Children of the Sun é mais uma ótima adição ao catálogo da Devolver Digital, que mistura um jogo de tiro com quebra-cabeças com uma narrativa recheada de mistérios. O jogador só possui uma bala e deve usá-la para acionar armadilhas e percorrer níveis de complexidade crescente.
A Devolver Digital é uma publicadora com um faro para produções criativas e provocantes, e Children of the Sun, novo projeto de René Rother, não foge à regra: o que parece um jogo de tiro sinistro é na verdade um quebra-cabeças desafiador, embalado em uma narrativa e apresentação gráfica dignas das melhores histórias em quadrinhos do saudoso selo Vertigo.
No game, a protagonista conhecida apenas como a Garota entra em guerra contra um grupo de fanáticos, o Culto. Seu objetivo é abater todos os cultistas e capangas até chegar ao seu verdadeiro alvo, o Líder. Pelo caminho, ela desvendará os segredos do grupo e as atrocidades que cometeram em sua cidade natal. É uma trama pesada, que não poupa o jogador dos detalhes violentos.
Cada tiro conta
Até aí, parece um típico shooter sombrio como tantos outros - e nada contra, se fosse apenas isso - mas há um porém: a Garota tem uma única bala em seu rifle para levar sua missão adiante. No controle da bala, o jogador precisa abater os fanáticos, acionar armadilhas, acelerar seu movimento para atravessar armaduras, desviar de obstáculos e percorrer níveis de complexidade crescente. Quando a bala acerta um alvo, o jogador pode guiá-la até o próximo, sucessivamente, até completar a fase.
Cada "quebra-cabeça" tem diferentes soluções e há um sistema de pontuação que recompensa o jogador pela precisão e eficiência, comparando seus resultados com o de outros jogadores ao redor do mundo. O jogo é relativamente curto e mesmo que a história seja sempre a mesma, esses sistemas estimulam o jogador a atravessar novamente as fases, em busca de métodos alternativos e estilosos para abater todos os fanáticos. O que falta, na minha opinião, é um perigo real para a protagonista: se você falha o disparo, o nível recomeça, mas nunca há uma ameaça real para a vida da Garota.
O visual estilizado amplifica a narrativa violenta e sombria de Children of the Sun. Ambientado nos arredores de um fim do mundo no interior do Texas, com uma paleta de cores projetada para dar uma certa surrealidade - que é acompanhada pelo próprio jogo, com objetos que voam e permitem que a Garota alcance melhores posições para seu disparo. Enquanto a paisagem é apagada, os elementos ligados ao culto tem cores fortes, criando assim as rotas na percepção da protagonista... e do jogador. É uma pena que a trilha sonora não seja melhor utilizada nessa mesma direção.
Como disse no começo, a ambientação me remeteu às histórias em quadrinhos adultas do selo Vertigo, como Escalpo ou 100 Balas. O enredo é repleto de mistério e desvendar os segredos do Culto é tão envolvente quanto solucionar os puzzles que levam até a vingança da Garota contra o Líder.
Considerações
Children of the Sun é mais uma ótima adição ao catálogo da Devolver Digital, que mostra como é possível ser criativo mesmo trabalhando com um tema clichê. Seus puzzles são desafiadores na medida certa e o conjunto todo é memorável - ao ponto de me deixar querendo mais quando a campanha chega ao fim, o que acontece em poucas horas, infelizmente.
Children of the Sun está disponível para PC.
*Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Devolver Digital.