Poucas franquias de games tem uma história tão longa quanto FIFA e é curioso pensar que a série que nasceu em um distante 1993 está entrando para sua última partida em 2022. A partir do ano que vem, é a vez de EA Sports FC, mas agora, é hora de FIFA 23 mostrar que o futuro do futebol digital está em boas mãos.
É notável o quanto os desenvolvedores trabalharam para elevar o nível do jogo nesta edição de FIFA, com diversos ajustes, melhorias na jogabilidade e implementação de novas tecnologias, como o HyperMotion 2 e a AcelerAÇÃO. Mais do que termos de marketing para passar uma imagem arrojada do jogo, são ferramentas que realmente tem impacto quando a bola rola pelo gramado dos PCs e consoles de nova geração - onde, por sinal, a grama está linda de se ver.
Enquanto a HyperMotion 2 é responsável pela movimentação mais humana dos atletas e faz isso com base em um gigantesco banco de dados de capturas de movimento, com uma I.A. capaz de passar uma sensação mais natural para os jogadores, bem superior ao que vimos em FIFA 22, a estrela mesmo é a AcelerAÇÃO, sistema de física que permite diferentes formas de impulso e velocidade para cada personagem em campo, de acordo com seu tipo físico, força e peso.
Junte isso aos novos sistemas de defesa e posse de bola e as situações em campo ficam mais variadas e empolgantes, justamente por funcionarem parecidas com a vida real. Os atletas ainda são bem rápidos - e as mulheres, mais ainda - mas o ritmo do jogo tende a ser mais cadenciado nas disputas e divididas. Claro, isso em níveis de dificuldade medianos. Nos níveis mais altos, qualquer time de segunda divisão da Argentina joga tão bem quanto o Barcelona em seu auge.
Também há várias pequenas mudanças na jogabilidade: o Super Chute, que permite aplicar bicudas poderosas na bola, é a mais notável logo de cara, mas há também outras mais sutis, como a opção de chutar rasteiro por baixo da barreira... e de deitar um jogador atrás da barreira para o caso do oponente tentar fazer exatamente isso. O novo sistema de cobranças de falta e escanteio funcionam bem, mas o mesmo não pode ser dito dos pênaltis. Por mais que a ideia fosse simplificar o lance para o jogador, transformar o pênalti em um minigame em que só o que conta é o reflexo rápido - e não para chutar a bola - não foi a melhor opção.
Jogo para todos os gostos
FIFA 23 se intitula "o jogo de todo mundo" e o esforço para deixar a brincadeira mais inclusiva é digno de nota: ligas femininas e jogadoras que, pela primeira vez, são baseadas em capturas de movimento de jogadoras de verdade, uma comentarista brasileira e muitas opções de acessibilidade são só algumas das novidades bem vindas desta edição derradeira.
Há muitos modos de jogo, desde partidas amistosas padrão até o modo Volta (que ainda não é o FIFA Street, mas diverte com sua mistura saltitante de Air Hockey e poses para o Instagram - ou seria Tiktok?) e o Pro Clubs para quem busca uma experiência mais tática. Tem muitas copas e ligas diferentes para se aventurar e passar muitas horas em busca da taça.
Alguns modos ganharam inovações legais: no modo Carreira, agora há um sistema de personalidade, que rende bônus diferente (se o jogador for mais diligente, mais rebelde ou a alma do time, entre outras opções) e que é afetado por decisões tomadas fora do campo. Não é assim tão legal quanto parece, já que é quase tudo estático, um monte de cliques em menus - quem jogou UFC 3 sabe bem como funciona - e só alguns poucos momentos mais interativos, como uma ou outra coletiva de imprensa. Ainda não é tudo o que poderia ser, mas é um avanço em uma direção mais divertida para a modalidade.
Quem passou por mais mudanças foi o popular FIFA Ultimate Team, com mudanças bem grandes no sistema de Entrosamento, que agora vai no máximo até 33 (e não 100). Não há mais linhas indicando as afinidades entre os atletas do elenco e há mais formas de aprimorar a química do time, dando mais liberdade ao jogador para montar sua equipe dos sonhos. Nessa parte de escalação, o FUT se aproximou de outra paixão dos fãs de futebol, os Fantasy Leagues e isso é bem legal.
Outra adição importante são os Momentos FUT, uma fórmula bem parecida com a dos jogos mais recentes de Madden NFL, mas que também já tinha sido vista em games da série FIFA World Cup: o jogador é colocado em uma situação específica da partida e precisa realizar um objetivo, antes que o tempo acabe. São desafios bem rápidos e ainda assim, muito divertidos - e já me deixam pensando em como a EA vai aplicar isso durante as próximas duas Copas do Mundo (do Qatar agora no fim do ano, e da Australia e Nova Zelândia, em 2023) para introduzir desafios baseados nas partidas que acabaram de acontecer.
Ausências brasileiras
Assim como os jogos anteriores, FIFA 23 tem atletas brasileiros fielmente representados, com craques como Neymar, Vinícius Jr. e outros recriados perfeitamente em seus clubes europeus. O mesmo vale para os ídolos do passado recente, como Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, que podem ser desbloqueados em pacotinhos do Ultimate Team.
Porém, não há atletas oficiais de clubes brasileiros e ao jogar com a Seleção Brasileira, por enquanto, é um desfile de atletas genéricos. Talvez as coisas mudem perto da Copa do Mundo. Talvez não. Também é uma pena que no jogo que melhor inclui as atletas, não há nem sinal das jogadoras reais da Seleção Brasileira.
Considerações
FIFA 23 tem muito conteúdo para entreter os fãs de futebol digital, seja nas partidas online ou nas muitas horas dedicadas ao desenvolvimento de um atleta virtual ou mesmo do time do coração nos modos Carreira, Volta e Pro Clubs. Também tem alguns deslizes, mas em linhas gerais, o último jogo da franquia EA Sports FIFA acerta bem mais do que erra - e mostra que o futebol digital da Electronic Arts tem muito futuro pela frente, mesmo que vestindo uma nova camisa, a do tal EA Sports FC.
Com narração, comentários e menus em português, FIFA 23 chega em 30 de agosto para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X/S.
*Esta análise foi feita no Xbox Series X, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela EA.