Se você é fã de alguma franquia de RPG japonês, não tenha dúvida, as mecânicas e design que te fisgaram provavelmente foram inspiradas em algum Dragon Quest. Persona, Pokémon, Final Fantasy e muitas outras estão entre os “filhos” da saga de Yuji Horii que conta com inúmeros capítulos e spin-offs. Dragon Quest III, em especial, é um dos mais influentes, dado o tamanho do sucesso que fez no Japão em 1988 e como introduziu tantos dos clichês que gostamos nos nossos RPGs.
No entanto, toda essa história é meio esquecida e reservada aos mais velhos, já que Dragon Quest não pegou tanto no ocidente e seus jogos mais recentes não fazem tanto barulho quanto no passado. Visando popularizar mais os seus clássicos, a Square Enix está lançando Dragon Quest III HD-2D Remake, com gráficos modernizados e novidades de montão para cativar um novo público. Nós jogamos e ficamos impressionados!
Gráficos revigorados
O primeiro detalhe legal deste remake está no visual. O nome HD-2D não é à toa, é a técnica que a Square Enix vem utilizando em algumas de suas franquias e remakes, a mais famosa delas, até o momento, Octopath Traveller. Essa estética usa sprites 2D em ambientes 3D, o que combina muito com os jogos clássicos por trazer uma pixel art mais moderna e trabalhada e dar mais detalhes aos ambientes, que ficam cheios de efeitos especiais e com muita personalidade.
Mesmo sendo comum entre vários jogos recentes, essa técnica permite muita personalização dos estúdios, o que dá a Dragon Quest aqui a possibilidade de ser bem fiel ao seu estilo original. As artes de Akira Toriyama - sim, o criador de Dragon Ball é quem desenhava as artes da franquia - brilham aqui, principalmente nos monstros, que são muito bem animados.
O mais deslumbrante, na minha opinião, é a iluminação, que consegue uns contrastes de cores belíssimos quanto o jogo está em uma caverna ou precisamos explorar de noite. O nosso protagonista carrega uma lanterna que ilumina de forma dinâmica as paredes e objetos, dando uma imersão legal na aventura. Nas vilas, luzes naturais e mágicas dançam e formam paisagens belíssimas, especialmente quando também há água envolvida. Para quem jogou o original, ver vilas como Jinpang ou cidades como Aliahan tão belas é emocionante.
A trilha sonora continua sendo um ponto altíssimo, especialmente com a versão orquestrada moderna presente aqui. O hino inicial, as músicas de batalha e ao entrar em uma dungeon, todas continuam memoráveis e emocionantes. Não existe Dragon Quest com trilha sonora ruim e este não é exceção.
Aventura em estado puro
Para mim Dragon Quest sempre foi aventura em seu estado puro. Nosso protagonista é uma auto-inserção em um mundo mágico e cheio de segredos para desvendar. Este mundo está ameaçado por um vilão, o Archfiend, e precisamos nos transformar no herói que irá derrotá-lo. A premissa é simples, mas a jornada é o que importa. Personagens cativantes, muito o que ver e aventuras infinitas estão presentes em cada jogo, o que não é diferente em Dragon Quest III.
O que difere esse jogo em específico dos restantes, é que ele é um dos únicos que conta com uma história interligada com os antecessores, já que os três primeiros capítulos da franquia são uma trilogia. Mas calma, você não precisa terminar os outros para começar este, uma vez que o terceiro é uma prequel. Esse é o motivo da Square ter optado por começar aqui e só lançar os remakes do primeiro e segundo jogos em 2025.
Nosso protagonista é filho de um herói do passado, Ortega, que, em busca do Archfiend, sumiu e nunca mais foi visto. Ao completar idade suficiente para se aventurar, é nossa vez de buscar não só o demônio que ameaça o mundo, como também informações sobre o paradeiro do nosso pai.
Após receber o chamado para a aventura, é por nossa conta explorar o mundo massivo de Dragon Quest, que conta com dezenas de cidades, dungeons e locais secretos para explorar. Uma das grandes novidades aqui é que agora há um marcador de quests, que indica o que fazer para avançar na história e onde ir. No original isso não existia e boa parte do tempo dedicado ao jogo estava em ficar desvendando o que fazer, indo de cidade em cidade e conversando com as pessoas. Dá para desativar o marcador no menu, mas achei a novidade muito bem vinda.
Para te acompanhar é possível levar companheiros, mas nessa época ainda não tinhamos o foco atual nas histórias deles, então eles são mais guerreiros que você controla do que qualquer outra coisa. O grande barato é escolher a classe deles, que vai das tradicionais guerreiro, ladrão e mago até as mais exóticas como mercador e palhaço. Cada classe conta com diversas habilidades únicas, inclusive para serem utilizadas em campo, como passos leves que evitam batalha. Com o tempo, você pode resetar a classe destes personagens e eles aprendem uma nova, mantendo parte dos atributos que tinham conseguido e todas as habilidades aprendidas, o que permite customização infinita de combate.
Novidades de montão
Há muitas novidades e melhorias de qualidade de vida aqui. Salvamento automático é a primeira que já ajuda muito nos dias atuais, especialmente se você vai jogar em um portátil como o Steam Deck. Agora não é preciso sempre voltar na cidade para salvar falando com o rei em um castelo. Aliás dá para salvar também com o padre das igrejas, como acontece nos jogos mais recentes da franquia.
Outra novidade bem legal é a introdução da captura de monstros e uma nova classe dedicada totalmente a essa mecânica, o Monster Wrangler. Em dungeons e cidades há monstros que são amigáveis em locais secretos dos mapas. Ao chegar de mansinho perto deles, é possível capturá-los e usá-los depois nas arenas para batalhar com outros treinadores. O Monster Wrangler aprende técnicas novas ao capturar mais monstros e facilita a aproximação destes monstrinhos pelo mapa.
E há diversas outras, como poder teletransportar de dentro das dungeons, acelerar as batalhas, novos monstros, mais lore com as historinhas de Ortega que são narradas em cutscenes bem legais, itens para coletar no mundo aberto e mais que você só vai descobrir ao jogar.
A parte chata é que os menus continuam ultrapassados e pouco amigáveis de navegar. Há uma resistência grande na Square para mudar os menus de Dragon Quest e mesmo os mais modernos contam com essa dinâmica travada de ficar clicando em abas e mais abas para acessar o que você quer. Vender itens é uma tristeza, uma vez que não dá para selecionar mais de um deles e as abas são sempre chatas de navegar. Que o próximo título da franquia principal seja corajoso para mudar essa parte.
Considerações
Dragon Quest III HD-2D Remake é essencial para fãs de RPGs japoneses. É um clássico influente que agora pode ser jogado com melhorias gráficas e de jogabilidade muito bem pensadas. As novidades não tiram a essência da saga e veteranos e novatos vão ficar felizes com a aventura, que apesar de super acessível, se mantém divertida e emocionante como décadas atrás.
O lançamento de Dragon Quest III HD-2D Remake ocorrerá em 14 de novembro para PC, PlaySation 5, Switch e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Square Enix.