The Ascent, disponível para PC, Xbox One e Xbox Series X/S, combina elementos de RPG de ação e tiroteio cooperativo para entregar uma espécie de "Diablo" futurista. O resultado é um jogo divertido, ainda que pudesse ser melhor lapidado pela produtora Neon Giant, mas que faz bonito, principalmente no console top de linha da Microsoft.
O game da Neon Giant abusa da estética cyberpunk para apresentar cenários impressionantes, cheios de luzes, reflexos e detritos, com ruas apinhadas de personagens e muitos efeitos especiais em suas batalhas, que são muitas e frequentes.
A trama não é grande coisa, o que é uma pena: seu personagem é um mercenário que precisa ganhar créditos para pagar a dívida absurda por sua viagem para Veles, um mundo artificial controlado por uma megacorporação. Ou melhor, precisava, pois a tal corporação, os Ascenders, abriu falência. Agora outros grupos locais tentam ocupar o poder e você trabalha para um (ou mais deles) cumprindo missões que, invariavelmente, envolvem mandar bala nos inimigos.
Atire primeiro, pense depois
Como deu para notar, não é exatamente material para um TCC sobre o capitalismo, mas serve como um bom pano de fundo para o que realmente importa em The Ascent, que são os combates. A ação do jogo é de alto nível, tanto para quem prefere jogar sozinho como ao jogar acompanhado por até 3 outros amigos. Há uma boa variedade de armas, com disparos dotados de efeitos elementais (fogo, elétrico, etc), granadas, drones e poderes cibernéticos que podem ser equipados para montar 'builds' diferentes.
Há uma boa variedade de inimigos, principalmente os chefes das missões, que vão desde mutantes fortemente alterados por implantes até mechas enormes e aranhas robóticas equipadas com lança-chamas e que fabricam micro-aranhas mecânicas. É preciso entender como causar mais dano e como evitar os ataques desses chefões e se equipar de acordo para cada situação.
Os sistemas de combate incluem uso de cobertura e a possibilidade de apontar a arma na hora de atirar, o que permite acertar alvos maiores por cima da cobertura e de alvos menores, além de atordoar os inimigos mais resistentes, estratégia fundamental para sobreviver em The Ascent.
O jogo tem sistemas de evolução típicos de RPG, com vários atributos que podem ser aprimorados para tornar seu personagem melhor, assim como é possível aprimorar as armas para causar mais dano, ter melhor precisão e assim por diante. Nem sempre fica muito clara a diferença ao investir pontos em alguns atributos - exceto por vida e energia. É preciso acumular muitos pontos para notar a melhora na evasão ou na precisão, por exemplo.
Cenários caprichados
A Arcologia, o mundo artificial em que a aventura se passa, é dividida em muitas regiões, cada uma com suas caracteristicas e explorar este cenário é sempre recompensador (mesmo que seja bastante desafiador ao dar de cara com bandos de bandidos de nível muito alto). O jogador vai encontrar itens melhores, ganhar experiência, entrar em boas brigas e encher os olhos com a paisagem caprichada criada pela Neon Giant, inspirada nos melhores clássicos de ficção científica, de Akira e Blade Runner até Star Wars.
Nem tudo são flores: o jogo pode ficar meio repetitivo depois de um tempo, quando o jogador precisa 'grindar' alguns níveis para aumentar sua capacidade e enfrentar as missões mais avançadas, percorrendo várias vezes áreas em que é muito mais forte do que os adversários. Também pode ser meio frustrante para quem joga sozinho, pois as batalhas são claramente projetadas para grupos de jogadores. Não é impossível chegar ao final sozinho, mas é preciso resiliência em algumas lutas.
Localização decepcionante
O maior problema fica pela localização: há legendas e menus em português, mas nem sempre. Muitos diálogos estão todos em inglês ou até em outros idiomas e pelo menos uma missão secundária não tinha nenhum texto na descrição de seu objetivo! É um deslize em um jogo que, em geral, é muito bom.
Há alguns bugs irritantes que estragam a experiência. Pelo menos uma vez durante a campanha, fui jogado de volta ao menu inicial sem explicação. O game também erra ao disponibilizar 'saves' separados para personagens solo ou do jogo cooperativo - e 'apaga' seu progresso cooperativo quando você entra em uma partida com outro jogador que está mais avançado. Para quem joga no PC, a versão do Steam é mais completa do que a do Game Pass para PC, que não conta com Ray tracing, por exemplo.
São complicações desnecessárias, que podem ser corrigidas com um patch de atualização, no qual a Neon Giant já está trabalhando. Mas poderiam ter feito isso antes do lançamento, para não tirar o brilho do que pode ser um dos jogos mais divertidos dos últimos tempos.
Considerações
The Ascent é um RPG de ação excelente para quem não quer pensar muito em porque está detonando tudo e todos nas ruas de uma metrópole futurista, mas curte se divertir ao lado de outros jogadores. O game traz um bom nível de desafio em suas cerca de 20 horas de duração. E, sem dúvida, é o melhor RPG cyberpunk dos últimos meses.
Disponível no Game Pass, o jogo foi testado no Xbox Series X