Quando foi anunciado em 2021, Triangle Strategy despertou imediatamente comparações com Final Fantasy Tactics, Fire Emblem e outros jogos que seguem o mesmo estilo de combate estratégico. Embora as semelhanças existam e não sejam poucas, o novo jogo da Square Enix e lançado exclusivamente para o Nintendo Switch tem diferenças pontuais que ajudam a moldar uma incrível identidade própria.
História
Triangle Strategy se passa 30 anos após a Guerra Saltiron, que envolveu as três grandes nações de Norzelia: Aesfrost, Hyzante e Glenbrook - cada uma delas responsável por controlar um recurso vital para a prosperidade de todo o reino. O jogador assume o papel de Serenoa Wolffort, um jovem que herdou o título de Lorde e está prestes a se casar com a Princesa Frederica em um gesto de paz, mas precisará encarar a iminência de um novo conflito.
Se durante o tutorial o destaque de Triangle Strategy parece ser as batalhas, logo fica claro que a trama foi o foco principal do time de desenvolvedores. Ela gira em torno de uma guerra por recursos e de rancores do passado que afetam o presente, algo que pode servir como uma boa analogia ao que vivemos atualmente. O enredo de Triangle Strategy atinge profundidade rara até mesmo para o gênero, e coloca o jogador frente a uma quantidade enorme de longos e importantes diálogos, que exigirão atenção nos momentos cruciais de escolha.
A construção desse enredo faz com que os dois primeiros capítulos sejam um pouco arrastados - as primeiras horas do jogo chegam a ser extenuantes e não é raro querer passar rapidamente os diálogos. Ainda assim, essa lentidão não torna a história menos incrível e rapidamente se justifica, ainda mais em momentos que levantam questões sobre a motivação da luta ou quando percebemos que as decisões influenciam diretamente em algumas batalhas. Além disso, o enredo não poupa o jogador de diversos momentos trágicos: vários dos principais personagens perecerão, reinos irão desmoronar e nunca haverá um equilíbrio natural de poder, independente das decisões - as comparações com As Crônicas de Gelo e Fogo parecem inevitáveis.
Para inserir o jogador em uma trama tão densa, os desenvolvedores adotaram escolhas interessantes, como a inserção de um Conselho. Sempre que é preciso tomar uma decisão que é capaz de mudar os rumos da história, os sete principais membros da Casa Wolffort discutem e votam sobre ela. E o melhor: esses votos nem sempre serão o que o jogador deseja e, além disso, eles se tornam cada vez mais importantes para o futuro de cada personagem e do reino. Claro, é possível influenciar os votos através de algumas missões paralelas, que muitas vezes assumem ares de principais, e também de um sistema de Convicção.
A soma da mecânica de conselho e do sistema de Convicção funciona justamente como forma de mostrar ao jogador a importância de suas decisões, seja em pequenos diálogos ou em momentos cruciais. Essas escolhas servem até mesmo para desbloquear alguns personagens coadjuvantes, que podem ser excelentes adições ao elenco. Por outro lado, esse mesmo sistema de Convicção é um pouco complexo à primeira vista e exige certa dedicação.
Jogabilidade
A primeira comparação que vem à mente quando analisamos Triangle Strategy é com o conceituado Final Fantasy Tactics. A estrutura baseada em turnos é parecida e cada unidade consegue se mover em um determinado espaço pelo mapa, que é semelhante a um extenso tabuleiro de xadrez, e atacar. Além disso, não há mana, mas as habilidades mais poderosas consomem TP, um recurso que se reabastece gradualmente a cada turno.
Existem algumas implementações em Triangle Strategy que precisam ser consideradas, como por exemplo o fato de que certas unidades são frágeis a determinados elementos, há ataques críticos pelas costas e o terreno é um fator extremamente relevante em batalha. Essas mecânicas funcionam de forma muito natural graças à simplicidade das tropas, e não trazem a complexidade característica dos jogos do gênero: o foco do combate pode ser resumido em simplesmente causar dano.
Além do combate simples, o jogo se destaca no equilíbrio de dificuldade, algo que é um diferencial em jogos desse estilo. A curva de aprendizado é simples, o nível de dificuldade exige boas estratégias, mas em nenhum momento frustra o jogador e, quando o prende em determinada batalha, é necessário apenas pensar em formações diferentes e nunca deixar de lado as etapas nos campos de treinamento.
Gráficos e trilha sonora
Para aqueles que gostam de gráficos bem trabalhados e em pixel art, Triangle Strategy não é nada menos do que espetacular. Os visuais, que seguem o estilo HD-2D, impressionam à primeira vista e mostram as facetas de Tomoya Asano, que já havia deixado sua marca no cultuado Octopath Traveler.
Esse estilo combina perfeitamente com a tela do Nintendo Switch Lite, onde esta análise foi feita. Mesmo que possa parecer limitada, tudo acontece de forma clara, com pequenas quedas de fps apenas em cenas mais tumultuadas, os personagens são bem definidos e, talvez o mais importante, é extremamente fácil ler todos os diálogos com clareza, o que é imprescindível em um jogo tão denso.
Além disso, a trilha sonora acompanha perfeitamente cada momento da trama e os momentos mais intensos das longas batalhas, tornando-se rapidamente marcante - méritos de Akira Senju, o mesmo nome por trás de Fullmetal Alchemist: Brotherhood. A dublagem em japonês é boa, mas a falta de legendas em português pode ser um impeditivo para grande parcela de jogadores.
Conclusão
Triangle Strategy combina perfeitamente uma jogabilidade simples com uma história complexa e cativante, mesmo que arrastada em algumas passagens, e consegue colocar o jogador no centro de um conflito e fazê-lo se sentir realmente importante.
A jogabilidade é simples, mas não abre mão de suas camadas estratégicas e é desafiador na medida certa, servindo tanto para novos jogadores que querem se aventurar pelo gênero como para os "órfãos" de Final Fantasy Tactics.
Triangle Strategy está disponível para Nintendo Switch.
*Essa análise foi feita com uma cópia gentilmente cedida pela Square Enix.