Eu estou sentada em uma cadeira temática de Cyberpunk 2077 há mais de dez mil quilômetros do Brasil - mais especificamente, em uma sala fechada para testes na CD Red Projekt, em Varsóvia, onde um computador potente me espera com 50 minutos de jogatina de Phantom Liberty, aguardada adição do jogo futurista… e também a DLC mais cara feita pela desenvolvedora de The Witcher.
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Não é à toa - afinal de contas, Idris Elba (o Bloodsport de O Esquadrão Suicida) é o astro principal desta expansão e eu duvido que o cachê de mais uma estrela de Holywood tenha um valor meramente simbólico. Ansiosa para ver o ator ao lado de Keanu Reeves, me posiciono e logo começo a jogar. Hora de voltar para Night City!
Como o tempo é curto, preciso ir direto pela missão principal para ver Idris em ação - quer dizer, Solomon Reed, um agente aposentado que atualmente vive de bicos como segurança em casas noturnas.
A missão é dividida em duas partes para evitar spoilers e para contextualização: Devo salvar Meyers, a presidente dos Novos Estados Unidos das Américas, mas como sempre, existem muitas peças além daquelas que consigo enxergar em um tabuleiro destroçado pelos inúmeros confrontos em Night City e não sei bem em quem confiar.
Aliás, a região na qual me encontro é diferente do que me acostumei em Cyberpunk 2077: estamos em Dogtown, outra parte da cidade no qual as regras são outras e somente os esquecidos têm vez.
Inspiração nas favelas sul-americanas
“Dogtown é tecnicamente uma parte de Night City, em particular uma parte de Pacifica, mas em termos de identidade física e legislação, é separada da cidade principal”, diz Wiktoria Stachowska, artista de ambiente sênior e coordenadora da equipe da cidade, em entrevista.
“E esta parte da cidade é bem guardada. Portanto, o cidadão médio não pode entrar facilmente em Dogtown, a menos que esteja envolvido em algum negócio obscuro e seja forçado a fazê-lo. E ao pensar em Dogtown desde o início, queríamos criar algo novo e fresco, mas algo que ainda se encaixasse no gênero cyberpunk”.
Me encontro entre diversos escombros neste novo local da cidade, que não está nada deserto, mas possui muitos elementos que passam um ar de destruição um tanto familiar. Conversando mais com a artista, Wiktoria me revelou que um distrito específico da expansão, chamado Longshore Stacks, tem inspiração direta de favelas sul-americanas justamente por essa sensação de abandono.
“Reunimos muitas referências da arquitetura da América do Sul, das cidades, como as pessoas construíam suas casas em circunstâncias nas quais não poderiam ir para casas de construção, construir coisas normalmente e fazer uma casa ou comprar um terreno como legalmente você pode fazer", explica a artista de Cyberpunk 2077. "Mas se você for colocado em condições como Dogtown, não há muitas leis, mercados e coisas do tipo. Todos ainda precisam se adaptar e criar seus lares, suas próprias casas lá”.
Dogtown é do Brasil? Levei a pergunta para Wictoria, que respondeu: “Bem, nós temos muito material de lá, estávamos levando em consideração duas coisas principais e uma delas foram as favelas: pessoas que estavam construindo casas do que puderam encontrar e não são grandes edifícios de vários andares, mas apenas algo que eles poderiam construir por conta própria".
"Também estudamos esses edifícios que deveriam ser arranha-céus mas que viraram apenas canteiros de obras inacabados. Por exemplo, em Caracas, há um prédio incompleto de vários andares e nós estávamos observando como as pessoas vivem lá. O que eles têm lá, como eles vivem, como fazem para ter tudo o que precisam para viver. E você também tem isso no Brasil. Fomos inspirados por coisas assim”.
Wiktoria se referia à Torre de David, a favela vertical de 45 andares da capital venezuelana que possui descrição similar a de um hotel de luxo: vista para as montanhas, localização privilegiada no centro de Caracas e heliporto. A construção foi abandonada em 1994 e o edifício inacabado foi invadido em 2007, atualmente abrigando cerca de 3 mil pessoas.
Voltando ao jogo em Dogtown - no qual tudo realmente parece uma grande obra inacabada de verdadeiros projetos luxuosos jogados às traças -, entro em um combate e já me lembro como Cyberpunk 2077 sempre teve um molejo e fluidez na jogabilidade que me pegou logo de primeira. Quase nem percebo que os desenvolvedores trouxeram uma nova árvore de habilidades para a jogatina.
