplicidade encanta e, embora isso crie problemas, eles não tiram o charme de um jogo que pode ser considerado uma pequena obra-prima de sua geração e não serão muito relevantes para quem quer apenas se divertir por algumas horas - principalmente para aqueles que tiveram a chance de colocar as mãos nas versões lançadas há 23 anos.

O jogo está disponível para Nintendo Switch. Essa análise foi feita com uma cópia digital gentilmente cedida pela SNK.

Fonte: Game On
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