Cyberpunk 2077 foi um dos lançamentos mais conturbados na história recente dos games. Promessas quebradas, bugs, versões de consoles injogáveis e muitos outros problemas acabaram manchando o nome do jogo e, consequentemente, do estúdio CD Projekt RED. No entanto, com as atualizações constantes e, agora, a expansão Phantom Liberty, o estúdio polonês trilha pelo caminho da redenção.
Uma história trágica de espionagem
Phantom Liberty se passa no meio da história principal de Cyberpunk 2077, entre o primeiro e o segundo ato do jogo. V, infectado com o Relic de Johnny Silverhand, é contactado por uma netrunner misteriosa, que promete entregar uma forma definitiva de salvar a vida do mercenário. Mas para isso, V precisa ir até Dogtown, uma região isolada de Night City controlada pela milícia BARGHEST.
Ao chegar nos portões de Dogtown, a netrunner se revela como Songbird, uma agente das forças especiais dos Novos Estados Unidos da América, e recruta V para uma missão de resgate: o avião presidencial está sendo atacado pelo líder da BARGHEST, Kurt Hansen, que pretende sequestrar a presidente para fins pessoais e lucrativos. Em troca, Songbird promete a V uma forma de retirar Johnny Silverhand de sua cabeça de uma vez por todas.
Após lutar contra as forças de Hansen e resgatar a presidente, V acaba entrando em um jogo político secreto. Após fazer um juramento, ele é escalado para se encontrar com Solomon Reed, um agente dormente do governo interpretado por Idris Elba, e juntos embarcam em uma luta para garantir os segredos mais obscuros do governo.
A história da expansão é brilhante, com uma narrativa engajante e tão misteriosa quanto histórias de espionagem. Nem tudo é como parece, pois o jogo revela os eventos de uma forma maravilhosa, onde o jogador, acompanhado dos personagens, acaba desenrolando uma teia de segredos e intrigas. Nenhum personagem da expansão é santo, e o jogo faz um belo trabalho em explicar os motivos por trás das escolhas de cada um.
O mundo de Cyberpunk é um mundo trágico. Como o próprio Johnny Silverhand diz, “não existem finais felizes em Night City”, mas isso nem sempre significa algo ruim. Os acontecimentos do DLC podem não seguir um dos finais da campanha principal, mas isso não o impede de entregar uma reflexão sobre o mundo vazio e materialista do jogo e mostrar como nós, humanos, estamos caminhando rumo ao mesmo buraco.
Bem-vindo à Dogtown
Todos os personagens envolvidos na expansão são carismáticos e envolventes. Solomon Reed tem um passado trágico, e a atuação de Idris Elba é fenomenal em entregar realismo. Songbird também brilha como uma das personagens mais importantes de Cyberpunk, principalmente pela forma como ela se envolve com os problemas pessoais de V. E, apesar de ser apenas uma região, Dogtown serve como um personagem vivo dentro dessa nova trama.
A região de Dogtown tem uma identidade visual única, totalmente diferente das outras partes de Night City. Por existir fora da jurisdição da cidade, ela é totalmente controlada por um estado miliciano liderada por Kurt Hansen, um ex-comandante que encontrou a oportunidade de se apropriar da região após os acontecimentos na guerra unificadora.
A região é totalmente abandonada, já que Hensen oferece apenas segurança, e não infraestrutura. As moradias estão largadas em morros nos cantos de Dogtown, o centro comercial é um local para uso de drogas e braindances, e as poucas opções de lazer se resumem em quadras de basquete abandonadas e baladas onde apenas os mais ricos têm acesso. Dogtown é uma área relativamente pequena em comparação com as outras áreas de Night City, mas é bastante densa.
A maravilhosa atualização 2.0
A atualização 2.0 é responsável por mudar muitos aspectos da jogabilidade de Cyberpunk e entregar aquilo que foi prometido para o lançamento original. É realmente incrível o que a CD Projekt RED fez com o jogo, incluindo as mudanças no combate e a aplicação da nova árvore de habilidades.
Uma das maiores reclamações no lançamento original era que Cyberpunk 2077 não era o RPG que haviam prometido. A árvore de habilidades original era básica, o jogo não oferecia muitas escolhas, o combate era simples e não existiam motivos para tentar diferentes builds em diferentes jogatinas.
Mas, para a alegria de muitos, a maioria dessas reclamações foi ouvida, e a atualização 2.0 traz várias novas formas de jogar. A árvore de habilidades é um pouco menor, mas oferece novas maneiras de criar o personagem da forma que quiser, com mais ênfase no roleplaying e no combate.
Você quer ser uma máquina de guerra, equipado da cabeça aos pés com cibernéticas poderosas? Fique a vontade! Quer equipar partes que auxiliam no movimento stealth? Bom aproveito! Porém, é necessário tomar cuidado com o limite do seu corpo, pois excedê-lo pode causar “ataques de ciberpsicose”, em que seu personagem acaba entrando em um estado de frenesi, igual ao de David Martinez no anime 'Mercenários', da Netflix.
As vestimentas também sofreram alterações vitais. Agora, a maioria das roupas existe apenas para mudar o visual de V, com exceção de alguns equipamentos militares como coletes e balaclavas que mudam pequenos atributos do personagem. Para conseguir mais armadura, é necessário equipar cibernéticas que modificam o corpo do personagem, desde a textura da pele até o material de seus ossos.
A atualização também traz um novo combate veicular. Agora, é possível atirar em qualquer pessoa de dentro do seu veículo e participar de perseguições aleatórias. Além disso, é possível encontrar caminhões equipados com poderosas armas militares, que podem usadas a qualquer momento contra civis e policiais.
A polícia recebeu diversas melhorias, principalmente na inteligência artificial. Agora, ao realizar atos criminosos em Night City, a polícia vai te perseguir, atirar e utilizar toda a brutalidade de seu arsenal. Conforme o tempo passa e você for criando mais caos na cidade, a poderosa MAXTAC poderá ser invocada, provocando um desafio a mais para o jogador que só quer sair atirando por aí.
Considerações
Cyberpunk 2077: Phantom Liberty é fenomenal. A expansão traz uma nova trama trágica para a vida de V e entrega uma experiência de tirar o fôlego. Os personagens são incríveis, Dogtown é uma ótima adição para Night City, e as reviravoltas do jogo formam uma das melhores narrativas que já presenciei.
Além disso, a atualização 2.0 faz um ótimo trabalho em revitalizar Cyberpunk 2077, finalmente entregando um produto de qualidade e próximo à visão original anunciada há mais de 10 anos. Esta é, sem sombra de dúvidas, a melhor hora para visitar a futurística cidade de Night City.
Cyberpunk 2077: Phantom Liberty está disponível para PC, PS5 e Xbox Series X/S.
*Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela CD Projekt RED