Renovação total
Já em um papo com Paweł Sasko, diretor que supervisiona os departamentos de missões, mundo aberto e cinemática na expansão Phantom Liberty, questionei sobre as novas implementações na DLC, e ele explicou como as habilidades agora são realmente significativas, impactando o jogo: “Não ficamos felizes com o fato de que as vantagens anteriores, pareciam quase cosméticas, você realmente não se sentia muito mais poderoso quando evoluía os perks. O que está conectado com a nova árvore de habilidades é o fato de que agora em Phantom Liberty você, como jogador, também desbloqueia a árvore de habilidades Relic. Ao longo dessa skill tree, você pode interagir de maneira única com seu cyberware”.
Paweł inclusive me falou sobre como eles refizeram completamente o sistema de personalização do corpo de V - durante a entrevista, o diretor explicou como agora meu personagem pode não só ter um lançador de foguetes no braço, mas quando eu o atualizar, poderei disparar vários foguetes ao mesmo tempo: “É completamente diferente do que era no jogo base. Removemos a armadura das roupas e agora a armadura é fornecida apenas por cyberware", ou seja você pode ter o visual que quiser sem se preocupar com penalidades nos atributos.
"Temos uma nova vantagem chamada Edge Runner, realmente fazendo com o jogador possa ter muito mais cyberware a ponto de estar quase atingindo o limite de sua capacidade”, revelou Pawel. Nesse ponto, ao exagerar, você começa a receber penalidades negativas, como por exemplo perder saúde e assim por diante. De acordo com o diretor, as vantagens foram refeitas, muito mais com base em estatísticas, e agora existem habilidades adequadas para ações bem diferentes ao longo da expansão.
O diretor também explicou que há muitas outras vantagens que você pode utilizar, e o interessante nessa árvore de habilidades é como atualizá-la - não é apenas ganhando experiência, mas também simplesmente explorando Dogtown e encontrando coisas que não estão marcadas no minimapa.
"Como jogador, você realmente tem que entrar, procurar e realmente explorar - não Night City, mas Dogtown especificamente, onde estão as maneiras de atualizar essa árvore de habilidades", apontou Pawel. Fora isso, há muitas outras mudanças, como o sistema de loot que foi todo refeito. O nível de dificuldade também é diferente: o modo de história agora realmente parece fácil, mas quando você muda o nível para ‘muito difícil’, é realmente um desafio adequado.
Procurada pela polícia
Quando questionei sobre qual nova adição de Phantom Liberty era a queridinha de Sasko, ele prontamente citou o novo sistema policial, refeito do zero: “Construímos de uma maneira que, como jogador, você possa experimentar o sistema policial de maneira ligeiramente diferente em Night City do que em Dogtown, porque a área é administrado por uma organização que é financiada por Kurt Hansen. E quando você comete alguma transgressão e crime em Dogtown, na verdade os capangas de Kurt são os caras que vão persegui-lo. Se você for para Night City, seus perseguidores serão policiais; agora em uma perseguição você ganha basicamente calor, ganhando mais estrelas como procurado e assim por diante”.
Diferentes unidades que serão lançadas para capturá-lo no game - alguns com motocicletas e veículos mais leves, por exemplo. Em certo ponto, quando você já está sendo procurado (nível 3 ou acima), um carro enorme no estilo Emperor chegará com um esquadrão de andróides da NCPD.
A partir do nível de calor 4, a inteligência artificial do jogo colocará as perseguições em outro patamar, com sensor de localização e forças mais abruptas e, a partir do nível 5, tanto em Dogtown quanto em Night City, você terá literalmente a unidade de resposta mais forte ao seu encalço - uma nave chegará lançando granadas de fumaça para, logo em seguida, soltar seus integrantes altamente aprimorados com força total. Não se preocupe: eles podem ser combatidos, mas o esforço será como o de uma luta dinâmica de chefão.
“Eles não são invulneráveis, não são imortais. Você pode, na verdade, matá-los, mas haverá mais deles respondendo no momento em que você decidiu como jogador chegar a esse ponto de cinco estrelas como procurado. Eles são inimigos formidáveis e realmente difíceis”, avisa Paweł.
