Mouthwashing é apenas o segundo jogo do estúdio Wrong Organ, um grupo de suecos que prova que é possível fazer muito com pouco no gênero de terror. Sem muitos recursos para os visuais ou elementos complexos de gameplay, o foco aqui é a narrativa.
O cast de Mouthwashing é bem enxuto, conta com cinco personagens que trabalham na Tulpar, uma nave transportadora de uma grande corporação espacial chamada Pony Express. Cada um deles tem uma personalidade bem diferente e são aprofundados durante a história de maneira bem interessante.
O acontecimento que dispara os eventos do jogo é um acidente com um asteroide logo nos primeiros minutos de jogo. No controle do capitão, Curly, vemos que a nave foi jogada no corpo celeste de forma proposital e agora a tripulação precisa sobreviver nos meses seguintes enquanto o socorro não vem. O cenário é de desolação e pouca esperança, com todos tremendo a falta de comida e o encontro com a morte no vácuo espacial.
Curly é o grande mistério da aventura. Após o acidente ele fica com o corpo totalmente acabado e passa a maior parte da narrativa deitado na enfermaria. Sem alguns membros e todo enfaixado, resta apenas o seu olho pavoroso para interagir com o jogador. Alimentá-lo é um dos momentos mais tensos da jogatina.
A narrativa aqui não é linear e vai e volta no tempo a todo o momento. Hora estamos controlando Curly no passado, vendo o derretimento do seu mental ao lidar com o marasmo do cotidiano, hora estamos no presente tentando consertar a nave e desvendar o motivo do capitão ter jogado a Tulpar para o desastre. O ritmo não sofre por isso e a trama se desenrola de forma bem natural. Como ela é bem curtinha, dá para terminar tudo em menos de três horas, não há barrigas ou tempo perdido, sempre tem algo andando com a história.
A história dos personagens é legal e a interação entre eles é bem construída. É possível falar com eles após cada acontecimento e ver a opinião sobre o que rolou ou os próximos passos. Isso cria uma conexão legal com todos, seja de empatia ou profunda desconfiança, como com o mecânico ranzinza Swansea.
O sexto personagem da aventura é a própria corporação que rege tudo. O tema por trás é, mais uma vez, o capitalismo e como as pessoas são moídas em trabalhos que não as satisfazem, dedicando suas vidas para algo que as deixam infelizes e pobres. O mascote da Pony, um cavalinho com cara de desenho dos anos 50, é até parte das sequências mais sombrias de delírio da tripulação, mas não chega a aterrorizar e acho que não conseguiu causar a tensão que planejaram para ele.
Os puzzles de Mouthwashing são seu ponto mais baixo. É preciso criar um bolo, abrir uma porta aqui e ali, mas tudo é bem simplista e bobo, sem algum fator de engajamento como a aventura em si. Esse é um dos grandes destaques do gênero e senti que era o que poderia ter feito o todo excepcional. Explorar a nave é legal em termos de ambientação especialmente com o bom design de som do jogo, mas também não gera momentos marcantes ou descobertas muito inesperadas. Esses pontos de gameplay são algo que a Wrong Organ definitivamente pode investir mais no futuro.
Considerações
Moutwashing é um jogo de aventura e terror que conta com personagens cativantes, um mistério envolvente e uma ambientação acima da média. O gameplay pode receber mais polimento nos próximos títulos, mas não chega a comprometer a jornada cheia de suspense. Curtinho, pode ser aproveitado por todos os tipos de jogadores.
Mouthwashing está disponível para PC.
Esta análise foi feita com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Critical Reflex.