Complementando a renovação do sistema policial, o diretor de missões levantou outro aspecto que combina bem esse tipo de situação: o combate de carros e as perseguições. “Quando você está no carro, agora você também pode lutar". Existem diferentes armas que podem ser usadas. Você pode atirar através do escudo da janela frontal, mas também pode atirar pelas laterais. Por exemplo, o Aerondight do jogo base (um carro realmente luxuoso): você pode atirar através das portas abertas.
Você também pode obter veículos armados, ter lançadores de foguetes dentro desses veículos, quando estiver tentando escapar da polícia ou de quem quer que esteja te perseguindo. "A nova IA expandida nos permite fazer simplesmente todas as perseguições e novas estratégias simples como dirigir mais rápido e à sua frente para tentar pará-lo ou fazê-lo bater, prendê-lo na parede.”
Idris Elba em Cyberpunk 2077
Desde as brigas entre facções, que serão ainda movidas por esta nova expansão da inteligência artificial, até perseguições a toda velocidade, foi possível ver o quanto a cidade de Cyberpunk 2077 está realmente mais viva do que nunca. Ainda assim, vergonhosamente admito que não virei uma perseguida por ninguém - estava sendo uma boa moça porque meu objetivo era claro: ver Idris Elba no jogo.
No final, por conta da minha curiosidade em explorar alguns cantos e por conta de um crash no teste (sejamos honestos, essas situações são bem comuns em hands-on antecipados, e não foi algo que realmente estragou a experiência geral), não consegui vê-lo no meu monitor, mas pude ver o rosto do ator perfeitamente transformado em pixels na enorme TV de um colega jornalista que estava jogando Phantom Liberty em um console.
Em uma figura muito mais ajustada e bem transportada ao mundo de Cyberpunk 2077 até mesmo em comparação com Johnny Silverhand, Solomon Reed falava sobre a missão com uma voz calma e grossa em um carro atravessando partes destruídas de Dogtown.
Enquanto eu já ia imaginando as possibilidades de jogar tendo Idris Elba de um lado e Keanu Reeves do outro, o time da CD Projekt RED já alertava que nossos cinquenta minutos tinham acabado. O tempo realmente corre enquanto nos divertimos, não é?
Em uma última pergunta para o diretor, questionei como foi trabalhar ao lado dessas duas estrelas? Bem, não teria como existir uma outra resposta além de ‘maravilhoso!’, teria?
“Ao trabalhar com Keanu Reeves, primeiro tínhamos uma história que queríamos contar e depois procuramos um ator que pudéssemos usar. E bem no início do processo, tivemos uma ideia: ‘OK, talvez devêssemos entrar em contato com Keanu Reeves porque ele interpretou os papéis de Johnny Wick, Neo em Matrix…’. Então, de certa forma, foi uma escolha óbvia para nós. E claro, foi ótimo porque ele gostou de estar conosco e é por isso que ele está voltando em Phantom Liberty como Johnny Silverhand novamente”, me contou Pawel energeticamente.
“Mas quando estávamos trabalhando em uma história para Phantom Liberty, foi um pouco diferente porque já estávamos desde o início procurando por um ator que pudesse fazer o papel de Solomon Reed, e a história ainda não tinha sido formulada, tínhamos apenas um esboço. Naquela época surgiu a ideia - Idris Elba é um ótimo ator para fazer isso! E ele concordou em trabalhar conosco", disse o diretor. "Então, quando estávamos projetando a história, já sabíamos para quem estávamos escrevendo e é uma maneira completamente diferente, porque você pode escrever um roteiro e escalar um ator, ou pode ter um ator e escrever uma história para ele - e é assim que seguimos quando se trata de Phantom Liberty".
Para Pawel, isso fez com que o processo fosse um pouco diferente nos caso de Idris e Keanu. "Estou muito agradecido porque eles são atores muito ocupados, estão filmando tantas coisas diferentes constantemente, então o fato de conseguirem encontrar o tempo na agenda deles, a gente teve que se adaptar e eles tiveram que se adaptar, nos encontramos em algum lugar nesse meio para poder gravar tudo que a gente precisava para o jogo e realmente dar o melhor e conseguimos fazer tudo muito bem”.
Cyberpunk 2077: Phantom Liberty chega ainda em 26 de setembro de 2023 para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X/S.
*A jornalista viajou para Varsóvia à convite da CD Projekt RED. O teste de Cyberpunk 2077: Phantom Liberty, foi feito em um PC de última geração.